Com problemas de escassez de água, irrigação por gotejamento é alternativa para cultivar milho na França
As mangueiras dividem os campos em quadrículas situadas a 20 ou 30 centímetros de profundidade. As goteiras ficam a 50 centímetros umas das outras e alimentam constantemente com uma pequena quantidade de água nas raízes. Foto de GUILLAUME SOUVANT/AFP
Por Sandra Laffont, da AFP, no Yahoo Notícias.
Os agricultores do sul da França encontraram na rega por gotejamento a solução para irrigar de forma eficaz seus campos de milho, castigados pela seca.
O sistema de rega gota a gota foi criado em Israel nos anos 1960. Mais tarde foi exportado para a África, especialmente ao Quênia, e há três anos começou a se estender para os campos de milho do sul da França, uma região com problemas de escassez de água.
No sudoeste do país, onde predomina a monocultura deste cereal, havia tensões pelo uso dos recursos naturais, explicou o engenheiro agrônomo Marc Dufumier, autor do livro “50 idées reçues sur l’agriculture et l’alimentation” (50 ideias pré-concebidas sobre a agricultura e a alimentação).
“Estas tensões começaram com as mudanças culturais ocorridas com a chegada, no final dos anos 1980, do milho que precisa de mais água, especialmente em um terreno calcário”, diz Alexis Delaunay, do escritório francês da água.
Alguns agricultores estavam fartos das ordens que limitavam ou proibiam a rega. Joel Herault é um deles e falar com ele de água supõe colocar o dedo em uma ferida ainda aberta.
Apesar da enésima proibição, ele continuou regando suas terras e em 2005 foi condenado a uma multa de 1.000 euros (1.350 dólares). “Caí em depressão, lembra, com amargura.
– Vinte por cento menos de água –
Quase dez anos depois, Herault decidiu dotar de irrigação por gotejamento um terço de seus 120 hectares. O investimento foi importante – pelo menos 4.000 euros por hectare – para melhorar a rentabilidade.
O sistema de rega gota a gota em grandes superfícies de cultivo é discreto, pois fica sob o solo e aparece muito menos do que um jato d’água ou uma instalação de aspersão. Mas a principal vantagem é que gasta muito menos água.
As mangueiras dividem os campos em quadrículas situadas a 20 ou 30 centímetros de profundidade. As goteiras ficam a 50 centímetros umas das outras e alimentam constantemente com uma pequena quantidade de água nas raízes.
O sistema permite economizar 30% de água, pois evita a perda por evaporação ou que se distancie por causa do vento, segundo a empresa israelense Netafim, especialista na questão.
Um instituto de pesquisas ambiental e de agricultura francês, que estuda a rega por gotejamento desde 2008, limita esta economia de água entre 15% e 20%.
Mas os benefícios não se limitam ao uso d’água.
As tubulações também permitem distribuir fertilizantes de forma mais eficaz e o fato de que as parcelas permaneçam secas evita a proliferação de ervas daninhas e fungos, razão pela qual não é preciso adicionar herbicidas ou fungicidas.
Também se economiza em mão-de-obra para regar, explicou Christophe Harel, encarregado da empresa Netafim no noroeste da França.
Os irmãos Thuaud, que têm suas terras no oeste, garantem que graças a esta rega de precisão conseguiram economizar 40% de água e 20% de adubo, o que lhes permitiu aumentar significativamente a rentabilidade de sua produção de milho e o nível de proteínas no trigo.
Apesar destas vantagens, ainda são poucos os agricultores na França que podem assumir os custos de instalação e manutenção deste sistema de irrigação. Apenas 1.000 hectares de milho – do 1,8 milhão cultivado – utilizam gotejamento.
EcoDebate, 21/05/2014
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