Projeções para a população mundial 2000-2300: o futuro está aberto, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Pesquisadores do International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA), na Áustria, realizaram projeções de longo prazo (2000 a 2300) da população mundial para os cenários do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). As projeções por idade e sexo levaram em consideração um amplo conjunto de hipóteses de fecundidade e três cenários de mortalidade com base em expectativa de vida máxima de 90, 100 e 110 anos.
Em artigo publicado na Demographic Research, em 30 de maio de 2013, os demógrafos Stuart Basten, Wolfgang Lutz e Sergei Scherbov apresentam uma síntese do relatório. Vamos apresentar aqui o cenário de expectativa de vida de 90 anos (Eo = 90), segundo as variações na Taxa de Fecundidade Total (TFT).
A população mundial em 2000 era de 6,05 bilhões de habitantes e a TFT era de 2,53 filhos por mulher. Caso a taxa de fecundidade se mantenha por volta de 2,5 filhos, a população mundial chegaria a 15,1 bilhões em 2100, 33,5 bilhões em 2200 e 71,0 bilhões de habitantes em 2300.
Caso a TFT caia para 2 filhos por mulher, a população mundial chegaria a 10,3 bilhões em 2100, 9,9 bilhões em 2200 e 9,0 bilhões de habitantes em 2300. Uma queda da taxa de fecundidade para 1,5 filho por mulher faria a população mundial chegar a 6,8 bilhões em 2100, 2,3 bilhões em 2200 e 720 milhões de habitantes em 2300.
Ou seja, uma taxa de fecundidade em torno de 2 filhos por mulher faria com que a população mundial se estabilizasse, no longo prazo, em torno de 9 bilhões de habitantes. Meio filho (1/2) para cima, isto é, 2,5 filhos por mulher (equivalente à TFT do ano 2000) faria a população mundial saltar para 71 bilhões de habitantes em 2300 e meio filho para baixo, isto é, TFT de 1,5 filho por mulher, faria a população mundial decrescer para apenas 720 milhões de habitantes em 2300.
Portanto, uma taxa de fecundidade com meio filho acima do nível de reposição levaria a um grande crescimento da população mundial (algumas pessoas diriam “explosão populacional”) e meio filho abaixo da TFT de reposição levaria a um grande decrescimento da população (algumas pessoas diriam “implosão populacional”). Evidentemente, estes resultados teriam um grande impacto positivo ou negativo sobre o meio ambiente e o aquecimento global.
Mas o artigo da Demographic Research mostra outros resultados ainda mais impactantes das projeções de longo prazo. Segundo a Divisão de População da ONU a população da África Subsariana era de 630 milhões de habitantes em 2000, com uma TFT de 5,4 filhos por mulher. Numa hipótese alta, o artigo de Basten, Lutz Scherbov (2013) projeta o resultado de uma fecundidade em torno de 5 filhos por mulher e um esperança de vida de 100 anos, o que resultaria em uma população na África Subsariana de 12,3 bilhões em 2100 e de 355 bilhões em 2200.
No outro extremo, uma queda da fecundidade mundial para 1,25 filho por mulher resultaria em um montante da população mundial de 160 milhões de habitantes em 2300 (menos do que a população brasileira atual). Na hipótese de TFT de 1,0 filho por mulher, a população mundial chegaria a apenas 30 milhões de habitantes (menos do que o Estado de São Paulo). E na hipótese de TFT de 0,75 filho por mulher a população mundial chegaria próximo de zero, podendo praticamente desaparecer em 300 anos.
Em síntese, a população mundial em 2300 pode variar de 71 bilhões (na hipótese de TFT de 2,5 filhos por mulher) para 720 milhões de habitantes (na hipótese de TFT de 1,5 filho por mulher) ou praticamente chegar a zero e desaparecer (na hipótese de TFT de 0,75 filho por mulher). Pequenas variações nas taxas de fecundidade provocam grandes alterações no volume da população no longo prazo, quer se denomine o fenômeno da explosão ou implosão demográfica ou qualquer outro nome.
O fato é que o futuro demográfico está aberto e vai depender das decisões tomadas e efetivadas nas próximas décadas e das inter-relações entre população, desenvolvimento e meio ambiente.
Referência:
Stuart Basten, Wolfgang Lutz, Sergei Scherbov. Very long range global population scenarios to 2300 and the implications of sustained low fertility. Demographic Research, V. 28, Art 39, 2013, p. 1145-1166
http://www.demographic-research.org/volumes/vol28/39/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 04/10/2013
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Torço para a expectativa de vida de 110 anos e taxa de fertilidade de 1,5 filhos/ mulher (vou fazer a minha parte e ficar no 0). Com 720 milhões de habitantes, todos poderiam ter um padrão de vida elevado na terra (padrão americano de classe média alta, se quiserem) e ainda assim o mundo estaria bem.