Educação e Consumo Sustentável, artigo de Marcos Paulo Gomes Mol
Educação e Consumo Sustentável, artigo de Marcos Paulo Gomes Mol
A construção de consumidores comprometidos com a preservação do meio ambiente produzirá uma pressão natural sobre as empresas
[EcoDebate] O progresso e a industrialização foram, nas últimas décadas, os lemes que direcionaram o mundo para uma evolução a qualquer preço. Como contrapartida, o desgaste dos recursos naturais que serviram de base para este avanço tecnológico foi impressionante. O atual cenário mundial traz preocupações quando se coloca em pauta as condições de vida no planeta.
A busca de soluções para a incompatibilidade ambiental trouxe à tona questões sobre a necessidade de se elaborar modelos de desenvolvimento sustentáveis, que definem formas de conciliar a evolução tão desejada com a preservação do meio ambiente. Segundo a pesquisadora Daniela Vasconcelos Gomes, “vive-se atualmente em um momento de transição, em uma verdadeira crise de valores. O paradigma antropocêntrico, que predominou durante toda a modernidade, ainda está presente em nossa sociedade, mas há sinais visíveis de que a lógica do mercado está destruindo a vida do planeta. Sendo assim, se faz necessária a mudança para uma visão de mundo biocêntrica, comprometida com todas as formas de vida na Terra.”
Tal mudança só será possível através da construção de novos valores na sociedade, através de programas de educação ambiental que proponham novas ideologias com relação à educação para o consumo, enfatizando uma visão total de mundo baseado numa postura ética, solidária e responsável.
A educação é apontada como uma das ferramentas mais importantes na construção de uma sociedade mais equilibrada quanto à utilização dos recursos existentes. E para a efetivação desta transformação, é necessário reavaliar uma série de desafios que as instituições de ensino enfrentam na atualidade, especialmente no que se refere à velocidade da informação (evolução da informática) e à falta de objetividade frente a um mundo saturado pelo modelo capitalista.
Daniela Gomes reforça ainda que “o foco da sociedade contemporânea não pode mais estar direcionado apenas para a produção de riquezas, mas para a sua distribuição e sua melhor utilização. É necessária uma verdadeira e efetiva mudança de postura na relação entre o homem e a natureza, onde não há a dominação, mas a harmonia entre eles.”
A educação ambiental é desenvolvida por meio de processos contínuos e interativos, e objetiva a formação da consciência, de atitudes, aptidões, capacidade de avaliação e de ação crítica no mundo. Ressalte-se que não se trata apenas de ensinar sobre a natureza, mas de possibilitar a compreensão da relação entre ser humano e natureza, e a construção de novas formas de pensamento, atitudes e ações. Sem uma mudança nos valores que orientam a sociedade, através da educação ambiental, não há como alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável. Assim, a educação ambiental é considerada instrumento indispensável na formatação de uma sociedade sustentável.
A educação do consumidor é considerada, então, fundamental neste processo de formação de uma nova consciência voltada para a preservação do planeta. A construção de novos hábitos de consumo reduzirá parte dos problemas ambientais da atualidade, que são fruto dos padrões impostos pela economia de mercado através da publicidade e que impõem um estilo de vida insustentável e inalcançável para a maioria.
A construção de consumidores comprometidos com a preservação do meio ambiente produzirá uma pressão natural sobre as empresas, e estas deverão conquistar e manter uma boa imagem perante o mercado através do desenvolvimento de bons produtos e serviços, sendo corretas nas relações com o meio ambiente e investindo ainda em questões sociais.
O atual padrão de vida assumido pela sociedade, em especial o padrão ocidental capitalista, é baseado num consumismo desenfreado que está em desacordo com o grau de oferta de recursos naturais, ou seja, este padrão não foi construído em um sistema de sustentabilidade. Algumas transformações são inevitáveis para que a humanidade possa sobreviver em harmonia com o meio ambiente. O conceito desenvolvido pela sociedade atual é que o ser humano necessita do meio ambiente para seu desenvolvimento, e dessa forma, o meio ambiente passa a ser “aquilo que está do lado de fora das cidades”. Perdeu-se a noção de que o ser humano é parte integrante da natureza, e este conceito é fundamental para a criação de uma sociedade equilibrada ambientalmente.
A sociedade contemporânea valoriza a imagem, o “ter”, e promove inevitavelmente a exclusão da parcela da sociedade que não tem condições de se inserir neste meio. Assim, observa-se no padrão de comportamento humano tanto uma descartabilidade dos produtos já consumidos, ou a serem consumidos, quanto das pessoas que não têm acesso a estes bens, que definem os padrões de sucesso humano.
O rompimento deste padrão de vida consumista, observado na sociedade atual, é urgente e depende da percepção e participação de cada um de nós.
Marcos Paulo Gomes Mol é Eng. Ambiental da Funed; Doutorando em Saneamento pela UFMG.
EcoDebate, 28/06/2013
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Marcos, você concordaria que há uma carência de análises instigadoras, e não menos provocativas, focadas na importância de modelos Interdisciplinares e Transdisciplinares, objetivando abordagens sempre mais sistêmicas dos problemas atuais? Podemos ver um clima de marasmo gritante nesse sentido, principalmente quando fala-se de Educação, tecno-ciências, novos hábitos e sustentabilidade.