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MS: Chamados de ‘sujos’ e ‘fedidos’, indígenas Kaiowá e Guarani são expulsos de sala de aula

 

 Jovens reunidos na aldeia Campestre, em encontro de professores, em 2012. Foto: Ruy Sposati/Cimi
Jovens reunidos na aldeia Campestre, em encontro de professores, em 2012. Foto: Ruy Sposati/Cimi

Cerca de 28 estudantes indígenas Kaiowá e Guarani da aldeia Campestre foram retirados de uma sala de aula de uma escola estadual em Antônio João (MS), sob a alegação de que eram “sujos” e “fedidos”. A denúncia foi realizada pelo conselho da Aty Guasu, grande assembleia Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul, no último dia 12, no Ministério Público Federal do estado, em Dourados, acusando os envolvidos de crime de racismo.

Atualmente, a comunidade de Campestre tem acesso, no próprio tekoha (aldeia), ao ensino básico e fundamental. Para cursar o ensino médio, os estudantes precisam sair da aldeia e estudar em colégios no perímetro urbano do município.

Segundo a denúncia, no dia 27 de fevereiro, o grupo de indígenas foi expulso da sala de aula da turma do primeiro ano do ensino médio matutino da Escola Estadual Pantaleão Coelho Xavier pelo diretor do colégio, pressionado por professores e estudantes não-indígenas.

 

“Disseram pros nossos estudantes que eles não deveriam estudar ali”, conta a liderança da aldeia, Joel Aquino. “Disseram aos nossos jovens que se eles continuassem estudando o ano todo, iam encher a sala e escola de terra, porque temos ‘pés sujos’. E ‘chulé’, que as indígenas femininas tem aquele cheiro de mulher”. O diretor colocou o grupo do lado de fora da sala de aula, enquanto o professor continuou dando aula para os não-indígenas. “Às vezes o professor ia lá fora passar alguma atividade para os indígenas”, diz Joel.

 

 

 Estudantes da escola da aldeia Campestre, em 2012. Foto: Ruy Sposati/Cimi
Estudantes da escola da aldeia Campestre, em 2012. Foto: Ruy Sposati/Cimi

Quando voltaram à aldeia, os estudantes relataram à comunidade o que havia acontecido. Joel conta que ele próprio e uma outra liderança da aldeia, em momentos diferentes, foram pessoalmente falar com o diretor da escola, que confirmou ter expulsado os jovens da aula por considerar que eles não eram higiênicos o suficiente.

 

“Depois disso, nossos estudantes não querem mais frequentar a escola por motivo de vergonha, tamanha a situação humilhante que passaram”. Segundo Joel, apenas três deles resolveram continuar frequentando as aulas na escola estadual. “O resto está perdendo aula, decidiram que não vão [para a escola]. Os três que estão indo disseram que o diretor decidiu que eles podem voltar pra sala de aula, porque são poucos. Mas que se voltar a ir todo mundo, eles não vão poder ficar na sala”, conclui.

 

Além do MPF, os relatos também foram encaminhados à Fundação Nacional do Índio (Funai) e a representantes da Secretaria de Direitos Humanos.

Matéria de Ruy Sposati, do CIMI – Conselho Indigenista Missionário, de Dourados (MS), publicada pelo EcoDebate, 21/03/2013


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2 thoughts on “MS: Chamados de ‘sujos’ e ‘fedidos’, indígenas Kaiowá e Guarani são expulsos de sala de aula

  • Heitor Karai Awá Ruvichá

    Puro Preconceito que chega agora à escola onde jovens e crianças estudam! Podem perceber pela foto que nenhum jovem ou criança têm a roupa suja ou nada que induza à repugnância! São jovens e crianças limpas! Trata-se de uma forma preconceituosa de afastar os jovens e crianças do Povo Guarani Kaiowá, perseguidos pelos fazendeiros ladrões de terras indígenas e até agora a Justiça Federal não tomou nenhuma providência porque os fazendeiro ladrões pertencem ao reduto eleitoral do PMDB, partido político associado ao PT, partido do atual Governo Federal!

  • joana darc aguiar

    É revoltante a prática preconceituosa contra povos indígenas. Diante deste fato que nos deixa indignados/as, bem que a escola poderia usar esta oportunidade para trabalhar a questão da ética e o respeito às diversidades. Grandes educadores propagam os valores humanos como condição fundamental para a cultura de respeito e de paz.

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