Assentados são exemplos na venda de produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
As vaquinhas Crioula e Moeda são como tesouros para o seu Astrô, como é conhecido o agricultor familiar Astrogercilio Pinto de Almeida no Assentamento Pequeno Willian, na região rural de Planaltina, no Distrito Federal. Os animais foram comprados com o dinheiro da venda de produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal, que ajuda a sustentar a família: mulher e seis filhos. “Já deu para comprar as coisas para os filhos, as duas vaquinhas para tomar o leite, tudo melhorou. Antes tinha que ir longe pra comprar 1 litro de leite. Hoje eu tenho e ainda dou para os companheiros”, comemora.
O assentamento onde mora a família foi a segunda parada da visita de uma comitiva internacional à região rural de Planaltina. Representantes de 11 países vieram ao Brasil para conhecer as experiências de produção e distribuição de alimentos e para participar de um seminário em comemoração aos dez anos do PAA.
O assentamento foi fundado em 2010, tem 22 famílias e aguarda a regularização para que cada agricultor tome posse da sua parcela de terra: 5,5 hectares. Além disso, eles também aguardam a construção de estradas, de redes de água e de energia elétrica para construírem suas casas, o que deve acontecer ainda neste semestre, segundo o gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater)/Planaltina, Sebastião Márcio. A produção das áreas comuns de 15 famílias, feita com o abastecimento de água de cisternas, foi vendida para o PAA e resultou em uma renda de R$ 67,5 mil em 2013.
Sebastião conta que a Emater presta assistência técnica para os assentados e também trabalha para estruturar o assentamento. Os agricultores contam também com a parceria da Fundação Banco do Brasil, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Instituto Federal de Brasília (IFB) e da Universidade de Brasília (UnB), que desenvolvem projetos na comunidade. Algumas famílias também recebem benefícios do Programa Bolsa Família e do Programa de Fomento do Plano Brasil sem Miséria.
As 1,5 tonelada de 14 tipos de alimentos produzidas por semana para o PAA foram distribuídas em 25 entidades de assistência social em Sobradinho (DF) e Planaltina (DF), que atendem 2,2 mil pessoas.
“Chegamos aqui em 2010 em cima da braquiária [capim de pastagem que normalmente se forma em terras abandonadas] e fizemos cada um seu barraquinho de lona. Eu vivia na roça trabalhando de empregado e hoje de tudo eu produzo um pouco”, disse seu Astrô, que espera sua vaquinha Crioula dar a primeira cria em março. “Vou virar pecuarista também!”, diverte-se.
Para o gerente da Emater/Planaltina, o PAA é uma política muito interessante de inclusão produtiva, pois coloca renda na mão de quem mais precisa, pequenos agricultores que estão na fase inicial de produção. “Toda a colaboração que pudermos dar para que aumente a utilização dessas políticas mundo afora é muito importante. E do lado dos agricultores sentimos aquele orgulho: ‘escolheram a gente pra mostrar, de alguma forma, nós que não éramos ninguém até outro dia, viramos exemplo para alguém’. É uma pequena revolução eu diria.”
Para os agricultores, o PAA deu um empurrão muito grande e deu visibilidade para que outros compradores entrassem em contato com a comunidade. E além dos alimentos, em 2011, as mulheres do assentamento receberam capacitação para utilizar a fibra da bananeira para a confecção de artesanato. Marinalva Araújo dos Santos disse que o artesanato foi muito importante para garantir o sustento da família quando a produção agrícola ainda não dava lucros. “Vendemos o artesanato na região, nas feiras, em shoppings e por encomenda. Desde que fiz o curso me apaixonei. Já trabalhamos com o tronco da bananeira e com a banana desidratada, então se aproveita tudo da planta”, disse Marinalva.
A artesã, que vive com o marido e dois filhos no Assentamento Pequeno Willian, conta que não tinha perspectiva de vida e que o PAA foi um diferencial para a família. Ela voltou a sonhar. “Tem uma certa fase da vida que não dá nem pra sonhar porque, de todo jeito que você faz as coisas, elas não dão certo, principalmente para quem não tem formação. Hoje eu sonho em ter minha casa. Posso sonhar, posso planejar, posso ter uma expectativa de vida.”
Marinalva havia estudado até o primário [o 5º ano do ensino fundamental] e depois que conseguiu ser assentada continuou a estudar e terminou a ensino médio. “Agora quero fazer nutrição. Este é meu sonho.”
O nome do assentamento, Pequeno Willian, faz homenagem a uma criança de dois anos que morava na comunidade e morreu intoxicada por agrotóxicos. O assentamento só produz alimentos orgânicos e deve receber em breve o selo orgânico do governo federal. Atualmente, o Programa de Aquisição de Alimentos paga 30% a mais por produtos orgânicos.
Reportagem de Andreia Verdélio, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 10/02/2014
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