Atuação do Engenheiro Ambiental, artigo de Marcos Paulo Gomes Mol e Danielli Vazzoller Fittipaldi
[EcoDebate] São polêmicas as discussões acerca das mudanças climáticas observadas no mundo atual. Duas frentes de discussão são claramente definidas: aqueles que definem a causa deste fenômeno às ações humanas; e aqueles que atribuem às ações naturais. Independente da origem dos impactos, uma constatação indiscutível é o avanço da degradação ambiental em várias partes do mundo decorrentes das atividades humanas.
Há pesquisadores que definem a era em que vivemos de antropocêntrica, devido à influência do ser humano no funcionamento do planeta terra, especialmente através do avanço tecnológico produzido a todo custo e acompanhado de diversas interferências ambientais, com o foco exclusivo no bem-estar do ser humano. Esta conduta tem produzido alguns exageros que devem ser equacionados, remediados, e gerenciados de forma a compatibilizar o desenvolvimento humano com a capacidade de resiliência do planeta.
Tornou-se urgente a concepção de um novo profissional capaz de sanar os problemas observados na atualidade, bem como proporcionar uma modificação dos valores de produção na sociedade, com uma visão ampla e transdisciplinar. Uma tentativa de preencher esta lacuna foi através da criação da Engenharia Ambiental.
A graduação em Engenharia Ambiental foi regulamentada pelo Ministério da Educação através da Portaria nº 1.693, de 05 de dezembro de 1994, sendo considerada relativamente recente. O perfil dos profissionais formados neste curso é distinto das demais engenharias, principalmente devido à multidisciplinaridade intrínseca ao seu campo de atuação.
Algumas atribuições do Engenheiro Ambiental podem ser desempenhadas por profissionais de quaisquer áreas de formação que se especializaram na área ambiental. Porém, um diferencial dos profissionais formados neste novo ramo da engenharia é a habilidade de gerenciamento de equipes multidisciplinares, especialmente devido à capacidade de “dialogar” com distintas áreas, tais como exatas, humanas e biológicas. Esta bagagem é proporcionada desde a formação, que perpassa a Biologia, Geologia, Climatologia, Hidrologia, Ecologia, Hidráulica, Cartografia, Recursos Naturais, Poluição Ambiental, Impactos Ambientais, Sistemas de Tratamento de Água e de Resíduos e Legislação Ambiental, que proporcionam uma visão holística e sistêmica aos profissionais.
Apesar de sua multidisciplinaridade, essa profissão carece da transdisciplinaridade, para realmente permear todas as áreas pertinentes às questões ambientais e dessa forma realmente integrar as diferentes visões, com o foco sistêmico. Outro ponto a ser considerado é a pequena interface com a área de humanas; por ter sua origem na Engenharia, a base da formação tem sido as ciências exatas, porém não se pode pensar o ser humano a parte do meio ambiente. É necessário ampliar ainda mais os ramos de atuação destes profissionais.
Dessa forma, o Engenheiro Ambiental possui características essenciais do “profissional do futuro”, pois é depositado nele uma expectativa de sanar problemas ambientais que potencialmente afetarão toda a humanidade. Deve ser por isso que o mercado de trabalho ainda não aproveita toda a potencialidade desta profissão: é difícil trabalhar com algo “por vir”, se há tanta emergência a ser sanada agora.
Referências:
FILHO, J. F. P.; VIEIRA, N. D. B.; ALBIERI, E. R. P.; PAZ, K. Inserção do Engenheiro Ambiental da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) no mercado de trabalho. XV SILUBESA – Simpósio Luso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2012.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Portaria nº 1.693, de 05 de dezembro de 1994. Disponível em: <http://www.em.ufop.br/deamb/arquivos/PORtMEC1693_94.pdf>. Acesso em: 04 jan. 2014.
* Marcos Paulo Gomes Mol
Engenheiro Ambiental
Doutorando em Saneamento pela UFMG.
** Danielli Vazzoller Fittipaldi
Engenheira Ambiental
Mestranda em Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental pela UFOP.
EcoDebate, 17/01/2014
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Excelente sua visão do profissional Engenheiro Ambiental, que sou com imensa satisfação pessoal, mas também muita preocupação com os rumos que nós estamos tomando, seja enquanto população, seja enquanto profissionais. Vejo muito dos meus colegas Engenheiros Ambientais com um discurso que advoga contra o que cerne da profissão deveria abraçar, isto é, o desenvolvimento sustentável e a transição paradigmática societária. Creio que nas faculdades, na formação deste profissional, tais aspectos devam ser mais enfáticos com estas temáticas, diria que num grau tão evidente ou até maior do que nas outras disciplinas de humanas, exatas e biológicas. Pessoalmente eu sempre as percebi intuitivamente, mas realmente as adquiri no mestrado apenas, pois se dependesse apenas dos meus inúmeros professores, seria mais do mesmo.