Pesquisas indicam que estilo de vida pode resultar em complicações na saúde de seus descendentes
Não são apenas a cor dos olhos, a textura do cabelo ou o timbre de voz que os filhos herdam dos pais, mas a herança genética também é responsável pela transmissão de diversas doenças e predisposições que podem se manifestar nos integrantes de uma mesma família. Tal herança genética, entretanto, não é necessariamente transmitida pelos genes que seus pais receberam, mas sim o resultado de seus códigos genéticos originais somados ao estilo de vida que tiveram até o nascimento de seus descendentes. Recentes estudos confirmam que hábitos de vida, vícios, experiências acumuladas, tipo de alimentação e até traumas influenciam diretamente na estrutura genética de um indivíduo, ao qual é atribuído o nome de epigenética. (The Scientist: http://www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/39841/title/Epigenetic-Effects-of-Mom-s-Diet/)
Sabe-se que a alergia, por exemplo, é uma doença que pode ser transmitida de pai para filho com extrema facilidade, seja pelo material genético original, ou pelos hábitos de vida que poderão influenciar esta carga genética. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI), se ambos os pais apresentarem um comportamento alérgico, a probabilidade de o filho manifestar quadros alérgicos é de 75%, em especial na relação com a mãe. “No caso de mães fumantes, por exemplo, mesmo que elas não apresentem alergia, pesquisas da epigenética denotam uma íntima relação entre o tabagismo materno e o aumento das alergias respiratórias em seus descendentes”, comenta o médico Marcello Bossois, Coordenador Técnico do Projeto Social Brasil Sem Alergia e membro da empresa canadense de biotecnologia Cell Gene Therapeutics.
Diversos fatores podem desencadear processos alérgicos em pessoas de qualquer idade, entre os quais destacam-se o tabagismo, má alimentação, sedentarismo e o estresse. Descobriu-se, no entanto, que a prática desses comportamentos por parte dos pais, ou até dos avós, não será prejudicial apenas aos próprios, podendo ser responsável também por aspectos negativos na saúde das novas gerações, até mesmo durante o período de gestação. Através dos mecanismos epigenéticos é possível entender, por exemplo, porque muitas exposições no período pré-natal estão intimamente associadas ao desenvolvimento tardio de inúmeras desordens em crianças e adultos – como diferentes tipos de alergias.
Os estudos comprovam porque os casos de alergia crescem ano após ano, demonstrando que determinados fatores ambientais são cruciais na influência do código genético. Só no Brasil, aproximadamente 35% das pessoas sofrem de algum tipo de alergia, percentual que aumenta anualmente. De acordo com o Ministério da Saúde, a obesidade – outro fator muito relacionado aos casos de alergia – também cresceu mais de 50% no país nos últimos anos, perpetuando tal comportamento alérgico no material genético das novas gerações. “Mesmo as pessoas que não apresentam uma hereditariedade com traços de doenças alérgicas poderão sofrer influências em sua estrutura genética, manifestando importantes alergias e transmitindo a seus filhos”, esclarece Dr. Bossois. “Quando um individuo é exposto a determinados fatores, pode ocorrer uma ação que influencia a porção externa do gene, processo tecnicamente chamado de metilação”.
A maioria dos comportamentos alérgicos vem crescendo com o passar dos anos, fazendo aumentar, como consequência, o percentual de alergias, principalmente em grandes centros”. O agravamento e maior exposição à poluição urbana, que também faz aumentar a poeira domiciliar, causa importantes quadros de alergias respiratórias e pode influenciar o material genético de uma boa parte da população que vive exposta a tais poluentes. Os estudos mostram que trata-se de um ciclo vicioso: exposições prejudiciais e maus hábitos de vida não afetam apenas as atuais gerações, mas também as futuras populações que apresentarão diversas desordens nas próximas décadas.
Colaboração de Igor Bahiense, Projeto Social Brasil Sem Alergia, para o EcoDebate, 21/05/2014
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O estudo citado no texto mostra como diferentes níveis de nutrientes (especialmente folato) na dieta das mães (considerando um grupo de mães com desnutrição sazonal) durante a concepção podem modificar a expressão de genes na criança.
O salto para este ser um dos principais fatores na transmissão de alergias entre pais e filhos (me desculpe se esta não era a mensagem do texto, mas foi o que me pareceu) é um tanto grande.
Não me levem a mal, eu concordo com a idéia de que alergias têm um forte fator hereditário. E que comportamentos de risco ambiental (como o fumo passivo, ou o excesso de higiene) podem desencadear alergias também.
Mas duvido muito que fatores epigenéticos sejam os mais importantes em casos de alergias. Acho mais provável que a exposição das próprias crianças a poluentes esteja causando o aumento de alergias.
Parte disso tem relação ao fato de que uma criança nascida nos dias de hoje é apresentada a um número de poluentes muito maior do que uma criança nascida no início do século passado . Afinal, o número de moléculas novas inventadas pela indústria e jogadas no mercado com poucos ou nenhum estudos de exposição crônica a longo prazo mas muita propaganda de “agora com nanotecnologia” é estarrecedor.
Parte tem a ver com o fato de que algumas substâncias viram moda, e passam a ser usadas para quase tudo. No meu caso, por exemplo. Tenho alergia a uma substância chamada eugenol.
No passado, ela era usada quase que apenas em cigarros aromatizados. Isso foi o suficiente para eu ser uma adolescente muito calma (nas duas únicas vezes em que tentei ir numa balada, saí direto para o hospital), e minha alergia era mais forte na adolescência, quando eu ainda não tentava tratá-la, tanto que passei por quatro choques anafiláticos e uma parada cardíaca. Mas a substância era rara, e era fácil evitar os lugares onde ela era usada (lugares com fumantes “moderninhos”, como baladas, Av. Paulista, Liberdade e centro).
A Anvisa proibiu o uso de eugenol nos cigarros (o eugenol torna a membrana celular mais permeável, e assim deixa o cigarro mais viciante). Mas proibiu com um longo prazo de adaptação. Resultado: as empresas de cigarro usando o argumento de que o cigarro naturalmente tinha eugenol para tentar quebrar a poluição, passaram a acrescentar eugenol em todos os cigarros… e a minha vida se tornou um inferno, porque evitar fumantes moderninhos até dá, mas já tentaram evitar TODOS os fumantes? Foram dois anos em que tive que limitar a minha vida a ir do trabalho para casa, vender minha casa (a filha fumante da vizinha passou a morar com ela, e tornou a minha casa inabitável, pois fumo não respeita muro), e ainda assim teve meses (no plural mesmo) em que fui para o hospital dia sim dia não.
Agora que o eugenol está definitivamente proibido nos cigarros, o problema diminuiu quanto ao fumo. Mas as fábricas de eugenol precisavam desovar o produto em algum lugar. Dá-lhe então sabonete com eugenol, aromatizante com eugenol, farinha de trigo com eugenol (para que catzo o eugenol na farinha de trigo não sei, mas)… Produtos que por muito tempo pude usar passaram a me dar alergia. Às vezes as empresas colocam um “nova fórmula” nos rótulos. Muitas vezes é preciso procurar nas letras miúdas. E às vezes, nem isso (eugenol pode ser colocado como “fragância”).
Isso é com uma substância, que eu sigo porque… bem, minha vida depende disso. Mas pode ter certeza que tem muitos outros poluentes químicos que antes eram raros e hoje… bem, essa vida artificial que temos tem um preço, e parte desse preço são alergias muito mais disseminadas.
Eu posso até acreditar que fatores epigenéticos tenham influência nisso, mas duvido que a influência seja grande. Acho que o elefante da Poluição tem muito mais a ver.
Errata:
Onde está
Resultado: as empresas de cigarro usando o argumento de que o cigarro naturalmente tinha eugenol para tentar quebrar a poluição
leia-se
quebrar a proibição
O mais importante é que tanto a explicação da epigenética quanto da exposição aos poluentes ambientais após o nascimento, a humanidade está transformando o planeta inabitável para as muitas espécies vivas. Hoje a responsabilidade de se colocar um filho neste mundo é muito maior do que a cinquenta anos atrás. Antes se pensava em recursos financeiro, qualidade da educação, família equilibrada, hoje além disso tudo é se ele conseguirá sobreviver ao sofrimento da pré extinção da humanidade.
A epigenética tem um potencial científico ainda inimaginável, tanto para a medicina quanto para mudar a perspectiva filosófica da existência da vida.