Onde sobrevivem as mangabas, crônica de Mayron Régis
[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] As Cabeceiras da Baixa Grande. Os moradores das Cabeceiras desconversaram quando Chico Freitas, vulgo Chico sem Freio, presidente da Associação de Proteção do rio Buriti, pediu que eles coletassem mangaba na Chapada e que vendesse a ele as suas produções.
Ele relembrou desse fato na casa do senhor Francisco, presidente da associação do povoado Cajueiro, município de São Bernardo, Baixo Parnaiba maranhense. O senhor Francisco vende diversas espécies de polpas de frutas e uma destas é a polpa de mangaba. Os mangabais se espalham por toda a Chapada do Cajueiro. A família do senhor Francisco coletou o suficiente para obter mais de cem quilos de polpa e quase tudo se vendera.
O pessoal das Cabeceiras, e as demais comunidades de São Bernardo também o fazem, assiste as mangabas se estragarem na Chapada ou servirem de alimento para os porcos ou outros animais porque acredita que despolpar mangaba não trará nenhum retorno financeiro dos mais gratificantes no curto prazo. Os agricultores afirmaram ao Chico sem Freio que a mangaba que coletariam não daria nenhum quilo de polpa.
A família do senhor Francisco do Cajueiro prova que não é bem assim. Além da polpa da mangaba, ela vende polpa de manga, de buriti, de caju, de acerola e de bacuri. Os freezers vivem abarrotados de polpas. As famílias do Cajueiro entenderam que a produção de polpa de fruta de qualidade se reverte numa busca constante por parte de compradores do município e de fora dele como no caso das lanchonetes de Parnaiba, município do Piaui, que enviam pessoas para comprar quilos e mais quilos de polpa de acerola. Elas também compreenderam a importância de evitar o máximo a derrubada de espécies de valor econômico de longo prazo para o extrativismo de frutas, entre elas a mangaba.
A mangaba é uma fruta típica do Cerrado maranhense e de suas transições. Quase ninguém provou o seu suco. Alguns jovens se lembram da bola de mangaba. Em algumas regiões do Maranhão, extinguiu-se a mangaba por conta dos desmatamentos dos plantadores de soja e de eucalipto. As mangabas sobreviveram em Morros, Barreirinhas e São Bernardo em assentamentos da reforma agrária.
* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).
** Crônica enviada pelo Autor e originalmente publicada no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.
EcoDebate, 24/01/2014
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Essa triste realidade não é nenhum privilégio maranhense. A devastação ocorre em todo território brasileiro colocando as espécies na lista das ameaçadas de extinção, quando não, das já extintas.
À medida que cresce a população humana, as outras espécies desaparecem. E depois?