No ‘rolezinho’ em Itaquera (SP), PM dizia a quem passava: ‘Vou arrebentar você’
No estacionamento do shopping Metrô Itaquera, 11 jovens de bermudas coloridas e tênis chamativos estavam sendo revistados. Tinham um olhar vazio e sem expressão; cederam as mochilas, os documentos e explicaram o que tinham ido fazer ali: dar um “rolezinho”.
A reportagem é de Vanessa Barbara e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 13-01-2014.
O tenente encarregado da operação não encontrou nada de ilícito nos pertences dos jovens, a maioria negros e menores de idade. Explicou que a polícia estava abordando pessoas que pudessem ter ido para o evento, pois tinha um mandado de proibição.
Anotaram nome e endereço de todos e avisaram que, se causassem tumulto, seriam multados em R$ 10 mil.
Os adolescentes não me olhavam nos olhos e pareciam resignados. “Não vou embora não, quero ir ao cinema”, disse Rodney Batista, 20. No grupo de 11, só um tinha o olhar duro de quem estava engolindo a raiva.
Não vi ninguém com armas; ninguém roubando, depredando ou fazendo arrastão. Ainda assim, os lojistas entraram em pânico.
Segundo a opinião pública, são bandidos com histórico de crimes; no melhor dos casos, vagabundos que vão lá tumultuar, cometer delitos e assustar “gente de bem”.
São tratados como tais pelas autoridades: passando pelo corredor, um policial repetia no ouvido de todos: “Vou arrebentar vocês, vou arrebentar” – e plaf, deu um chute em um menino.
Pedi: “Licença, gostaria de saber o nome do senhor, ouvi o que o senhor disse e vi o que fez”, ao que ele tirou a etiqueta de identificação e escondeu no bolso. Insisti em saber o nome, tentei tirar uma foto, recorri ao tenente e falei com outros policiais – todos identificados.
Mas me acovardei e pensei que ele poderia ter ficado assustado por ter sido flagrado, que talvez tenha sido um momento do qual se arrependeu… Pensei também que arrogar qualquer tipo de coisa – “Sou da imprensa, olha só o meu crachá lustroso” – me rebaixaria ao nível dele, que usou do poder para fazer algo contra alguém mais fraco.
Vi gente filmando e sendo obrigada a apagar o arquivo, e a imprensa foi orientada a não registrar o que ocorria.
A gente fica só imaginando o que não devem fazer quando ninguém está realmente olhando.
(EcoDebate, 14/01/2014) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
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Eu presumo que sob o ponto de vista do “jornalismo”, os policiais nem deveriam ir ao shopping por conta dos rolezinhos, pois os jovens estariam apenas se divertindo ou se entretendo. Quanto aqueles jovens que aproveitam do evento para surrupiar das lojas aquilo que não lhes pertencem, certamente, teriam total liberdade. Ou: considerando que o jornalismo é contrário a forma como se comporta o policiamento, por que não interagir com a polícia apresentando sugestões de como impedir os prejuízos àqueles que tem o direito ao trabalho? As sugestões sempre serão bem-vindas, de repente, a união de ideias ou esforço conjunto possam formatar soluções aos problemas de Segurança Pública, esta se constitui num dever de todos.
Novamente o despreparo da polícia paulistana fazendo efervescer em todo o país manifestações locais d euma periferia que ficou à margem de qualquer progresso visto recentemente em nosso país. Falando em periferia, onde fui criado em SP e muito apanhei por nada de “gambé”, se ouvia muito Thaíde e DJ Hum, isso lá pelos idos anos 80, mas atualíssimo, infelizmente:
“Cuidado povo de São Paulo, de Osasco e ABC, a polícia paulistana chegou para “proteger … Oh meu Deus quando vão notar, que dar segurança não é apavorar…”
Matérias como essa é que fazem a população associar o ativismo ambiental a tudo tipo de imundície social, pautas ideológicas esquerdóides, essas porcarias. Por mim a polícia tem mais é que cair de pau nessa marginália desgraçada que vai a espaços PRIVADOS barbarizar a vida de quem trabalha e também de quem sustenta com o suor do seu trabalho as vergonhosas esmolas estatais e políticas racistas do fascismo PT. Felizmente no resto do mundo não se confunde ambientalismo com militância pseudo-socialóide. Já o brazíu tem mais é que estrepar mesmo se isso é o “ativismo” que temos.
José Truda Palazzo Jr. ,
E comentários como o seu é que associam o ambientalismo a intolerância e a falta de sensibilidade/compreensão social.
O ambientalismo é um movimento social que, em tese, além da biodiversidade, também deveria defender a diversidade social e cultural.
No ambientalismo ou em qualquer outra opção, não existe intolerância ‘do bem’.
Eu sou policial (confesso que da Polícia Federal e não da Polícia Militar), e discordo veementemente do que disse o Jorge Gerônimo Hipólito.
A polícia não tem NADA o que estar fazendo nos shoppings, a menos que sejam realmente registrados crimes (e com tantos rolezinhos se esses fossem realmente “arrastões” como parte da imprensa os está chamando, já teriam sido registrados muitos roubos e furtos. Engraçado, né, não foram).
Não é lugar da polícia ser segurança de lugar privado, só para apaziguar o medo racista de lojistas e mauricinhos.
Os jovem tem SIM o direito de ir passear no shopping, não importa sua cor, número ou local de moradia. Se o shopping não quer que “certas” pessoas passeiem por ele, então que se torne um clube privado, com entrada restrita a membros.
Ou vamos voltar ao século 18 dos Estados Unidos (nem sequer o nosso), e barrar pessoas por causa de cor de pele nos estabelecimentos? PATÉTICO. É uma vergonha que a polícia tenha ido aos shoppings por causa disso, mas quando há uma denúncia e policiais são chamados, somos obrigados a ir. A atitude correta teria sido ver que não estava acontecendo nada (e me desculpem os racistas, mas não, não aconteceu nada) e simplesmente ir embora, mas aí o chororô estaria ainda pior.
E achar que só porque são jovens e pobres e estão em grande número isso é o mesmo que serem ladrões, isso é de uma mente tão pequena que deve ser necessário microscópio para ver.
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Caríssima Mariana.
Resumindo: “mas quando há uma denúncia e policiais são chamados, somos obrigados a ir”.
Obs.: nem sempre as denúncias se confirmam, no entanto, pelo sim ou pelo não imaginemos se a polícia não comparecesse.
Agora, independentemente da cor, raça, ou condição social, os conflitos ou desarmonias ocorrem lá e cá.
Por conseguinte, sempre conclamarão a polícia e essa receberá as críticas, pois jamais conseguirá satisfazer os conflitantes, ou seja, um dos lados ficará insatisfeito.
Infelizmente!