Chuí: a capital brasileira dos sem religião, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A cidade de Chuí, no Rio Grande do Sul, era famosa por estar no extremo sul do Brasil, sendo o município mais meridional do país, na fronteira com o Uruguai. Mas depois dos resultados do censo demográfico de 2010, Chuí ficou famosa por ser a única cidade brasileira com maioria absoluta de pessoas que se declararam sem religião.
Os dois últimos censos, do IBGE, mostraram que a cidade de Chuí tinha uma população de 5.167 habitantes em 2000 e 5.917 habitantes em 2010. O percentual de pessoas que se declaravam católicas, que eram maioria até os anos 1990, caiu para 42,5% em 2000 e sofreu um grande tombo para 22,4% em 2010. Mas, ao contrário de outros municípios onde a queda dos católicos foi seguida do crescimento dos evangélicos, no Chuí, o crescimento mais significativo aconteceu entre o grupo de pessoas que se declaravam sem religião, que passou de 38,5% em 2000 para 54,2% em 2010.
Outra característica especial da cidade de Chuí é que o grupo de pessoas que se declaram evangélicos – 352 indivíduos em 2000 e 443 em 2010 – perde para a soma daqueles que se declaram islâmicos (223 pessoas), espíritas (155 pessoas), testemunhas de Jeová (123 pessoas) e umbandistas (88 pessoas). Ou seja, o grupo classificado como outras religiões representava 15,8% da população de Chuí, em 2010, mais do dobro dos 7,5% de evangélicos.
Entre o grupo etário 0-14 anos, a queda do número de pessoas que se declaram católicos foi ainda maior do que na população total da cidade, passando de 40,7% em 2000 para 18% em 2010, enquanto as pessoas definidas com sem religião passou de 39,1% para 60,2% no mesmo período. Já no grupo de pessoas idosas, a presença de católicos é um pouco maior – 30,5% em 2010 – e a presença dos sem religião é um pouco menor – 45,9% em 2010.
No grupo etário de 15 a 64 anos – geralmente definido como a população em idade ativa – o percentual de indivíduos sem religião (53% em 2010) eram mais do dobro do percentual de católicos (23,1% em 2010), enquanto o percentual de indivíduos classificados em outras religiões (16,6%) era mais do dobro dos evangélicos (7,3% em 2010).
Por tudo isto, a cidade de Chuí pode ser classificada como a capital brasileira das pessoas que se declaram sem religião e é um dos municípios do país com menor percentual de católicos e evangélicos, que juntos, representavam somente 30% da população chuiense, em 2010. Chuí é, portanto, a cidade menos cristã do Brasil, este país continental, cheio de surpresas.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 06/02/2013
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Em meio à escalada religiosa-evangélico-fundamentalista no Brasil, é bom saber que ainda existem bastiões de ateísmo.
O fato de um brasileiro, chuiense ou não, não se declarar nem católico nem evangélico, não necessariamente está declarando-se ‘naõ-cristão’. Feliz ou infelizmente, nossos valores são predominantesmente cristãos, especialmente naqueles que muitas vezes se consideram ateus.
Um grande e fraerno abraço
Paulo Mancini i
José Eustáquio Diniz sempre traz artigos com informações relevantes para o entendimento de questões importantes no mundo e no Brasil. A questão religião no Brasil é bastante preocupante dado o crecimento do fundamentalismo religioso, assentado na capitalização de igrejas ás custas do parco dinheiros dos seus fiés, e na doutrina do medo das forças de satan e da demonização de outras crenças como o candomble e da indígena. Tenho visto automóveis, motos, lojas e outros bens materiais com os dizeres “Propriedade de Jesus”, out doors anunciando que o “Salário do pecado é a morte” e isto são só dois exemplos do que se está divulgando dessas igrejas. Chui é um alento.
Parabens a Chuí pelo exemplo maravilhoso que está dando ao Brasil, e ao Dr. José Eustáquio Diniz Alves por artigo por artigo de tamanha importância.
Caro Bruno Versiani,
Calma lá com o andor por que o santo é de Barro.
O conjunto “Ateus” pode estar contido no conjunto “Sem Religião”, mas não necessariamento são iguais.
Na minha família ninguém tem religião, mas todos acreditamos em Deus, ou numa Força superior.
Respeito muito os ateus, mas preocupa-me quando os mesmos tornam-se tão militantes e fundamentalistas quanto alguns religiosos são.