Índios Pukobjê-Gavião decidem combater extração ilegal de madeira no Maranhão e pedem presença da PF
Índios Pukobjê-Gavião da Terra Indígena Governador, em Amarante (MA), apreenderam, na semana passada, quatro caminhões e um trator que transportavam cerca de 20 metros cúbicos de ipê e de sapucaia derrubados por madeireiros que atuavam irregularmente no interior da terra indígena, localizada a cerca de 110 quilômetros de Imperatriz. Com medo de represálias dos madeireiros, os índios pedem a presença da Polícia Federal na reserva indígena.
A apreensão provocou revolta de moradores da cidade e continua gerando medo entre os índios, que, mesmo assim, prometem agir para impedir que os madeireiros continuem agindo impunemente no interior da terra indígena. “Estava demais. Eles estavam se aproximando cada vez mais das nossas aldeias, nos desrespeitando e levando nossas árvores”, disse à Agência Brasil, por telefone, Ubirajara Guará, cacique da Aldeia Nova, uma das três existentes no interior da reserva.
Os Pukobjê-Gavião temem que, sem a presença da Polícia Federal (PF) na área, os madeireiros prejudicados pela iniciativa indígena cumpram os boatos que tem corrido na cidade. “Andam dizendo que madeireiros prometeram pegar um por um os líderes das três aldeias. Isso quem disse foram as pessoas de fora da aldeia com quem temos contato. Tememos que aconteça algo como o que já ocorre em várias partes do país, onde índios são mortos. Por isso pedimos a presença da Polícia Federal”, disse o cacique.
Ubirajara afirma que ao menos um índio foi agredido durante os tumultos ocorridos em Amarante na semana passada e que, esta semana, desconhecidos sabotaram o fornecimento de energia elétrica para a Aldeia Nova e espalharam tábuas com pregos na estrada próxima à entrada da Aldeia Governador. Além disso, alguns comerciantes deixaram de atender aos índios.
Inicialmente, nem os próprios policiais federais e fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) escaparam de ser alvo dos protestos de pessoas contrárias à iniciativa indígena. Procurada, a assessoria da PF revelou que uma das viaturas policiais foi atingida por dois tiros durante os protestos da semana passada.
O gerente executivo substituto do Ibama em Imperatriz, Felippe Dias Lucas, disse à Agência Brasil que ele e outro fiscal ambiental, além de seis policiais federais, foram impedidos, por falta de segurança, de levar para Imperatriz (MA) os caminhões e o trator apreendidos pelos índios, tendo que permanecer na aldeia até que policiais militares deslocados de cidades próximas chegassem à Amarante. Segundo Lucas, ao menos 60 pessoas participavam dos protestos e muitas estavam visivelmente alcoolizadas.
“Fomos acionados pelos próprios índios e chegamos à aldeia por volta do meio-dia do dia 15. Só então soubemos da manifestação na cidade e que populares, provavelmente incitados por madeireiros, tinham feito uma barreira na estrada que liga a aldeia ao município. O delegado federal tentou negociar com alguns manifestantes o fim do bloqueio, mas como não obteve sucesso, tivemos que permanecer na aldeia até a madrugada do dia seguinte, quando chegou reforço policial e o número de manifestantes diminuiu”, disse o gerente executivo a Agência Brasil.
Após essa primeira tentativa, as autoridades retornaram a Amarante na madrugada de quinta-feira (17). Dessa vez o grupo era formado por 16 agentes federais, 30 policiais militares e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai). Segundo a assessoria da PF em Imperatriz, o aparato policial serviu para coibir novos protestos e o grupo, enfim, conseguiu transferir os veículos apreendidos para o pátio da Funai, em Imperatriz. Já a madeira extraída ilegalmente permanece na aldeia, à espera de que o Ibama conclua o processo de apreensão.
Esta não é a primeira vez que algo parecido ocorre em Amarante. Em 2010, homens armados invadiram a aldeia Rubiácea, na mesma Terra Indígena Governador, para tentar recuperar três caminhões carregados de madeira ilegal apreendidos durante a Operação Arco de Fogo, do Ibama.
“Naquela e em outra regiões do estado há poucas áreas com potencial para fornecer madeira legalmente. Isso faz com que a pressão sobre as terras indígenas e outras áreas de proteção ambiental seja muito grande. Além disso, a Terra Indígena Governador é um alvo fácil, já que fica muito próxima a Amarante”, explica Lucas.
Para o missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Maranhã, os órgãos responsáveis, sobretudo a Funai, não está conseguindo dar uma resposta satisfatória aos problemas da Terra Indígena Governador. “Daí os próprios índios estarem tomando suas medidas. Só que, com isso, a tensão tem crescido e o clima de animosidade de parte da população contra a comunidade está crescendo”.
Ubirajara disse que como as autoridades dificilmente conseguiam flagrar a extração ilegal de madeira na terra indígena, os Pukobjê-Gavião decidiram criar grupos para vigiar a área. “Nossa impressão é que os madeireiros eram avisados da operação e, por isso, os governos gastavam um dinheirão e nunca pegavam ninguém. Por isso montamos nossa própria estratégia. Não temos poder para prender ou multar ninguém, mas podemos apreender o material de quem está acostumado a ganhar dinheiro fácil desrespeitando nossa terra e comunicar as autoridades”.
Para evitar retaliações, a comunidade está limitando o acesso de pessoas estranhas ao interior da reserva, interrompendo após as 18 horas o tráfego de veículos pela estrada que corta a terra indígena e que liga Amarante a Campo Formoso. De acordo com o cacique, a passagem só é permitida à ambulâncias e em casos de emergência.
Questionada sobre o assunto, a assessoria da PF informou que a delegacia de Imperatriz tem apenas 22 agentes, um efetivo pequeno para viabilizar operações permanentes no interior da reserva indígena. A PF assegurou ainda que, sempre que acionada ou necessário, realiza ações pontuais, mas que não há, por enquanto, nenhum plano sendo discutido em função do medo dos índios de sofrerem represálias.
Edição: Fábio Massalli
Reportagem de Alex Rodrigues, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 24/01/2013
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