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Pesquisa busca desenvolver estratégias de recuperação de áreas impactadas pela mineração de níquel

 

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Quais os impactos da atividade mineradora de níquel na biodiversidade dos complexos ultramáficos? Como recuperar as áreas degradadas pela atividade mineradora utilizando espécies vegetais e microrganismos nativos desses solos? É possível estabelecer vegetação sobre áreas degradadas pela mineração? Para responder essas perguntas pesquisadores da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolvem pesquisas em áreas de mineração de níquel em Barro Alto (GO).

Os estudos têm como objetivo avaliar o impacto da atividade mineradora de níquel na biodiversidade dos complexos ultramáficos de Barro Alto e propor estratégias e tecnologias de recuperação de áreas degradadas pela atividade mineradora, utilizando espécies vegetais e microrganismos nativos desses solos. O projeto, que encerra em dezembro deste ano, faz parte de um convênio de cooperação técnica com a Mineradora Anglo American do Brasil.

Os solos derivados da decomposição de rochas ultramáficas são caracterizados por altas concentrações de metais (níquel, ferro, magnésio, cromo e cobalto) e de baixa concentração de nutrientes como cálcio, fósforo e potássio. Na maioria das vezes, ocorre redução no desenvolvimento normal da planta e, por isso, é um desafio estabelecer vegetação sobre as áreas degradadas pela mineração.

Vegetação nativa

 

As melhores opções para recuperação das áreas de mineração de Barro Alto são as espécies nativas, pois são mais tolerantes a metais no solo. No entanto, mesmo nessas áreas, a distribuição das espécies vegetais e de microrganismos difere nos solos saproliticos (SAP), que ocorrem em áreas de relevo ondulado e dão origem ao “minério básico”, e nos solos latetíticos (LAT), em áreas mais planas de onde é extraído o “minério ácido”.

Dentre as mais de 100 espécies de plantas que foram identificadas na pesquisa, apenas 12% delas ocorreram nos dois tipos de solos e 55 % ocorrem exclusivamente sobre um dos solos. Estas informações, de acordo com os pesquisadores, são importantes no momento de definir estratégias de revegetação das áreas alteradas pela mineração, como fundo de cavas e taludes de pilhas de estéril. O cultivo de leguminosas não nativas nesse ambiente visa ao restabelecimento das propriedades do solo, para que ocorra mais rapidamente a colonização vegetal dos taludes.

“Testamos o plantio de algumas espécies conhecidas como adubos verdes, como feijão-bravo-do-ceará, crotalária, mucuna preta e stylosanthes guyanensis, espécie forrageira nativa no cerrado. Para a composição do “tapete verde” a ser formado sobre as pilhas de estéril, a espécie que apresentou melhor resultado foi a leguminosa do gênero stylosanthes. Apesar do crescimento lento e baixa produção de biomassa, o stylosanthes possui acessos com potencial para se estabelecer sobre este tipo de substrato”, explicou a pesquisadora Leide Rovênia de Andrade, coordenadora do projeto.

Outra medida importante para propiciar ambiente favorável para estabelecimento da vegetação sobre estes materiais é a fertilização mineral e a recolocação do solo “orgânico”, que corresponde à camada superficial do solo, rica em matéria orgânica, contendo restos de raízes, folhas, propágulos de microrganismos, semente, etc. A fertilização, com o acréscimo de fósforo, potássio e cálcio, nutrientes naturalmente deficientes nesses solos, também favorece o estabelecimento de espécies sobre as superfícies expostas nas áreas de mineração.

Diversidade microbiológica

 

Os resultados dos estudos sobre a diversidade microbiana (fungos micorrízicos e bactérias) nesses solos foram semelhantes ao das espécies vegetais, isto é, existem diferenças entre as populações microbianas que crescem nos solos SAP e nos LAT.“Caracterizar a diversidade e o funcionamento biológico do solo em ambiente ultramáfico é importante para restabelecer a qualidade de solos degradados na mineração”, ressalta o pesquisador Marco Pessoa. Para isso, os pesquisadores realizaram estudos sobre a microbiota de solo nas áreas nativas e isolaram microrganismos promotores de crescimentos tolerantes a níquel.

Mesmo com as características de solo aparentemente não adequadas para a sua sobrevivência, o pesquisador Fábio Bueno demonstrou que bactérias do gênero Burkholderia são capazes de fazer simbiose com plantas de Mimosa nativa nesses solos e promover o crescimento dessas plantas, que são tidas como pioneiras e figuram dentre as espécies vegetais predominantes nos solos ultramáficos da mineradora. Os estudos conduzidos pelo pesquisador Cícero Pereira também mostraram o efeito positivo de alguns isolados de fungos micorrízicos na colonização de raízes de plantas nativas.

Os próximos passos dos estudos com microrganismos compreendem a identificação de espécies e avaliações da tolerância a níquel; a caracterização de outros processos, além da fixação biológica de nitrogênio e absorção de fósforo, que podem promover o crescimento das plantas; e estudos de inoculação em substratos ultramáficos para cultivo de mudas/estacas em condições de campo. Dessa maneira, espera-se comprovar o potencial de utilização de plantas inoculadas com bactérias e fungos micorrízicos no plantio de áreas alteradas pela mineração (taludes de pilhas de estéril ou solos de fundo de cava).

Regeneração natural- os pesquisadores estão realizando nas áreas de mineração de Barro Alto testes de recuperação via semeadura direta de sementes de espécies nativas. “Considerando o crescente déficit na cobertura vegetal nativa nessas áreas, bem como as raras ações nacionais de recuperação de áreas degradadas utilizando espécies nativas consorciadas com adubos-verdes, os testes de recuperação representam uma estratégia importante que poderá acelerar o processo de regeneração natural”, destacou a pesquisadora Fabiana de Aquino.

A pesquisadora Leide Rovênia ressaltou que diversos desafios precisam ser superados, sobretudo quanto à geração de informações básicas. De acordo com ela, ainda é necessário organizar e gerar informações sobre a ecologia das espécies vegetais e de microrganismos promotores de crescimento nativos e monitorar, em longo prazo, experimentos de campo, na tentativa de aprimorar o planejamento de ações de recuperação de áreas degradadas.

 

Matéria de Liliane Castelões, da Embrapa Cerrados, publicada pelo EcoDebate, 28/06/2013


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