Bombas relógio que ameaçam a Natureza em Minas Gerais, por G. Wilson Fernandes e Newton P. U. Barbosa
Com um dos patrimônios ambientais mais ricos do país, estado se ressente de negligência e irresponsabilidade pela introdução de espécies invasoras
Por G. Wilson Fernandes e Newton P. U. Barbosa
[EcoDebate] A invasão de uma área por espécies animais e vegetais (invasão biológica) é um dos maiores problemas ambientais atuais. Esse processo manifesta-se pela introdução espontânea ou intencional de animais e plantas em locais onde elas não ocorrem naturalmente. As espécies invasoras geralmente crescem muito mais rapidamente que as nativas, provocando problemas que só serão sentidos e registrados anos mais tarde.
Um dos mais sérios problemas com essas invasões é a extinção das espécies nativas, por perda de áreas, que passam a ser ocupadas pelas invasoras, ou por simples eliminação pela produção de compostos tóxicos pelas invasoras ou ainda por competição, que podem manifestar-se por um simples sombreamento.
Outro problema, aqui, é o efeito direto e devastador que as espécies invasoras podem ter sobre o ambiente, como por exemplo a ocupação de nascentes, modificação da paisagem, impacto na produtividade da agricultura e silvicultura, potencialização dos efeitos maléficos do fogo no ambiente e introdução de novos inimigos naturais, para citar uns poucos. No Brasil, os custos para controlar as “espécies indesejáveis” já superam os US$ 50 bilhões por ano.
As invasões biológicas são muitas vezes facilitadas pelas atividades humanas que desconsideram as características ecológicas das espécies e dos habitats. Um exemplo disso é a introdução de espécies de plantas para a recuperação de áreas degradadas em locais onde normalmente elas não ocorrem. Essas espécies acabam invadindo áreas vizinhas como parques nacionais, pastagens, plantações e até o ambiente urbano.
Minas Gerais tem, talvez, o maior conjunto de ambientes naturais do país e é um estado muito rico em número de espécies de plantas e animais e em recursos hídricos, sem falar nos seus recursos minerais. A exploração desses recursos naturais pode provocar profundos impactos ambientais e uma forma de amenizar esse efeito é restaurar o ambiente degradado com espécies nativas. Mas em Minas, apesar dos avanços do conhecimento em décadas recentes ainda ocorre a introdução intencional de espécies invasoras exóticas em ambientes prístinos do Cerrado e Mata Atlântica para a revegetação de áreas degradadas. Essa prática, na realidade, é outro crime ambiental, pois suas sequelas permanecem por décadas, com graves prejuízos à sociedade.
Um bom exemplo disso é o da condenação da biodiversidade e paisagem das serras que compõem a cordilheira do Espinhaço pela introdução proposital de espécies invasoras. No majestoso e imponente conjunto de serras que se origina ao sul de Belo Horizonte, lá pelas bandas de Ouro Branco e se estende até o território baiano são encontradas as maiores reservas de ferro do mundo, diamantes, ouro e topázios e suas nascentes nutrem os rios Doce, Rio das Velhas, São Francisco, e tantos outros que amenizam a seca do nordeste árido. Sobre essas serras, ora verdes, avermelhadas ou mesmo azuis, reside fauna e flora espetaculares da Caatinga, Mata Atlântica e do Cerrado e sem suas espécies o ambiente do Cerrado seria apenas uma savana qualquer.
Mesmo com toda essa riqueza e o reconhecimento da importância do capital natural, da importância da conservação e do mal que as espécies invasoras podem nos trazer, assistimos mais um crime contra este patrimônio. Basta uma viagem pelas estradas que cortam a região da Serra do Cipó, Conceição do Mato Dentro, Morro do Pilar, Congonhas do Norte, Serro, Diamantina para deparar com a introdução de espécies exóticas em áreas de proteção ambiental.
Na frente de mineradoras, que deveriam ser as primeiras a dar exemplo por estarem diretamente se beneficiando dos bens providos de graça pelos ecossistemas naturais, ocorrem paredões de espécies exóticas, que “esperam”, oportunisticamente, apenas um pequeno distúrbio natural ou provocado pelo homem (fogo, degradação, etc) para invadir as matas virgens, os campos rupestres e se espalhar se apossando de tudo à sua volta: das águas, da terra, das espécies nativas que florescem e transformam o ambiente montanhoso e seus campos em paisagens singulares. Essas espécies são verdadeiros exércitos alienígenas esperando por décadas a fio, sem pressa.
Dessa maneira, ao longo dessas estradas, nas minerações, nos plantios de eucalipto e de pastagens implantaram-se verdadeiras bombas relógio. A conta dessa atrocidade não é paga pelas empresas ou por aqueles que autorizam ou tem permitido e facilitado essas atuações.
Essa conta pesada e perfeitamente evitável é paga por toda a sociedade, que, em boa parte dos casos, não tem a mínima noção da invasão iminente.
Geraldo Wilson Fernandes é professor da Universidade Federal de Minas Gerais e Newton P. U. Barbosa é do Centro Universitário UNA
PARA CONHECER MAIS:
Barbosa, N.P.U.; Fernandes, G.W.; Carneiro, M.A.A. & Júnior, L.A.C. (2010) Distribution of non-native invasive species and soil properties in proximity to paved roads and unpaved roads in a quartzitic mountainous grassland of south-eastern Brazil (rupestrian fields). Biological Invasions, 12, 3745-3755.
Domingues, S.A.; Karez, C.S.; Biondini, I.V.F.; Andrade, M.A.; Fernandes, G.W. (2012) Economic Environmental Management Tools in the Serra Do Espinhaço Biosphere Reserve. Journal of Sustainable Development, 5, 180-191.
Fernandes, G.W.; Barbosa, N.P.U.; Magalhães, A.L.B.; Maurício, R.M.; Domingues, S.A. (2009) Sierra del Espinazo. In: Elke Schüttler & Cláudia Santiago Karez (Org.). Especies exóticas invasoras en las Reservas de Biosfera de América Latina y el Caribe. Montevideo: UNESCO Office Montevideo, p. 76-80.
Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade – http://www.icb.ufmg.br/labs/leeb/
EcoDebate, 23/08/2013
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Vou aproveitar o tema apenas para um registro do que dou por exemplo, em termos da minha condição de ativista ambiental e de atingido por um tipo de invasão vegetal.
Viajando por este estado e mesmo pela maior parte do pais, podemos observar os efeitos de uma dessas citadas invasões indesejáveis, como resultado de atividades econômicas que buscam mais rendimentos (lucros) para si sem avaliar as consequências para “o outro’, as comunidades, os gastos públicos, etc.
Tomo para exemplo o “Capim Colonião”, nome pelo qual é conhecido aqui em Minas Gerais.
É uma vegetação “importada” da África, pelos criadores de gados, pela sua condição se produzir grande volume de massa alimentar para o gado.
Hoje, décadas depois, e mesmo longe dos locais da atividade de criação de gado, vemos vastas áreas invadidas pelo “colonião”, seja em propriedades agrícolas de interior, sejam em qualquer propriedade marginal às rodovias pelas quais transitam ou transitaram, caminhões com cargas bovinas de animais vivos.
Uma vez plantada, basta uma touceira para espalhar sementes, sob a ação do vendo, para grandes distâncias círculo de entorno dela. A natural forma de reprodução da espécie, ou seja, por esta ação do vento.
Uma vez difundido o uso na alimentação bovina, passou a ocorrer outra forma: o “bosteio” que, caído no tabuado do piso da carroceria do veículo (caminhão), ou mesmo diretamente sobre a estrada (quando gradeada a carroceria) acabam se depositando na pista e suas laterais, mais quando se viaja sob forte chuva, e ainda mais nos inclinados em que se forma a enxurrada levando sua carga de semeadura: semente de colonião, já regada e adubada com caldo do esterco. Levadas e depositadas as sementes, pelas águas ou pelo vendo, em meio acolhedor, surgirão as novas touceiras de colonião a produzir mais e mais invasões por onde passam os bois, e por onde chegam as sementes “transportadas”.
Os governos, mantenedores dos espaços públicos, e os particulares, estes nos espaços privados, gastam rios de dinheiro para podar ou extinguir a invasão.
É um problema ambiental em larga escala.
Não é nativo. Foi causado pelos interessados em uma atividade específica. Os criadores de gado.
Mesmo que tenham abandonado o uso e o interesse pelo colonião, deixaram essa persistente invasora a incomodar a tantos por quase todo o pais.
Se sabemos a origem e a causação do problema ambiental e econômico que nos aflige, deveria ser a atividade como um todo a responsável por um programa de controle ou erradicação da “praga” em que se tornou.
Pior ainda é que muitos desistem do arrancar a touceira, pela dificuldade e dureza do fazê-lo, adotam o corte para aproveitamento ou queima das hastes, e prosseguem jogando o RoundUp na touceira cortada. E aí de problema como invasora, passa a uma herança de risco pelo uso do herbicida, sem conhecimentos ou precauções de controle.
Introduzo esse foco à difusão entre os interessados e autoridades. Já vi coisas piores em termos de “boa intenção” virar uma “danação, uma maldição, uma praga…”. Até que, enfim, eu o disse.
Parabéns, Hélcio, infelizmente, é a verdade, nua, dura e crua, e que eles não querem enxergar, se interessando mais mesmo pelo dinheiro, pelo poder. E a cada dia se agigantam mais, e compram TERRAS, e RIOS, e MARES, e a CONSCIÊNCIA ALHEIA, face aos fracos POLÍTICOS que dispomos. Sou Veterinário de formação, mas, hoje, um apaixonado por plantas e, até, coordenando um projeto pro revigoramento dos nossos mananciais, espoliados como nunca. Trabalhamos com plantas nativas e frutíferas, voltadas às MATAS CILIARES, POMARES, REVEGETAÇÃO, são de pequena monta, não há dúvida, mas o NOSSO BERÇÁRIO VEGETAL EM MORRO DO CHAPÉU está a fazer a sua parte.