No quartel de Abrantes, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] O Brasil de 2014 até 2018 passa por dois pernambucanos que vão influir em nossos rumos. Eduardo Campos tem elogiado Lula, mas o inverso não é verdadeiro: “A Marina eu compreendo porque ela e a Dilma foram minhas ministras e eu acompanhava as divergências das duas, mas o Eduardo eu não entendo”, disse Lula agora em abril.
Se a decisão fosse hoje, o ex-presidente podia dormir tranquilo: dia 14 foi oficializada a chapa com Eduardo a presidente e Marina a vice e, ao contrário do que Lula conseguiu com Dilma, nada indica que o povo que simpatiza com a ex-ministra irá transferir seus votos para o neto de Miguel Arraes. Uma coisa é ser fiel ao governo porque se tem medo de perder os programas sociais – do bolsa família ao minha casa minha vida – outra é tentar captar eleitores de uma líder cujo carisma é pessoal e intransferível.
É verdade que as pesquisas podem mudar, que são apenas um retrato do momento, mas para isso teria de haver um motivo e se observarmos os sentimentos das pessoas podemos notar algumas tendências. Há um lado racional, o desejo de estabilidade, que num país com pleno emprego e estabilidade econômica favorece a reeleição em primeiro turno. O outro lado da moeda, o desejo de mudar, só teria vazão com alguém que inspirasse muita confiança, alguém a quem confiaríamos a chave da nossa casa se fosse preciso. É desse empatia pessoal e intransferível frente à população que estamos falando, o único fator de mudança possível.
Esse sentimento não é meu, tenho ouvido diariamente até de pessoas que não gostam de Marina Silva que a única chance de termos segundo turno é se o Eduardo tiver um gesto de estadista e inverter os papéis, se colocando de vice de sua vice carismática. Um gesto que só os grandes líderes são capazes de fazer, uma renúncia pessoal que se pode esperar apenas de quem tem a grandeza e a inspiração do inesquecível Arraes.
Não é nada confortável a situação de Eduardo, correr o risco de não conseguir levar o projeto que representa para o segundo turno. Mais que isso, ele e seu partido sabem que – depois de haverem crescido sempre em parceria com o lulismo – no momento em que ambicionam o posto máximo, a partir de agora se tornam “inimigos do rei” e que este irá “salgar a terra” onde pisarem.
Por paradoxal que seja os ex-adversários Sarney, Collor, Maluf e Renan estarem todos de bem com o lulismo, enquanto Eduardo estava ao lado de Lula todos esses anos, é sua rebeldia que o tornará o principal alvo do governo, mais até do que Aécio, já que nada indica que os tucanos consigam retornar ao poder.
Ao ambicionar o trono do conterrâneo (ocupado pela criatura fiel ao seu criador), o pernambucano mais jovem está atraindo a ira do antecessor que já avisou que não o entende, como um rebelde sem causa. Sua ousadia, não apoiada ainda pelo povo, pode lhe levar à terra salgada. E tudo segue como dantes no quartel de Abrantes.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 21/04/2014
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