A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens: As metrópoles tem futuro? por Paulo Sanda
As cidades estão crescendo, ou melhor estão inchando. Em 1789 a população mundial era de 20 milhões de pessoas. Hoje só em São Paulo temos cerca de 20 milhões de pessoas, toda a população mundial de então agora numa cidade só. Sem contar as outras maiores cidades do mundo como Cidade do México, Mumbai, Délhi, Seul, Nova York, Rio de Janeiro, etc.
A cidade vive a pluralidade de gente, de cultura, de raça e de problemas de desigualdade social, poluição, congestionamentos, etc.
A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens: As metrópoles tem futuro?
“porque o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe”
[EcoDebate] Alguns acreditam que estamos às portas do fim do mundo, este mito já causou inúmeros estragos em várias civilizações. Recentemente tem sido mais fonte de lucros para indústria do cinema, do que de terror para as pessoas, se formos usar números como referência.
Da última vez que receamos o fim do mundo, o medo era do Bug do Milênio. Quem não se lembra, do pânico gerado na virada para o ano 2000, os computadores iriam parar, e a civilização entraria em colapso.
Sabem quando eu era criança, meu pai era bancário. Da década de 70 me lembro de ir visitar meu pai, na agência do banco Real em Jundiaí, na qual ele trabalhava, via ele e os demais funcionários fechando o movimento, com fichas e calculadoras de manivela ou no máximo elétricas, isto mesmo elétricas, não estou falando em eletrônicas, pois o que elas tinham era um motor elétrico, e assim ao invés de puxar a manivela, bastava apertar o botão para rodar e “carimbar” o resultado da conta na tira que saia do rolo de papel.
Trinta anos depois estou falando do ano 2000, estes equipamentos não passam de coisas de museu. Tudo é controlado por computadores, não se podia nem imaginar nossa vida sem os computadores. Não seria realista.
Por falar em realismo, a frase que estamos usando como sub-título é de um livro surreal da bíblia, o Apocalipse, que além de surreal, tradicionalmente sempre nos remeteu a esta questão do fim do mundo, ou fim dos tempos.
Acontece que este tipo de literatura, a Apocalíptica, não deve ser vista como uma premonição do que vai acontecer, aliás as profecias na bíblia não são premonições sobrenaturais sobre o futuro, mas sim denúncias realizadas com base no que se observava, e a partir dai, o castigo de deus, que sobreviria.
Na antiguidade, todos os males eram atribuídos a castigos divinos, hoje isto não acontece mais. Sabemos que a lepra, por exemplo não é maldição de deus, mas uma doença curável. Mesmo aquelas que não tem cura, em geral, sabemos suas causas, e não são de origem divina ou sobrenatural.
Enfim, a realidade não permite mais que acreditemos nestas coisas. O que é muito bom, no sentido de que não somos mais reféns de um “misticismo” que foi usado durante séculos para manter o poder opressor, o Status Quo de regimes “religiosos”. Lógico entendemos que, existem nichos que ainda fazem uso desta “mistica”, retocada e “reformada” obviamente para servir ao encanto de nossos dias.
Refiro me ao encanto do império. Aquele para o qual desde a mais tenra infância somos educados para crer em seus dogmas. O encanto do consumo, que é o pilar dos dogmas da economia de mercado do neo-liberalismo.
Mas nesta loucura toda de realidade e realismo, o que será REAL?
As obras faraônicas que estão sendo feitas agora, implantando usinas hidroelétricas dizem ser, para quem as defende, vitais para o desenvolvimento do Brasil.
É verdade que o Brasil, é digamos assim, a bola da vez. Considerado a sexta economia mundial, os tupiniquins estão em posição invejável, em relação ao resto do mundo em desenvolvimento. E estas obras de infra-estrutura são importantes para manter este ritmo de crescimento para o pais.
As obras de Belo Monte por exemplo, como apareceu por estes dias na televisão, geram milhares de emprego em Altamira. E as riquezas que serão geradas depois com a indústria da mineração que ganhará esta nova “bateria” feita de água, floresta e sangue, irão ajudar a manter o país da Aquarela em seu alegre samba enredo. Isto é realismo, vivemos um sistema de mercado, e estes são os pressupostos básicos para se manter nele, e fora do sistema de mercado não existe “salvação”.
Os analistas econômicos, os políticos, empresário que defendem esta e outras obras, não cansam de dizer, que está é a REALIDADE, que na VERDADE o Brasil precisa destas obras para crescer, que a VERDADE é que estão e serão gerados mais empregos.
Ainda nesta mesma linha, vamos falar das grandes cidades como São Paulo, por exemplo. Entre os indicadores que demonstram a saúde da economia, esta a venda de automóveis. Aqui em São Paulo, já se chegou a conclusão que se todos os carros forem as ruas, teremos um grande congestionamento, do tipo, todas as ruas da cidade paradas. Estamos quase lá.
Mas é preciso vender mais automóveis, para manter a economia nos trilhos, onde eles vão andar é outra questão. Sabem aquela música do Zé Ramalho? “Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no jornal”
Pois agora os automóveis não só ouvem a notícia, eles podem ouvir no rádio, como diz a música, mas também podem ver na televisão, via internet, etc. E sobra tanto tempo nos engarrafamentos, que se você estiver como eu estava outro dia, com um notebook e uma conexão 3G(lentinha tá certo, mas às vezes quebra um galho), poderá publicar no Blog, no Facebook, no Twitter, Slideshare, etc, etc, etc.
Falando em gadgets, olha outra “realidade”, que faria eu naquele dia se não estivesse de posse dos meus poucos mas eficientes gadgets.
Aliás eu disse, poucos?
Afinal a VERDADE é que precisamos estar sempre atualizados, ver no mundo o que se passa através de nossos Smartphones, celular entre outras coisas, serve também para fazer ligações, mas isto é acessório. Um acessório que hoje nos possibilita dizer – “a gente se encontra lá”. O lá é meramente uma referência linguistica, pois não importa onde, quando chegar a hora, nos falamos nos comunicamos via celular, digo comunicamos, pois pode ser por voz, texto, ou até imagem. Então de um jeito ou de outro nos encontramos. Só que na VERDADE, isto importa menos ainda. O nós encontramos, pois indo ou não estamos “conectados” via redes sociais por exemplo. Então na VERDADE, se encontrar de FATO, é quase irrelevante.
Porque se encontrar de FATO, é REAL, mas não REALIDADE, de realidades temos as virtuais.
Por falar em realidades virtuais, a do progresso econômico, que gira os números do capital em redes de computadores, trocando matéria por sinais eletrônicos que indicam Reais, Dólares, Euros, etc. Fazem parte da REALIDADE em que vivemos. Por isto os que defendem todo este sistema dizem sempre que isto é ser REALISTA, pois ser romântico e pensar nas florestas REAIS, que são devastadas para que sejam construídas usinas hidroelétricas, pastos para agropecuária ou imensas planícies mono cultivadas, tudo isto para gerar na realidade virtual a incansável dança de dígitos, pensar nos povos REAIS da floresta, que vivem ali muito antes da invasão do Brasil pelos portugueses. Sim, pois na realidade que aprendemos, o Brasil e as Américas foram descobertos, só que aqui já haviam pessoas REAIS, de carne e osso, pessoas hoje que hoje, devem morrer, para dar espaço ao REALISMO do progresso.
Um progresso, que na virtualidade dos grandes eventos que se aproximam, nos leva a investir bilhões em infra-estrutura para os grandes eventos turísticos, Copa do Mundo e depois será a vez das Olimpíadas, enquanto pessoas REAIS, morrem em filas nos hospitais esperando atendimento, ou estudantes REAIS, ficam sem escola, ou quando tem, a qualidade é de última categoria.
Acontece também que o sujeito sem teto, não diz, na REALIDADE eu não tenho onde morar, ele apenas sofre sua situação de desabrigo, o sujeito com fome, não faz discurso de sua situação, talvez seja porque não consegue nem falar, assim de barriga vazia. Os índios também REAIS, parecem que aos poucos vão passando para a virtualidade de uma história, que não sabemos ainda como será contada, quer dizer sabemos sim, que não será contada por eles, uma vez que em breve não passarão de mitos heroicos de um passado.
Mas voltando a realidade da grande metrópole, será que ela é possível?
Não sei lhe responder, mas te dou um dica, envie já uma mensagem, avisando que não conseguira chegar no seu compromisso por causa do transito. Pois se você demorar muito, a rede também vai ficar “congestionada” e você não conseguirá mais nem ligar nem enviar mensagens.
Paulo Sanda é Teólogo, chefe escoteiro, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH e tem sido ativo participante das manifestações Belo Monte NÃO, em São Paulo.
EcoDebate, 14/12/2012
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