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Artigo

O calote do Eike e o BNDES, artigo de Montserrat Martins

 

calote do Eike
Charge no Tribuna de Imprensa, de Hélio Fernandes

 

[EcoDebate] No momento em que as empresas de Eike estão dando o maior “calote” da história da América do Sul, lembramos que tem dinheiro público investido nelas. Os empréstimos do BNDES às empresas de Eike Batista somam “apenas” cerca de 6 bilhões porque, segundo o presidente Luciano Coutinho, o banco aprovou 10,4 bilhões ao Grupo EBX “mas o valor não foi totalmente contratado”. É difícil raciocinar em valores que não fazem parte da nossa vida (a menos que você, leitor, seja um mega- empresário), mas para se ter uma ideia do que representam seis bilhões, correspondem ao valor do orçamento anual, somados, da Saúde e da Educação para todo o Estado do Rio Grande do Sul (cujo orçamento anual total é de trinta e poucos bilhões). Quer dizer, não é pouca coisa, mesmo.

A questão é: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social está cumprindo a sua função? É esse o seu papel, fomentar as megaempresas nacionais e assumir riscos junto com elas? Os BNDES direcionou 25 bilhões para 10 grandes empresas, esse ano, além das do grupo EBX. Mas foi com Eike que teve o maior prejuízo, pois só um dos investimentos feito pelo BNDES, em títulos de dívida da MPX energia, já levou o banco a ter um prejuízo de 359 milhões. Mas essa é apenas uma pequena parte de um prejuízo muito maior em vista, que se multiplica ainda pelo fato de a derrocada do grupo EBX “puxar para baixo” a economia brasileira, gerando instabilidade, causando quedas nas bolsas e prejudicando várias outras empresas.

Quais as vantagens para o país nesse “fomento” às grandes empresas nacionais, com juros privilegiados? O cientista político André Singer, ex-porta voz presidencial, foi quem apresentou de modo mais claro (e científico, em sua área de estudos) a estratégia central de nossa política econômica nos últimos três governos. Singer chama isso de “coalizão produtivista” na qual o governo se alia às grandes empresas nacionais porque, “para a classe operária, a morte da indústria nacional representaria a sua própria desaparição enquanto classe e regressão a um modelo colonial que não comporta seguimento industrial extenso e sofisticado”, numa estratégia em que também “o comércio exterior desempenha um rol relevante”.

Singer fala no “sonho rooseveltiano”, do “New Deal” introduzido no país com a participação maior do Estado na economia em geral e na geração de empregos em especial. Nessa visão, a aliança com os grandes empresários do país passou a ser uma das prioridades do modelo desenvolvimentista. A esse modelo “produtivista”, da aliança entre Estado e capital industrial, se oporia o modelo “rentista” do capital financeiro – dicotomia na qual tendemos a dar razão ao governo, de investir no fomento à produção como modelo de desenvolvimento, ao invés de deixar o país à mercê do capital financeiro especulativo, volátil.

A compreensão dessa estratégia “produtivista versus rentista” é lógica, acessível aos leigos como nós, que não somos economistas. Mas como toda didática, ela simplifica a realidade, pois o mundo real é sempre mais complexo que qualquer teoria. Analistas do mercado descrevem o grupo EBX como um “castelo de cartas” em que a queda de uma de suas empresas derruba as outras, ou seja, com um fator especulativo presente nos negócios do grupo. O que os economistas estão nos dizendo, agora, é justamente que a derrocada de Eike arrasta o mercado financeiro e toda a economia para baixo, comprometendo os planos do governo.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

EcoDebate, 17/10/2013


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One thought on “O calote do Eike e o BNDES, artigo de Montserrat Martins

  • O dinheiro do povo brasileiro continua financiando vôos cegos e megalomaníacos de alguns malucos.

Fechado para comentários.