Individualismo e questões culturais dificultam adesão a carona solidária
Donos de carros mostram resistência a carona solidária – Proprietários de veículos alegam incompatibilidade de horários e trajetos e receio de perda de privacidade
Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, pesquisa sobre a prática da carona solidária mostra que a adesão ainda sofre resistências pelos proprietários dos carros. Embora os motoristas até reconheçam os benefícios para a saúde e para o meio ambiente, muitos alegam incompatibilidade de horários e trajetos, e até o receio de perder a privacidade ao participar. A administradora e mestre em Ciências, Sandra Costa de Oliveira, autora do estudo, defende a realização de um trabalho educativo em empresas e a implantação de políticas públicas que venham estimular o programa de carona.
A pesquisa procurou identificar os motivos que levam as pessoas a participar ou não da carona solidária na cidade de São Paulo. Ao mesmo tempo, verificou quais eram os conhecimentos, percepções e opiniões a respeito da relação entre saúde e meio ambiente, e de que forma eles influenciam a adesão. Ao todo foram entrevistados 256 funcionários de uma instituição pública hospitalar de grande porte da cidade de São Paulo. “Os participantes do estudo responderam um questionário com seis questões. Posteriormente, foram entrevistados 14 profissionais de saúde e pesquisadores das áreas de saúde e meio ambiente sobre o tema”, diz Sandra.
Na primeira etapa da pesquisa foram identificados 125 funcionários que possuíam automóvel, porém a maioria não mostrou interesse em aderir a um Programa de Carona Solidária. Entre as 131 pessoas que não possuíam carro, a maior parte se mostrou propensa em aderir ao programa. “A princípio imaginou-se que os donos de veículos resistiriam a participar alegando razões de segurança, mas este não foi o único fator evidente”, ressalta a pesquisadora. “Outros obstáculos à participação foram o individualismo e questões culturais. Alguns motoristas alegaram que preferiam estar sozinhos, indicaram incompatibilidade de horários e outros compromissos que impediriam oferecer carona.”
Qualidade de vida
Apesar das resistências, Sandra observou que os respondentes manifestaram preocupação com a degradação do meio ambiente. “Eles pensavam no futuro do planeta, nas futuras gerações, na qualidade de vida e também percebiam claramente que a poluição causa prejuízos à saúde”, ressalta.
A instituição hospitalar iniciou no ano passado um programa de carona solidária para seus funcionários. O cadastro de usuários interessados é gratuito, sendo feito no site especializado http://www.eco-carroagem.com.br/, existente desde 2009. “No acesso à página é possível fazer um cadastro e, por meio de uma senha, inserir trajetos e entrar em contato por telefone ou e-mail para combinar as caronas”, explica a pesquisadora.
De acordo com Sandra, os especialistas ouvidos na pesquisa ressaltaram a importância da carona solidária e apontaram que as ações para seu incentivo podem ser focadas nas empresas, pois dentro delas, entre os funcionários, há maior aceitabilidade, já que as pessoas são mais conhecidas. “Embora o transporte público seja imprescindível, políticas públicas também poderiam servir de estímulo para a população aderir à iniciativa, como por exemplo estabelecer a integração entre os transportes públicos e automóveis participantes do programa com estacionamentos reservados ou garantindo espaços de mobilidade em faixas exclusivas para os participantes”, ressalta.
Além do estudo, a pesquisadora divulga a importância da iniciativa organizando palestras sobre carona solidária e os efeitos da poluição do ar na saúde. “São apresentados vários benefícios adquiridos com a prática da carona, como a redução do número de carros nas ruas o que diminui a emissão de poluentes e ajuda a melhorar o trânsito. O menor tempo de percurso permite que os usuários fiquem menos estressados e disponham de mais tempo para usufruir do lazer”, conta. ”Além do ganho na qualidade de vida, também é possível reduzir gastos, já que as despesas de combustível podem ser divididas por várias pessoas que viajam no veículo.”
De acordo com Sandra, “o que falta para aumentar a difusão da carona solidária é um trabalho educativo mostrando como pode ser feita e os benefícios que poderá proporcionar”. A pesquisa é descrita na dissertação de mestrado Educação Ambiental para Promoção da Saúde com Trânsito Solidário, apresentada na FSP em 21 de fevereiro. O trabalho foi orientado pela professora Maria Cecília Focesi Pelicioni.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Matéria de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 19/03/2013
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