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A reversão do hiato de gênero na educação e os arranjos familiares: da hipergamia à hipogamia? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

A reversão do hiato de gênero na educação e os arranjos familiares: da hipergamia à hipogamia?

 

[EcoDebate] No Brasil e no resto do mundo as mulheres tinham um nível educacional menor do que os homens e muitas restrições para entrar nas universidades. Mas esta realidade começou a mudar depois da revolução sexual e cultural dos anos de 1960. As mulheres passaram a valorizar a presença nos cursos superiores, rompendo com o anterior modelo patriarcal onde o reconhecimento social do sexo feminino se dava via matrimônio.

Evidentemente, a reversão do hiato de gênero, onde aconteceu, foi entre as novas gerações e entre as coortes mais jovens. Considerando as pessoas com com idades entre 25 e 29 anos, em uma amostra de 120 países, as mulheres ultrapassaram os homens na educação superior na década de 1990 e devem aprofundar a desigualdade reversas nas próximas décadas. No Brasil, as mulheres possuem anos médios de estudo acima dos masculinos e as mulheres de 25-29 anos já representavam 60% das pessoas com curso superior, segundo o censo demográfico de 2010.

No passado, na maior parte do mundo, havia um superavit de homens entre as pessoas com maiores níveis educacionais. Desta forma, era comum homens casarem com mulheres com menores níveis de educação formal.

Nos primeiros 500 anos do Brasil, em geral, os casamentos eram hipergâmicos, já que as mulheres tendiam a se casar com homens com maior nível educacional, pois o hiato de gênero na educação favorecia ao sexo masculino. Mas no século XXI, os casamentos (heterossexuais) já estão se tornando hipogâmicos em sua maioria, uma vez que houve reversão do hiato de gênero na educação.

A hipergamia, neste caso, é o ato ou prática de buscar um cônjuge de maior nível educacional. A hipogamia se dá quando há um casamento com pessoa de posição educacional inferior.

Será que a reversão do hiato de gênero na educação vai provocar uma mudança no padrão de família brasileiro?

Na verdade os arranjos familiares no Brasil têm passado por grandes mudanças. Há um processo de transição da família patriarcal tradicional, para a família nuclear conjugal e para uma maior individuação. Por exemplo, cresce o número de mulheres solteiras e vivendo sozinhas em domicílios unipessoais, especialmente entre as camadas mais escolarizadas da população.

Artigo de Esteve at. al. (2012) mostra que no Brasil, nas coortes mais jovens, além da homogamia, os casais hipogâmicos já superam os casais hipergâmicos e que cerca de 90% destas mudanças se deram em função das diferenças de gênero na obtenção de níveis educacionais superiores.

Não resta dúvida de que o empoderamento das mulheres no sistema educacional contribui para o empoderamento feminino dentro das famílias e tudo isto é um passo importante para uma sociedade com maior equidade de gênero, mesmo que o pêndulo no momento esteja indo para o lado reverso e não para o equilíbrio.

Referência:

ESTEVE, Albert; GARCÍA-ROMÁN, Joan; PERMANYER, Iñaki. The Gender-Gap Reversal in Education and Its Effect on Union Formation: The End of Hypergamy? Population and Development Review 38(3) : 535–546 (September 2012).

ALVES, J.E.D, CORREA, S. Igualdade e desigualdade de gênero no Brasil: um panorama preliminar, 15 anos depois do Cairo. In: ABEP, Brasil, 15 anos após a Conferência do Cairo, ABEP/UNFPA, Campinas, 2009. Link: http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/outraspub/cairo15/Cairo15_3alvescorrea.pdf

BELTRÃO, K.I. ALVES, JED. A Reversão do Hiato de Gênero na Educação Brasileira no Século XX. Encontro Nacional de Estudos Populacionais, XIV, ABEP, Caxambú-MG, de 20- 24 de Setembro de 2004.

http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_111.pdf

ALVES, JED. CAVENAGHI, S. Uma família plural complexa e diversa. IHU, 29/10/2012

http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/515013-censo-2010-uma-famlia-plural-complexa-e-diversa

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

EcoDebate, 18/10/2013


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