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O Cerrado de Barreirinhas, crônica de Mayron Régis

 

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[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] O seu nome é José Divan Garcês. Ele descende de um nobre espanhol chamado Sancho Garces III, cuja existência data do começo do século XI. Um dia, comunicou esse fato a um professor do município de Barreirinhas. O professor comentou com evidente desgosto que sobre a sua familia nada sabia. A família do Divan se espalha por parte dos municípios de Barreirinhas e Urbano Santos. Precisamente, os seus familiares moram próximos às cabeceiras do Anajás, do Estreito, do Jacú e do Cocal.

A sua conversa evoca seus antepassados e suas rotinas. Dirigir-se à cidade de Barreirinhas só por meio de barco e de jumentos. As viagens levavam dias ou semanas. As pessoas plantavam dez linhas porque viam nisso grandeza. Os seus parentes, moradores do povoado Gonçalo dos Moura, dormiram ao relento e pegando chuva, após suas casas serem incendiadas por pistoleiros a mando de um proprietário. Uma moça se negou a dançar com seu avô e este para diminuir a tristeza suplicou à mãe que pedisse outra moça em casamento. A moça negara a dança ao seu avô porque os seus níveis sociais diferiam muito. Os moradores do Anajás, povoado onde Jose Divan reside, doaram uma parte da Chapada para o pessoal das Tabocas.

Os bacurizeiros de Barreirinhas, finalmente, carregaram muitos bacuris em seus galhos. As cabeceiras do Anajás se emprenharam de bacuris verdes . Os povoados de Barreirinhas recebem gente de Anapurus e Brejo que perguntam sobre os bacuris. José Divan ironiza essas investidas dos compradores de polpa de bacuri, afinal a Suzano e os plantadores de soja desmataram a maior parte das Chapadas de Anapurus e de Brejo. Os plantadores de soja e a Suzano ilharam os moradores desses dois municípios em pequenas áreas de plantio e de extrativismo. Ou nem isso. Os moradores do povoado São João dos Pilões, município de Brejo, fabricam suas peças de artesanato com pequizeiros provenientes do município de Buriti. A coleta de bacuris, em São João dos Pilões, persiste graças a alguns moradores, mas os compradores rumam longe, em direção ao povoado Mamede, município de Barreirinhas, quando querem uma quantidade expressiva de polpa de bacuri ou de bacuris em natura.

Segundo Divan, os moradores do Gonçalo dos Moura apagaram de suas memórias o passado de humilhações ao venderem suas posses nas Chapadas para intermediários que as revenderam para a Margusa que planta eucalipto. As comunidades de Barreirinhas não foram consultadas sobre quaisquer projetos de plantio de eucaliptos em suas imediações. Assim Divan afirmou em reunião envolvendo as comunidades, a prefeitura de Barreirinhas e a fazenda Maranhão, propriedade da Margusa. Em que os plantios de eucalipto beneficiaram as comunidades próximas, perguntou José Divan? A empresa brindou as comunidades com telefone rural, campo de futebol e uniforme esportivo.

* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

** Crônica enviada pelo Autor e originalmente publicado no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.

EcoDebate, 14/03/2013


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One thought on “O Cerrado de Barreirinhas, crônica de Mayron Régis

  • Participei em abril do ano passado da Audiência Pública, realizada pela SEMA – Secretaria de Estado do Meio Ambiente, referente à implantação de uma unidade de produção de pellests, da Suzano Energia Renovável, em Chapadinha.
    Um verdadeiro absurdo o tal estudo de Impacto Ambiental (EIA) e um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
    Praticamente todo os participantes contra a instalando da indústria na região, sob alegação de que causará impactos sociais negativos, afetando ainda a fauna e a flora local, recursos hídricos e saúde da população.
    As nascentes do Rio Preguiças com grande impacto já pode ser notado. Como podemos admitir tanta destruição para plantio da soja em Chapadinha é visível a destruição.
    Nesta publicação podemos notar o grande estrago já fazendo efeitos em toda região. Produção sustentável da fibra do buriti o bacuri o açaí é notável a baixa produção e isso só esta no inicio. Será que o clima da região também já esta sendo afetado com a baixa incidência de chuva no interior do Parque Nacional? A região de morros e Rosário sempre tem chovido com maior intensidade. Temos de fazer parte na mobilização. Podem contar com mais um aliado nesta causa.

    Alexandre G Ugarte
    Empresário
    Membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Barreirinhas.

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