Métodos de convivência com a seca serão catalogados para servir de orientação a outras famílias
Desertificação: fenômeno atinge 18% do território nacional.
Mais de 8 milhões de brasileiros sofrem com o atual período de semiaridez, definido por especialistas como a pior seca dos últimos 40 anos. Reduzir os efeitos da estiagem e aprender métodos de convivência com o problema são objetivos do projeto lançado pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa) e Rede de Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), com o apoio do Ministério do Meio Ambiente. A iniciativa catalogará, a partir do próximo mês de março, estratégicas e métodos já utilizados por pequenos agricultores para enfrentar e conviver, de forma sustentável, com a situação, tanto na região Nordeste como em parte Minas Gerais.
“Essas práticas vão desde as coisas mais simples, como quantidade correta de água usada para irrigação, até estratégicas mais elaboradas, como o manejo florestal sustentável para produção de lenha e outros produtos”, explica o diretor do Departamento de Combate à Desertificação da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Campello. A ideia é que outras famílias possam conhecer e praticar aquilo que já vem sendo feito com sucesso por pequenos produtores da agricultura familiar, assentamentos da reforma agrária, dentre outros, nos estados que sofrem com o problema.
ANÁLISE
Segundo um dos coordenadores da iniciativa, responsável pelo projeto dentro da Rede ASA, Antônio Barbosa, casos de sucesso no convívio com a seca em 900 famílias de nove estados serão analisadas e posteriormente registrados e catalogados. Localizadas nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, essas famílias analisadas já vêm desenvolvendo estratégias, nos últimos anos de forte seca, com estruturas e práticas que garantem segurança alimentar e em algum casos, ainda, geram renda a essas famílias. “Alguns até conseguem passar pela estiagem quase sem perceber”, ressalta o coordenador.
A expectativa do grupo é apresentar as primeiras propostas e resultados de pesquisas até o final deste ano. Com a conclusão dessa, que é a primeira fase do projeto, em 2014, durante a segunda fase, serão selecionados os exemplos com maior impacto e caráter inovador e que podem ser multiplicados com facilidade pelas famílias do semiárido. Com o apoio de centros de pesquisa e universidades, serão realizados estudos de caso para avaliar, de forma científica, os impactos das estratégias na qualidade do solo e das sementes. Por fim, com base nos resultados apurados, serão formuladas sugestões de políticas públicas e de ações para outros institutos e organizações socais que atuam na região.
Construção de cisternas de baixo custo para armazenamento de água por maiores períodos e adoção de práticas corretas de irrigação (água em excesso causa o acúmulo de sais minerais que também em excesso fazem mal e causam a degradação do solo), são algumas práticas de convívio com a semiaridez já adotadas por produtores das regiões que sofrem com a seca.
MANEJO
Além disso, algumas famílias já adotam projetos de manejo florestal comunitário sustentável de uso múltiplo, promovendo o planejamento ambiental de assentamentos, tornando recursos florestais em ativos ambientais, gerando renda para as famílias e assegurando a conservação da biodiversidade. O manejo florestal de uso múltiplo além de ofertar lenha (biocombustível solido), promove a segurança alimentar dos rebanhos e das famílias, por meio da oferta forrageira e de produtos como frutas e mel.
Hoje, 16% do território brasileiro são áreas que sofrem com a desertificação, abrangendo 1.488 municípios (27% do total de municípios brasileiros), e uma população de 31.663.671 habitantes (17% da população brasileira). Nestas áreas habitam 65% dos cidadãos considerados pobres do país, e nesse momento, com 8 milhões sendo afetados diretamente, pela maior seca dos últimos 40 anos.
Texto de Sophia Gebrim, do MMA, publicado pelo EcoDebate, 08/01/2013
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