Ventos de Havana, artigo de Daniel Clemente
[EcoDebate] Ao discursar sobre a retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba após 53 anos de hostilidades, o presidente Barack Obama disse que “o acordo iniciará um novo capítulo entre as nações das Américas, e deixará para trás uma politica rígida que é enraizada em eventos que aconteceram muito antes de muitos de nós termos nascido.” Porém, os protagonistas principais, Fidel Castro e seu irmão Raul Castro, são testemunhas temporais do acontecimento que trouxe a Guerra Fria para o continente e colocou a América Latina no mapa geopolítico do século XX. A Revolução Cubana em 1959 fez emergir dos sonhos mais profundos a possibilidade de uma mudança social em relação ao capital aplicado nas bases econômicas dos Estados Nacionais.
A última década foi testemunha e palco a ascensão de políticos progressistas que alcançaram os mais altos cargos representativos dos países americanos, e grande parte com afinidades com a ilha caribenha. Causas e consequências estão a dezenas, Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Hugo Chaves na Venezuela, Rafael Correa no Equador, José Pepe Mujica no Uruguai, Daniel Ortega na Nicarágua, os Kirchners na Argentina, Evo Morales na Bolívia, entre outras representações.
A manutenção do embargo econômico, medida adotada nos tempos da Guerra Fria que tinha como objetivo sufocar a economia cubana, soa nos tempos atuais como antiquada, transformando-se em um objeto de projeção do “antiamericanismo” difundido na politica regional. A CELAC – Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos – é uma das respostas politicas da atualidade, onde EUA e Canadá não participam, uma contrapartida a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas – proposta estadunidense na década de 1990 para a abertura das fronteiras comerciais entre todos os países do continente americano, sem a presença de Cuba, que vivenciava sua pior crise econômica.
Também, o atual protagonismo russo redefinindo fronteiras na Europa e sua aproximação com os cubanos, relembrando os laços políticos econômicos e militares patrocinado pela URSS, incomoda os EUA e o faz relembrar episódios extremos como a Crise dos Mísseis em 1962 que levou o mundo a beira da terceira guerra mundial, as investidas militares cubanas na África, a inspiração politica de havana as centenas de jovens latino-americanos a ver o estudo, o trabalho e o fuzil como perspectiva de transformação politica, fazendo com que os americanos financiassem as ditaduras militares que se espalharam pelo continente, sufocando as frágeis democracias nacionais.
Condenado pela ONU, o embargo econômico americano persistiu mesmo com o fim da URSS em 1991, isolada do continente, Cuba dependia essencialmente das relações comerciais com a União Soviética, que após o colapso levou a bancarrota a economia cubana, fazendo com que seu PIB despencasse 85% da noite para o dia. Denominado como “Periodo Especial”, foi a maior catástrofe social da história da Revolução, ocasionando a “Crise dos Balseros” Sufocados economicamente e impulsionados pela lei de imigração dos EUA que concede somente aos cubanos o direito imediato de residir no país caso saia de Cuba como dissidente e de forma ilegal, milhares se jogaram ao mar com bóias e embarcações improvisadas para cruzar os 140 km de mar que separam os dois países.
No tabuleiro geopolítico do século XXI ainda existem peças de uma partida passada, não encerrada, que insiste ser jogada, uma partida não acabada, não anulada, mas que neste momento parece que mais importante que vencer é não correr o risco de perder. As peças estão se movendo, porém não é o fim do jogo e nem o inicio de uma nova partida.
Daniel Clemente
Professor de História e Sociologia
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduando PUC-SP
Publicado no Portal EcoDebate, 18/12/2014
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É… Mas seria ótimo se Cuba não fosse uma ditadura, que não conduzisse um projeto autoritário e cleptocrático na América Latina através do Foro de Sao Paulo e, não fosse uma manobra do Obama em enquadrar os republicanos já que perdeu o controle do Congresso…
Um pena mesmo a democracia ter tão pouco valor quando o projeto de se criar a tal “Patria Grande” custa tão caro aos brasileiros (literalmente), venezuelanos, argentinos, equatorianos…
Fazer não será fácil, mas devemos tentar.
Tendo em vista a atual e crescente degradação socioambiental do planeta Terra, a qual nos coloca diante da perspectiva de, em breve espaço de tempo, sofrermos um colapso de proporções inimagináveis, e diante da possibilidade de as grandes lideranças planetárias promoverem a ordenação social, política e econômica de todo o planeta Terra, através da dissolução de todos os Estados-nações atualmente existentes, e da composição de um único governo socialista planetário, proponho que envidemos esforços para que essa possibilidade de ordenação seja logo transformada em projeto e que este seja abraçado pelas mentes mais evoluídas da Terra, onde se encontram intelectuais, cientistas e líderes políticos, econômicos e religiosos que estejam interessados em manter a vida aqui, no nosso grande habitat, e a criar as melhores condições ambientais para a vida se realizar.
Fazer não será fácil, mas é melhor tentar do que simplesmente se render às grandes forças destruidoras que, movidas pelo interesse da acumulação de bens materiais, nos conduzem, a todos nós, seres que aqui ainda vivemos, ao grande extermínio, que poderá ser total.
A revolução de 1959 veio para acabar com os negocios com os EUA, o opressor de Cuba. Agora a redenção surge pela via da retomada dos negocios com os EUA. Este mundo é mesmo muito louco. Seria uma revolução as avessas?