Do caos ao novo, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Ser feliz é aprender a mudar e isso começa cedo, todo mundo teve de largar o bico, deixar de brincar pra ir pro colégio, ter responsabilidades na adolescência que não tinha na infância, e por aí vai. O que aprendemos vale pra uma fase da vida, mas depois vem outra.
As sociedades também mudam, lembro que nos anos 70 desmatar era lindo e a “Transamazônica” era um grande projeto nacional, de povoar aquela região antes que outro povo aventureiro o fizesse. Nas últimas quatro décadas o desequilíbrio climático mudou tudo e agora não sabemos como fazer para conter a destruição da floresta.
Mudanças são desconfortáveis porque nos tiram da “zona de conforto”, da acomodação de desfrutar o que conseguimos até o momento. Chato esse troço de aprender algo e já ter de aprender outras coisas porque aquilo não é mais suficiente. Agora que tou mais à vontade no Facebook o povo tá se comunicando pelo WhatsApp e não adianta eu dizer “tou fora desse modismo”, que o mundo não vai parar pra esperar por mim.
Claro que quando eu assimilar o novo aplicativo já vão estar noutra, fazer o que? Essa gurizada é muito rápida, a gente tem de correr atrás ou fazer como o zagueiro Mauro Galvão, que já coroa descobria os “atalhos” do campo e foi longe na carreira. Felicidade requer sabedoria de vida, flexibilidade para mudanças. Não por mera imitação, mas por compreendermos que tudo flui, evolui, que há ciclos e novos contextos, muitos deles sem precedentes, a serem reconhecidos por nós.
“Decifra-me ou devoro-te”, o enigma da esfinge, é uma metáfora perfeita do que o tempo e o futuro estão nos dizendo. O melhor exemplo é o 2013 brasileiro, num país com redução do desemprego e estabilidade econômica, em que os jovens foram para a rua exigir mudanças. Como nenhum cientista político previu isso – já que manifestações costumam sacudir países em crise econômica e com alto desemprego – as interpretações iniciais foram esdrúxulas. Conservadores viam os jovens como manipulados por organizações de esquerda e algumas destas, por sua vez, os viam a serviço de um “golpe de direita”. Depois, é claro, surgiram interpretações mais razoáveis, mas as reações iniciais mostraram que o pensamento habitual não compreende o caos, nem reconhece o novo.
O medo do desconhecido é uma das forças mais intensas de resistência a mudanças, pois existe independente de ideologias, é instintivo. O medo do caos, de nos desestruturarmos, é um dos principais fatores de acomodação em formas infelizes de vida: antes um sofrimento com o qual estamos “familiarizados”, do que surpresas desagradáveis que podem surgir se tentarmos o novo.
Para isso é preciso coragem, como a da “oração da serenidade”, que fala em termos “tolerância para as coisas que não podemos mudar, coragem para mudar as que podemos e sabedoria pra distinguir umas das outras”. São os meus sinceros votos para o seu 2014.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 30/12/2013
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