Efeito do aquecimento global nos oceanos é pior do que se pensava, diz relatório
A poluição nos oceanos e o aumento da temperatura estão criando ‘zonas mortas’ nos mares
Um relatório divulgado pelo Programa Internacional para o Estado dos Oceanos (IPSO) adverte que a saúde dos oceanos está se deteriorando mais rapidamente do que se pensava em decorrência do aquecimento global.
De acordo com o documento, a água tem se tornado mais ácida por absorver mais CO2, o que é prejudicial para o desenvolvimento dos corais. A poluição e a pesca predatória também estariam tendo um impacto sobre a vida marinha.
O relatório chama a atenção para as chamadas zonas mortas, locais fortemente afetados pela poluição de fertilizantes.
“Não temos dado a importância necessária aos oceanos. Eles nos protegem dos piores efeitos do aquecimento global, ao absorver o CO2 da atmosfera. Enquanto o aumento da temperatura terrestre parece ter dado uma pausa, os oceanos continuam se aquecendo. As pessoas e a os fomuladores de políticas públicas fracassam ao não reconhecer, ou ignorar por opção, a gravidade da situação”, diz o relatório.
O relatório cita como exemplo a ameaça aos recifes de coral, afetados pela temperatura e pelos níveis de acidez crescentes, além da proliferação de algas decorrentes do desequilíbrio ambiental.
Pesca predatória
Financiado por várias fundações, o IPSO está publicando uma série de cinco relatórios baseado em debates feitos em 2011 e 2012, em conjunto com a Comissão Mundial para Áreas Protegidas da organização União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
O relatório pede aos govermos que detenham o aumento de CO2 nos níveis de 450 ppm (partes por milhão, uma medida de volume). Se for além desse montante, os oceanos podem sofrer com um nível de acidez alto ao fim deste século, já que o CO2 é absorvido pela água.
O relatório também pede um sistema de pesca menos predatório e uma lista de substâncias extremamente tóxicas aos oceanos.
O documento pede que um novo acordo internacional para a pesca sustentável nos oceanos e a criação de uma agência de fiscalização internacional.
“Esses relatórios deixam absolutamente claros que postergar ações só vai aumentar os custos no futuro e levar a perdas ainda piores, senão irreversíveis”, alerta o professor Dan Laffoley, um dos autores do relatório.
“O relatório de clima da ONU já confirmou que os oceanos estão arcandando com o ônus das mudanças perpetradas pelos humanos em nosso planeta. Essas descobertas nos dão mais razão para alarme, mas também sinalizam a solução. Precisamos usar essa informação”, disse.
Risco de extinção
O coordenador do estudo, professor Alex Rogers, da Universidade de Oxford, disse que o relatório é importante por ser “completamente independente da influência dos Estados e por dizer coisas que especialistas da área sentem que precisam ser ditas”.
Ele lembrou que as preocupações aumentaram nos últimos anos justamente porque relatórios assim mostraram que espécies foram extintas no passado com o aquecimento dos oceanos, o aumento da acidez e baixo nível de oxigênio na água – alterações que têm sido registradas hoje em dia.
O professor lembra que há um debate sobre se práticas sustentáveis de pesca estão provocando a recuperação do estoque de peixes em regiões da Europa e dos Estados Unidos. Entretanto, globalmente, está claro que essa recuperação não está ocorrendo.
Ele também admite que se discute se as mudanças climáticas poderiam levar a uma maior produção de peixes nos oceanos. Por exemplo, se a água de degelo dos polos faria aumentar o estoque de pescado em regiões mais frias, enquanto que, nas zonas tropicais, áreas de água mais quente poderiam prejudicar a mistura de nutrientes necessária para uma maior produção.
**Vejam, abaixo, os relatórios e seus links:
The State of the Ocean 2013: Perils, Prognoses and Proposals: Executive Summary
The International Programme on the State of the Ocean (IPSO) is publishing a set of five papers on ocean stresses, impacts and solutions by leading international experts to present the key findings of the workshops it held in 20111 and 2012* in partnership with IUCN and its World Commission on Protected Areas. The purpose of these workshops, and the papers published today, is to promote a holistic, integrated view of both the challenges faced and the actions needed to achieve a healthy global ocean for the future.
Climate change impacts on coral reefs: Synergies with local effects, possibilities for acclimation, and management implications
Coral reefs are extremely vulnerable to the impacts of climate change. It is imperative and urgent that emissions targets below 450 ppm CO2e be agreed and implemented, combined with coordinated programmes at local and regional levels to reduce other stress factors and boost resilience; otherwise it is predicted that most reefs will be lost as effective, productive systems within a few decades.
Climate change and the oceans — What does the future hold?
The ocean is shielding us from the worst effects of accelerating climate change by absorbing excess CO2 and heat from the atmosphere. The twin effects of this — acidification and ocean warming — are combining with increased levels of deoxygenation, caused by nutrient run-off from agriculture near the coast ,and by climate change offshore, to produce what has become known as the ocean’s ‘deadly trio’ of threats whose impacts are potentially far greater because of the interaction of one on another. The scale and rate of this change is unprecedented in Earth’s known history and is exposing organisms to intolerable and unpredictable evolutionary pressure.
Ocean in peril: Reforming the management of global ocean living resources in areas beyond national jurisdiction
The current system of high seas governance is fraught with gaps, directly leading to the mismanagement and misappropriation of living resources, and placing our ocean in peril. It is time for a new paradigm that can only come about through the fundamental reform of existing organisations and systems, overseen by a new global infrastructure to coordinate and enforce the necessary action. Crucially, the authors call for the negotiation of a new implementing agreement for the conservation and sustainable use of biodiversity in areas beyond national jurisdiction.
Evaluating legacy contaminants and emerging chemicals in marine environments using adverse outcome pathways and biological effects-directed analysis
Protecting marine ecosystems and seafood resources from the adverse effects of complex cocktails of ‘legacy’ (already regulated) contaminants, emerging (unregulated) chemicals and natural chemicals (e.g. algal biotoxins) remains a critical, unresolved global problem. The economic and infrastructural challenges posed by such a wide variety of chemicals means that the most cost-effective approach is to implement a targeted, effects-based strategy that prioritizes key groups of chemicals of most concern.
Fisheries: Hope or despair?
The global picture of ongoing depletions of fish stocks, the degradation of food webs, threats to seafood security and poor quality of most fishing management is alarming and demonstrates that recent more optimistic outlooks are misplaced. Reversing these global trends towards “despair” demands urgent, focused, innovative action to promote effective community- and ecosystem-based management.
Matéria de Roger Harrabin, da BBC News / BBC Brasil, reproduzida pelo EcoDebate, 07/10/2013
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