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Falta de manutenção adequada em piscinões ameaça combate a enchentes em SP, diz especialista

 

Piscinão aguarda limpeza e manutenção por parte do Governo do Estado - Piscinão, no Jardim Nova República. Foto Prefeitura de Embu das Artes
Piscinão aguarda limpeza e manutenção por parte do Governo do Estado – Piscinão, no Jardim Nova República. Foto Prefeitura de Embu das Artes

 

Os piscinões, reservatórios que têm como função substituir as várzeas dos rios que foram removidas ao longo do tempo com a urbanização, representam um alívio contra as enchentes e alagamentos na capital paulista. No entanto, na avaliação do engenheiro civil e sanitarista consultor do Instituto Polis, Sebastião Ney Vaz, a solução técnica, que traz efeitos diretos no combate às enchentes, estaria ameaçada pela falta de manutenção adequada.

“A situação é muito crítica em termos de conservação. Tanto a prefeitura como o estado deixaram de fazer as devidas manutenções ao longo do ano”, disse. De acordo com o especialista, esse importante trabalho preventivo deveria ter começado em julho, mas teve início tardiamente. “A prefeitura só está começando essa limpeza agora, é muito tarde”, completou.

A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, por sua vez, nega que o trabalho de manutenção não esteja sendo feito. “A manutenção dos piscinões é feita constantemente”, informou por meio de nota. O órgão diz ainda que todas as regiões da cidade têm sido mantidas sem problemas de alagamentos causados por piscinões. “O trabalho de limpeza obedece a critérios técnicos e de logística. A execução do trabalho é gerenciada por profissionais técnicos, conhecedores do assunto”, ressalta.

Embora não resolva de maneira estrutural o problema das enchentes em São Paulo, os 20 piscinões existentes na capital, com capacidade para armazenar mais de 5 milhões de metros cúbicos de água, significam redução nas enchentes. Para o entorno do Córrego Aricanduva, na zona leste da capital, por exemplo, o engenheiro reconhece que os quatro reservatórios acabaram com alagamentos antes recorrentes. “Eles são suficiente para lá, porque você consegue segurar toda essa água na parte alta e não deixa que a água chegue rapidamente”, explicou.

O Córrego Aricanduva, recebeu por parte da administração municipal maior atenção. “Nós demos prioridade ao Aricanduva. Nos últimos oito anos, tivemos dois pequenos alagamentos depois das obras concluídas”, declarou.

O engenheiro disse que a ocupação urbana acelerada das regiões próximas ao córrego contribuiu para o agravamento das enchentes nos últimos anos. “O que ocorreu na região do Aricanduva é que impermeabilizou muito rápido toda a bacia. Aí, quando você pensa em uma enchente, é que você tem que pensar na bacia como um todo, extremamente impermeabilizada”, explicou.

Para a arquiteta e urbanista do Instituto Polis, Margareth Uenura, a construção de piscinões é apenas uma solução paliativa. “O piscinão é a retenção, enquanto solução técnica. Você retarda o problema, impede que a água chegue em um lugar mais crítico. Ela só chega com um pouco mais de lentidão”, ressaltou.

Segundo Margareth, a capital como um todo tem diversos problemas que prejudicam o controle das enchentes. “As soluções são várias e diversificadas, são pontuais. E existem soluções que só servem para aquele determinado lugar”, disse.

O combate ao problema, na opinião da arquiteta, é dividido em duas frentes. Uma está ligada à limpeza e conservação, como coleta de lixo, manutenção de bocas de lobo, varrição e manutenção do sistema de drenagem. A outra é mais estrutural, como obras de drenagem e habitação. “Se você consegue ter um bom plano diretor e um bom controle de uso e ocupação do solo, em tese, você vai diminuindo para as próximas décadas os problemas. Então, tem que pensar estruturalmente e planejar a cidade”, declarou.

Segundo Margareth, a drenagem da água na cidade passa também por um importante obstáculo, a existência do grande número de habitação inadequadas. “É preciso prever drenagem para essas áreas. A gente está cheio de urbanizações irregulares na cidade, áreas em que obras precisam ser feitas para corrigir os assentamentos. Elas [obras] estão sendo feitas, mas nunca são o suficiente para você impedir as enchentes que estão acontecendo”.

Os assentamentos precários, em grande parte, margeiam córregos que frequentemente transbordam em época de chuvas, além de trazer riscos para a segurança dos próprios ocupantes.

Segundo o mapeamento feito pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) em 2009, a cidade apresentava 407 áreas de risco. De acordo com a prefeitura, já foram removidas mais de 4 mil famílias em áreas de alto risco. De 2008 até outubro de 2012, houve 408 intervenções nesses locais, um investimento de R$ 142,2 milhões em obras e serviços.

O engenheiro Ney Vaz defende, além disso, que as moradias irregulares sejam removidas para construção de parques lineares. “Esses parques são uma proposta muita nova. Existem poucos na cidade. A ideia é você devolver a Mata Ciliar aos córregos para que segure um pouco mais, tenha mais áreas permeáveis para que não entre rapidamente toda a vazão da chuva dentro dos córregos”, explicou.

Porém, o engenheiro alerta que os benefícios proporcionados por essa forma de combate às enchentes deve demorar para se tornar efetiva. “Isso [a construção de parques lineares] é um processo muito lento. Vai demorar, porque agora que se começou a pensar um pouco mais nisso”, disse.

A solução mais eficaz, na opinião dele, seria a implementação de mais obras pelo município. “Nós precisamos de obras em São Paulo, obras grandes para resolver esses problemas”.

Reportagem de Fernanda Cruz, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 07/01/2013


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