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RJ: Intensa mobilização social impediu o governo de demolir vários prédios em torno do Maracanã

 

Antigo Museu do Índio, na Tijuca
Antigo Museu do Índio, na Tijuca, zona norte da cidade, que esteve ameaçado de demolição para obras de urbanização, durante a reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. Foto de Tania Rego / ABr

 

A intensa mobilização social ao longo do ano levou o governo a desistir dos planos originais para os prédios em torno do estádio do Maracanã. A proposta de concessão do estádio, apresentada em outubro do ano passado, previa a demolição de quase todas as construções na área, menos do Ginásio Maracanãzinho.

O Parque Aquático Júlio de Lamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, a Escola Municipal Friedenreich e o antigo Museu do Índio viriam abaixo. Deste último, o governo desistiu, em janeiro, da derrubada depois de diversas manifestações de indígenas. Em 2007, os equipamentos esportivos receberam R$ 100 milhões do governo federal para reformas e adequação para os Jogos Pan-Americanos. E, desde então, os recursos públicos no Complexo do Maracanã chegaram a R$ 1,2 bilhão.

Após o anúncio do projeto de concessão do Maracanã e a ameaça de demolição, começou a mobilização social. Uma grande manifestação ocorreu logo na audiência pública de concessão do estádio, em novembro de 2012. Foram organizadas diversas passeatas e atos em defesa dos equipamentos esportivos.

O Célio de Barros e o Júlio de Lamare foram fechados em março, deixando cerca de 250 atletas sem local para treinar, além de idosos e crianças sem aulas. Ações da Defensoria Pública, pedidos de tombamento do patrimônio e notas de apoio foram feitos ao longo do ano. Até que, em 29 de julho, o governador Sérgio Cabral desistiu da demolição do parque aquático, anunciando em seguida, as mudanças de planos para o estádio de atletismo, em 2 de agosto, e da escola, três dias depois.

Também em agosto, a prefeitura do Rio decidiu tombar como patrimônio da cidade a Escola Friedenreich e o antigo Museu do Índio, além de revogar o decreto que retirava o tombamento do Célio de Barros e do Júlio de Lamare. O novo plano de viabilidade do Complexo Maracanã foi entregue pela concessionária vencedora da licitação, formada pelas empresas Odebrecht, IMX e AEG, ao governo do Rio no fim de agosto, mas, segundo a Casa Civil estadual, o documento ainda está sendo analisado.

Representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, o professor Demian Castro lembra que os movimentos sociais conseguiram uma grande vitória com a decisão do governo de não demolir os equipamentos, mas o destino deles ainda é incerto.

Apesar da grande vitória, que foi evitar a demolição dos prédios, não existem garantias sobre o destino do complexo, destacou Demian. “Queremos o diálogo, queremos participar disso, queremos outro Maracanã, não o do consórcio.” O professor defende a anulação do processo de privatização e diz que a demanda é por “um estádio público e popular e que todas as pessoas envolvidas, como os torcedores e os que usam os diferentes equipamentos no entorno, participem da gestão”.

O Parque Aquático Júlio de Lamare foi reaberto no início de novembro, com o retorno dos alunos de natação e hidroginástica e dos atletas de nado sincronizado, saltos ornamentais e natação.

Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes Filho, os treinos das equipes olímpicas foram retomados, mas as melhorias prometidas não foram feitas. “O negócio está meio complicado, porque não está definido pelo governo, quem é que manda ali, se são as empresas que ganharam a licitação ou é o estado. Eu fiz aquelas passeatas, e ele [o governo] resolveu não destruir. Parou aí, não fez mais nada.”

De acordo com ele, a instalação de um placar eletrônico e a reforma no tanque seco para o treinamento de saltos ornamentais estão prometidas. A Secretaria de Estado de Esporte e Lazer informa que a licitação para tais obras deve ser finalizada em março, com prazo de mais dois meses para execução.

A Escola Friedenreich não chegou a ser fechada e o ano letivo transcorreu normalmente, de acordo com o professor Carlos Sandes, que integra a comissão de pais, alunos e ex-alunos da escola. “A resistência dos pais e da comunidade foi determinante para a escola permanecer aqui. Hoje a escola já foi reconhecida pela Câmara de Vereadores como patrimônio educacional e social. Mas não estamos satisfeitos: sabemos que todo esse complexo aqui é histórico, é cultural e faz parte da alma do carioca, da alma do povo do Rio de Janeiro.”

Edição: Talita Cavalcante

Reportagem de Akemi Nitahara, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 30/12/2013


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