Xangai: gentrificação do distrito de Pudong, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O mundo tinha menos de 5% da população vivendo nas cidades em 1800. Em 2008, a população urbana ultrapassou a população rural (com cerca de 3,5 bilhões cada). Em 2030, serão mais de três quintos da população mundial vivendo nas cidades, sendo que a economia urbana concentra a a maior parte do PIB mundial. As cidades não cresceram apenas em termos de população. Houve também um processo de transformação do espaço urbano com o surgimento de nova dinâmica da organização dos municípios. Em várias cidades do mundo houve crescimento das favelas. Mas, em várias, também houve um processo de renovação urbana e naquelas que ascenderam na escala da riqueza houve um processo de “enobrecimento” de determinadas áreas, ou um processo de “gentrificação”.
O enobrecimento urbano, de acordo com algumas traduções, ou gentrificação, da expressão inglesa gentrification (um neologismo em português) consiste num conjunto de processos de transformação do espaço urbano que ocorre, com ou sem intervenção governamental, nas mais variadas cidades do mundo e diz respeito à retirada de moradias, que pertencem a classes sociais menos favorecidas, de espaços urbanos que subitamente sofrem uma intervenção urbana, favorecendo o crescimento das cidades.
A expressão da língua inglesa gentrification foi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass em 1964, ao analisar as transformações imobiliárias em determinados distritos londrinos. A gentrificação foi um fenômeno inicialmente observado no contexto urbano do mundo anglo-saxão, segundo os estudos mais clássicos – como os textos do geógrafo Neil Smith. Mais recentemente vários estudos acadêmicos consideram que a gentrification tenha se generalizado pelo mundo todo e seja uma das manifestações da globalização (ver Wikipedia). Numa visão mais crítica: “Gentrificação é o processo de encarecimento da vida, que torna regiões inteiras acessíveis para poucos” (Arquitetura da Gentrificação).
Xangai concentra a força econômica da China e o distrito de Pudong é o centro financeiro mais avançado da economia chinesa. O distrito de Pudong é um exemplo perfeito das transformações ocorridas na cidade e na país. Lá funciona o Xangai Transrapid, que é a primeira linha de trem de alta velocidade maglev (Magnetic levitation transport) comercial do mundo. Sua construção iniciou em março de 2001 e começou a operar em 1° de janeiro de 2004. O trem pode atingir uma velocidade de 350 km/h em apenas 2 minutos e uma velocidade máxima de 431 km/h. Faz um trajeto que vai da estação Longyang Road em Pudong até o Aeroporto Internacional de Xangai, em um percurso de aproximadamente 30 km, demorando menos de 8 minutos para fazer o percurso.
Xangai também se destaca no transporte coletivo de milhões de passageiros. No início de 2014, a cidade estabeleceu um novo recorde: passou a ter o primeiro sistema de metrô do mundo com comprimento total superior a 500 quilômetros. Tudo feito em cerca de 20 anos. Já o metrô de São Paulo, maior rede do Brasil, tem 74 quilômetros.
As transformações ocorridas na paisagem urbana de Xangai traduzem as transformações ocorridas na China nas últimas 3 décadas. Os avanços foram impressionantes. Mas existe um lado cinzento. Acompanhando o crescimento econômico houve aumento das desigualdades sociais e grande degradação do meio ambiente. Os desafios para manter o enriquecimento serão cada vez maiores, especialmente no que diz respeito ao controle da emissão de gases de efeito estufa e dos diversos tipos de poluição que tem se tornado um pesadelo para a população e os ecossistemas.
Referência:
The Atlantic. 26 Years of Growth: Shanghai Then and Now, Aug 7, 2013
http://www.theatlantic.com/infocus/2013/08/26-years-of-growth-shanghai-then-and-now/100569/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 12/02/2014
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