Cientista denuncia pressão contra publicação de pesquisa anti-OGM
O professor francês Gilles-Eric Séralini, que publicou há um ano um estudo sobre a toxicidade “alarmante” do milho transgênico nos ratos, criticou nesta quinta-feira a revista que publicou seu estudo e denunciou que esta recebeu “pressões” para que suspendesse seu trabalho. Matéria da AFP, no Yahoo Notícias.
“Rejeitamos que o artigo seja retirado”, afirmou o cientista durante coletiva de imprensa em Bruxelas.
O pesquisador denunciou “pressões insuportáveis”, destacando que o editor da revista Food and chemical toxicology não tinha constatado “nem fraude, nem má interpretação dos dados” em seu estudo.
“Os resultados apresentados, que não são incorretos, não permitem concluir”, alegou o encarregado editorial da revista, em uma mensagem dirigida a Seralini, datada de 19 de novembro e que o professor tornou pública.
Por causa disto, o artigo foi retirado da revista.
“Mantemos nossas conclusões”, respondeu Séralini em mensagem endereçada à revista que, conforme as regras habituais, publicou o estudo depois que um grupo de cientistas o avaliou.
Interrogado pela AFP, o cientista vinculou esta decisão à “chegada ao comitê editorial da revista de Richard Goodman, um biólogo que trabalhou vários anos na Monsanto”, gigante americana do setor dos organismos geneticamente modificados.
“Um debate científico não é uma razão para retirar um artigo, só um caso de fraude ou erro pode justificá-lo”, acrescentou.
O estudo chefiado por Séralini e publicado em setembro de 2012 dizia que os ratos alimentados com OGM morrem antes e sofrem de câncer com mais frequência que aos demais.
“Os resultados são alarmantes. Observamos, por exemplo, uma mortalidade duas ou três vezes maior entre as fêmeas tratadas (com OGM). Há de duas a três vezes mais tumores em ratos tratados dos dois sexos”, explicou na ocasião Seralini.
Para fazer o estudo, duzentos ratos foram alimentados durante um máximo de dois anos de três formas diferentes: exclusivamente com milho OGM NK603, com milho OGM NK603 tratado com Roundup (o herbicida mais usado no mundo) e com milho não geneticamente modificado tratado com Roundup.
Os dois produtos (o milho NK603 e o herbicida) são de propriedade da empresa americana Monsanto.
Durante o estudo, o milho fazia parte de uma dieta equilibrada, servido em porções equivalentes ao regime alimentar nos Estados Unidos.
“Os resultados revelam uma mortalidade muito mais rápida e importante durante o consumo dos dois produtos”, havia dito Seralini.
Em sua carta, o encarregado editorial da revista, A. Wallace Hayes, explicou que um painel de cientistas voltou a analisar os dados do estudo e avaliou que “o artigo devia ser retirado”.
O encarregado editorial criticou ao mesmo tempo a quantidade de ratos de cada grupo estudado, assim como a raça escolhida para a experiência, o que Seralini refuta, afirmando que este debate não “tem bases científicas”.
As conclusões de Seralini foram rechaçadas pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA), mas permitiram fazer interrogações aos protocolos usados para os testes clínicos com OGM.
EcoDebate, 03/12/2013
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Excelente exemplo da parte podre do mundo dos transgênicos, bem ilustrada pelo milho OGM NK603.
O debate sobre esse artigo realmente demonstra bastante desespero por parte da indústria de transgênicos. A linhagem de ratos usada, por exemplo, realmente é uma linhagem desenvolvida para ter cancer com mais facilidade, para o estudo de cancerígenos.
Se o estudo estivesse comparando a taxa de câncer entre ratos normais e ratos dessa linhagem, a crítica seria válida. Porém, os ratos do grupo controle também são da mesma linhagem…
A diferença é que este foi um dos poucos estudos que não foi financiado por nenhuma grande empresa de transgênicos. Mas outros já estão corroborando o mesmo problema com Round-up e o milho BT (um estudo epidemiológico na Argentina, que mostrou mais casos de câncer nas regiôes de maior uso de Round-up e entre os trabalhadores agrícolas, e um estudo com porcos que mostrou maior proporção de úlceras crônicas e cancer de estômago em porcos alimentados por três anos com rações feitas com milho BT ).
Para brasileiros, vale lembrar que esse milho está tão onipresente que até empresas que antes relutavam em usar transgênicos (como a Guabi, de rações animais) tiveram que desistir e usar esse tipo de milho, que empresas de distribuição de alimentos orgânicos estão tendo dificuldades em obter sementes de milho não transgênico para fazer seus plantios, que até em produtos antes insuspeitos (por exemplo fermento biológico para pão) ele está presente…
Pois é, se não quiser consumir esse tipo de milho transgenico aqui no país, é necessário comer apenas milho orgânico, evitar todos os salgadinhos derivados de milho (e muuuuuitas outras coisas. Atenção não só para o T da embalagem, mas também para a lista de ingredientes, que normalmente incluirá o transgênico. Se o transgênico for citado como milho BT, ou como contendo genes de Bacillus thuringiensis, se não me engano, também é este), e manter na sua geladeira sua própria cultura de fermento…
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Embora tenha havido pressão (do editor da revista, como normalmente acontece nestes casos), não houve complô algum.
Para uma súmula de toda a história, vejam http://genpeace.blogspot.com.br/2013/11/sepultando-um-zumbi-o-artigo-cientifico.html