Sustentabilidade e o legado da copa VI (Final), artigo de Roberto Naime
Mascote da Copa do mundo de 2014 (Imagem: Fifa/Divulgação)
[EcoDebate] A ideia é que a próxima copa a ser realizada no Brasil seja a primeira totalmente “verde”. O que isto significa? Que todos as concepções e iniciativas aqui exaustivamente discutidos sejam respeitados e inclusive que a emissão de gás carbônico seja totalmente neutralizada num procedimento que é denominado no mercado de “carbono zero”.
Conforme já discutido, há um enorme potencial de disseminação didática de um conceito da maior importância principalmente em classes sociais mais populares onde o conhecimento desta realidade é sempre difícil ou até negligenciado.
A grande contribuição da obra, entre várias informações preciosas garimpadas de realidades diversas dos países considerados é de uma obviedade singela mas ao mesmo tempo de uma importância vital.
Estamos todos no mesmo barco, este barco se chama planeta terra e tudo que alguma das partes interessadas ou dos navegantes do mesmo barco fizer para esta terra vai envolver e comprometer a todos os participantes desta indescritível viagem chamada vida e que ocorre na terra.
Fosse esta concepção realizada por qualquer ser humano talvez não ganhasse a importância e a dimensão de ter sido realizada por um importante e reconhecido ator do cenário internacional. Nicholas Stern tem currículo, histórico e credibilidade para tornar translúcida a concepção de que todos estamos vinculados na missão ou no caminho de construir o caminho para um mundo mais sustentável.
Neste sentido não importa se as obras decorrem de um caderno de encargos da copa que visa garantir a qualidade de um evento de alta grandiosidade. As populações beneficiadas vão usufruir de tudo após o término do evento e agradecem independentemente da motivação que gerou a instalação da benfeitoria ou infraestrutura considerada.
O legado prático da copa podem ser obras de infraestrutura e mobilidade cuja execução é de extrema relevância e que trarão significativa melhoria na qualidade de vida das populações beneficiadas após o término do evento copa do mundo.
São avenidas, ruas, metrôs, corredores expressos de transporte, obras gerais de saneamento envolvendo resíduos sólidos, drenagem pluvial, tratamento e distribuição de água e esgotos e mais uma série muito longa de benfeitorias que certamente serão usufruídas por parcelas significativas da população após o término do evento e que representam alteração relevante da qualidade de vida nos locais em que ocorrerem.
Em nossa realidade de pais em desenvolvimento com grandes contrastes sociais, ainda tem pouca penetração a realização de eventos de carbono neutro, embora já existam até cartões de crédito que se alicerçam neste conceito.
A copa do mundo ao patrocinar eventos que se caracterizem pela neutralização de carbono, divulga e populariza uma realidade de extrema importância, onde a sustentabilidade transcende fatores operacionais, alcançando objetivos diretos de favorecer aspectos ligados aos meios físico e biológico e desta forma indiretamente ao próprio meio antrópico.
Por outro lado, conforme já destacado, todas as obras que se fazem para melhorar infraestrutura de saneamento, mobilidade e outras obras, permanecem e vão melhorar as condições de vida de toda população que aqui vive, após o encerramento do evento.
E desta forma possibilitar que no conjunto existam grandes avanços para que a humanidade possa atingir de uma forma mais veloz um consenso sobre a conceituação de sustentabilidade e assim possa atingir acordos globais que ainda não foram obtidos em encontros internacionais patrocinados pela Organização das Nações Unidas tanto sobre questões vinculadas a aquecimento global e mudanças climáticas, quanto em fóruns onde o escopo é a eliminação da pobreza.
Hoje existe um consenso de que são necessários o estabelecimento de pactos sociais com ampla participação popular. Mesmo que ainda ocorram grandes interferências geradas por diferenças de situação econômica e aplicação sistemática de recursos, todos convergem para a ideia de que as soluções técnicas devem se subordinar às necessidades sociais avaliadas e expressas. E para tanto é necessário participar e dialogar à exaustão antes de finalizar qualquer decisão.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 03/01/2013
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