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Por uma mudança política sem ‘miopia’, artigo Gilmar Passos

 

Manifestação na Avenida Paulista dia 20 de junho de 2013
Manifestação na Avenida Paulista dia 20 de junho de 2013. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

[EcoDebate] As manifestações brasileiras exigindo uma reforma política tem sido uma das ações de maior interesse no país do “futebol”. O interesse político se tornou popular. A linguagem é de que o “gigante acordou”. Mas há outros modos de se expressar onde se diz que o gigante não dormiu. Isso não importa, pois todas as teorias ou nomenclaturas vieram depois que os brasileiros saíram às ruas com objetivos comuns. O Brasil não será mais o mesmo depois dessa mobilização nacional.

A reforma política deve acontecer, sem dúvida. Há também uma reforma que precisa urgentemente acontecer para que aconteça essa reforma política de modo participativo, estou falando da reforma dos eleitores. A reforma política acontecerá indiscutivelmente com mudanças de leis mais transparentes e honestas, porém, se os eleitores não mudarem suas convicções pouca coisa será alcançada.

Os eleitores são peças fundamentais no jogo político. Num momento particular eles são considerados objetos necessários para que certos candidatos consigam se eleger a determinados cargos públicos. Nas últimas eleições vimos candidatos voltarem a assumir cargos públicos depois de serem comprovadas suas participações em roubos aos cofres públicos. Voltaram porque tiveram votos suficientes para que isso acontecesse. Infelizmente isso se repete muito desordenadamente.

Todos nós conhecemos muito bem quais foram os ladrões dos cofres públicos e dos sonhos de inúmeros brasileiros que assumiram uma cadeira numa das três câmaras: municipais, estaduais ou federais, por exemplo. Sabemos também que na conjuntura política brasileira eles chegam lá quando conseguem atingir um número considerado de votos ao cargo. E quem vota são os cidadãos brasileiros, os eleitores. Na cartilha popular reza a máxima de que os eleitores só têm valor no período de campanha política e nas proximidades de depositar seus votos nas ruas, quando votam eles perdem o valor.

Infelizmente tem sido povoado na consciência da maioria dos brasileiros o emprego da nomenclatura de eleitores dada aos cidadãos em período oficial de campanha política, mas precisamente aqueles que vão às urnas dar o seu voto. Depois desse período muitos não se consideram eleitores. Exemplo disso são as notícias dos jornais que não colocam que os eleitores foram às ruas exigindo uma política mais transparente e sadia. A maioria das notícias jornalísticas transmite a mensagem de que vândalos saíram às ruas os eleitores são baderneiros, depredadores de bens públicos. Infelizmente muitos brasileiros acabam assumindo isso como verdade.

Numa análise simples e segura dá para entender a necessidade midiática na mudança de nomenclatura de eleitores para vândalos, baderneiros, depredadores e outros adjetivos semelhantes. Sabemos muito bem que os brasileiros que são colocados nos cargos de chefes políticos são eleitores e muitos deles manipulam outros eleitores, todos somos cidadãos brasileiros. A manipulação é feita com o apoio das empresas midiáticas. Muitos jornalistas e jornais se vendem aos partidos políticos ou chefes políticos para fazerem o trabalho de divulgação dos interesses pessoais deles. A mudança de nomenclatura de modo depreciativo dada aos eleitores que não ocupam os maiores cargos públicos é uma maneira estratégica de confundir a consciência das pessoas.

Acredito que os acontecimentos atuais revelam aquilo que muitos queriam, ou seja, que os eleitores não votassem e fossem para as suas casas. Isso aconteceu há alguns anos atrás. A luta feita no período da ditadura exigindo democracia e mudança política no país alcançou o seu objetivo após uma batalha árdua. Após a ditadura os brasileiros estão enfrentando um novo sistema político e fica claro que as mudanças políticas só acontecerão verdadeiramente quando houver mudança nas pessoas. Não estamos na hora de mudarmos o sistema político, estamos no momento de mudarmos nossas convicções pobres e infantis.

Temos o direito de irmos às ruas e manifestarmos as nossas dores, angústias e dúvidas, não vamos mais gastar tempo aceitando as migalhas sociais para os menos favorecidos, nem do nosso país e nem do mundo de um modo em geral. Todos nós estamos cansados de saber que a maioria dos brasileiros recebe migalhas pelo trabalho prestado e por todos os direitos legais de nacionalidade. Sabemos também que a minoria que se encontra nos grandes cargos públicos goza de regalias exorbitantes e desnecessárias. Não podemos aceitar a má distribuição de renda entre os trabalhadores.

Os eleitores estão nas ruas porque cansaram de ver o sistema de manobra de ganância das sanguessugas nacionais. Muitos chefes políticos estão sugando a nação e inchando suas contas bancárias e seus bens patrimoniais. Todos nós sabemos disso, mas temos deixado isso acontecer, estar na hora de frearmos esses parasitas. “Não entendo” (não entendo=ironia) porque muitos eleitores permitem que esses parasitas continuem agindo!

É cobrado punição aos políticos corruptos. A justiça tem condenado muitos deles, mas os eleitores trouxeram-nos de volta ao sistema. Quem vota num candidato sabendo que ele é corrupto e elege-o, é corrupto igualmente, sem sombras de dúvidas. Todos os eleitores (me incluo na lista) participaram de algum modo nesse sistema de corrupção, mesmo que seja por engano.

O que precisamos é de brasileiros que busquem o bem altruísta, que sejam altruístas na política e nas urnas. Essa atitude já é um começo para desestabilizarmos a política corrupta tanto no Brasil, como em outros países ou instituições civis e/ou religiosas.

Os direitos humanos não podem ser violados por quem quer que seja. Sabemos muito bem que há violação nos direitos civis de manifestação provocada por eleitores corruptos não funcionais, ou seja, há pessoas em quantidade minoritária que aproveitam o momento para criar tumultos e baderna manchando a imagem daqueles que fazem manifestação pacífica.

Mas todo esse povo precisa ser ouvido e terem suas solicitações atendidas. Nada disso é pressão social contra o governo, pensando assim poderemos encontrar soluções pacíficas e honestas. O que realmente essas manifestações representam é um grito de socorro feito pela população diante do sistema político brasileiro e internacional que vem provocando dor e sofrimento às pessoas.

Uma das maneiras de ouvir essas pessoas é abranger o leque do olhar, ou seja, ver que as manifestações não estão apenas nas ruas, elas estão também nas redes sociais de internet. É preciso fazer um estudo das manifestações que acontecem nessas redes, por elas se percebe muita coisa inteligente e opiniões que podem ajudar o Brasil sair dessa crise generalizada.

As soluções para sair da grande crise tanto no Brasil como no mundo não vem de fora, elas estão misturadas em todos esses acontecimentos. O que se deve fazer é colher o positivo e essencial e tomar medidas coerentes de aplicação. Sabemos, no entanto, que o Brasil se aproxima das eleições e muitos candidatos estão de olhos nelas e o que eles estão pensando é saber como se beneficiar de tudo isso. Tomar medidas pensando nas eleições será muito prejudicial na resolução dos problemas correntes.

Se no Brasil, no momento atual, acontecer de fazer mudanças de modo coerente e sensato poderemos ser modelo para o sistema político internacional, pois ele também estar em crise generalizada. Não há como perdermos em tudo isso, só temos a ganhar. Os frutos bons vão depender da sensatez dos brasileiros em fazer transformar o sistema político e os eleitores em altruístas. Temos que curar nossa miopia política imediatamente!

Gilmar Passos, escritor, teólogo e poeta. Contato: gilmpasssos@hotmail

 

EcoDebate, 03/07/2013


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