Brasil perde o seu mais importante arquiteto do século 20: morreu Oscar Niemeyer
O mais importante arquiteto brasileiro do século 20 nasceu no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907 e morreu na noite desta quarta-feira (5). Filho de Oscar Niemeyer Soares e de Delfina Ribeiro de Almeida, Oscar Niemeyer casou cedo, aos 21 anos, com Annita Baldo, com quem teve uma única filha, Anna Maria.
Um ano depois do casamento, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes e, em 1932, começou a trabalhar no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. O diploma de engenheiro arquiteto ele recebeu em 1934. Ainda trabalhando com Lúcio Costa, em 1936, conhece o arquiteto francês de origem suíça Le Corbusier (Charles Edouard Jeanneret-Gris, considerado a figura mais importante da arquitetura moderna), que chega ao Rio de Janeiro a convite de Lúcio Costa e de Gustavo Capanema, então ministro da Educação e Saúde do governo Getúlio Vargas, para atuar como consultor no projeto do Ministério da Educação.
Na ocasião, Niemeyer desempenha o papel principal na corrente modernista, que privilegiava a expressão plástica, e assina o projeto com o mestre Corbusier. Em 1947, ainda com Corbusier, Niemeyer divide o projeto da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), nos Estados Unidos.
Antes, em 1940, é apresentado a Juscelino Kubistcheck, prefeito de Belo Horizonte, que o convida para desenvolver o grande projeto do Conjunto da Pampulha. Dezesseis anos depois, o mesmo Juscelino, agora presidente da República, o convida para fazer o projeto de Brasília, a nova capital do país.
Em 1967, em plena ditadura militar, Niemeyer, que militava no Partido Comunista Brasileiro, tem embargado seu projeto do aeroporto de Brasília. Impedido de trabalhar no Brasil, vai para Paris, onde instala um escritório. Lá, entre tantos projetos, lança, em 1971, sua primeira linha de mobiliário para escritório, em parceria com a filha, Anna Maria, morta em junho deste ano.
A mulher, Annita, morre em 2004 e, dois anos depois, o arquiteto, que já tinha 99 anos, casa-se com sua secretária, Vera Lúcia, quase 30 anos mais jovem que ele.
Ao completar 100 anos, em 2007, Oscar Niemeyer recebe diversas condecorações. Entre elas, a medalha ao Mérito Cultural, conferida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reconhecimento à sua contribuição à cultura brasileira. Na França,o arquiteto é condecorado com o título de comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra.
Entre as mais importantes obras do arquiteto destacam-se o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte; o Edifício Copan, em São Paulo; a construção de Brasília; a Universidade de Constantine e a Mesquita de Argel, na Argélia; a Feira Internacional e Permanente do Líbano; o Centro Cultural de Le Havre-Le Volcan, na França; os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) e a Passarela do Samba, no Rio de Janeiro; o Memorial da América Latina e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo; e o Caminho Niemeyer, em Niterói, Rio de Janeiro; além do Porto da Música, na Argentina.
Saiba mais:
Niemeyer marcou um novo estilo de fazer arquitetura
Trabalho é único e nunca será reproduzido, diz arquiteto
Fundação sem fins lucrativos abriga acervo do arquiteto no Rio
De mente e mãos rápidas, Niemeyer marcou um novo estilo de fazer arquitetura
Símbolo da vanguarda e da crítica ao conservadorismo de ideias e projetos, o carioca Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho, de 104 anos, é apontado como um dos mais influentes na arquitetura moderna mundial. Os traços livres e rápidos criaram um novo movimento na arquitetura. A capital Brasília é apenas uma das suas inúmeras obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.
Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Niemeyer lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo, ele desabafou: “Estou cansado de dizer adeus”. Em meio a um episódio de mais violência no Rio de Janeiro, perguntaram para Niemeyer se ele ainda se indignava, a resposta foi rápida e objetiva. “O dia em que eu não mais me indignar é porque morri.”
Em 1934, Niemeyer se formou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De princípios marxistas, ele resistia ao que chamava de arquitetura comercial. Até 2009, ele costumava ir todos os dias ao escritório, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A frequência caiu depois de duas cirurgias – uma para a retirada de um tumor no cólon e outra na vesícula. Em 2010, foi internado devido a um quadro de infecção urinária.
Ao longo da sua vida, Niemeyer associou seu trabalho à ideologia. Amigo de Luís Carlos Prestes, ele se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e emprestou o escritório para organizar o comitê da legenda. Durante a ditadura (1964-985), ele se autoexilou na França. Nesse período foi à então União Soviética.
Em 2007, Niemeyer presenteou Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, com uma escultura na qual há uma imagem monstruosa que ameaça um homem que se defende com a bandeira de Cuba. No mesmo ano, foi alvo de críticas pelo preço cobrado, no valor de R$ 7 milhões, pelo projeto de construção da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
Independentemente das polêmicas, Niemeyer se transformou em sinônimo de ousadia com a construção de Brasília. Os cartões-postais da cidade foram feitos por ele, como a Igrejinha da 307/308 Sul, construída no formato de um chapéu de freira cuja obra durou apenas 100 dias.
O Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência da República, foi o primeiro edifício público inaugurado na capital, em junho de 1958. Na obra, Niemeyer colocou os pilares na fachada do prédio para simbolizar o emblema de Brasília.
A sede do governo federal, o Palácio do Planalto, compõe o conjunto de edifícios da Praça dos Três Poderes onde estão os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional – formado por duas semiesferas simbolizando a Câmara dos Deputados (voltada para cima) e o Senado (voltada para baixo).
Porém, um dos símbolos mais visitados da capital é a Catedral Metropolitana. Construída como uma nave, o acesso ao prédio é possível por meio de uma passagem subterrânea. No teto da igreja, há anjos dependurados.
Em janeiro deste ano (2012), Niemeyer enterrou a filha Anna Maria, de 82 anos, que morreu em consequência de um enfisema pulmonar, no Rio. Desde então, segundo amigos, o arquiteto passou a sair menos de casa e ficou mais fechado.
Obra de Niemeyer é única e nunca será reproduzida, diz arquiteto
Apesar do reconhecimento internacional e de servir como referência para muitas gerações de arquitetos no Brasil e no exterior, a obra de Oscar Niemeyer, nunca será reproduzida devido ao grau de criatividade individual composto em cada uma delas, diz o arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil.
Magalhães se emociona ao falar do “mestre”, cujos traços de Niemeyer têm tamanha força e magnitude que se concretizam em obras ímpares, tornando-as imediatamente reconhecíveis como suas.
“Embora esteja sob alguns parâmetros que são comuns à arquitetura moderna, seu modo de projetar e sua expressão têm uma dose muito importante de sua criatividade individual, o que faz com que seus traços sejam admirados, mas não reproduzidos”, ressalta Magalhães.
Na tentativa de ampliar e melhorar a explicação, Magalhães lembra o também mestre Le Corbusier, arquiteto francês de origem suíça, que influenciou as primeiras obras de Niemeyer. Este, segundo ele, concebia sua arquitetura de forma que dava condições para que outros arquitetos, usando seus princípios, alcançassem resultados parecidos.
“No caso de Niemeyer é diferente. Outros podem partir dos mesmos princípios, mas a expressão plástica contida na obra não será a mesma”, disse ele, enfatizando que, “mesmo depois de todo o reconhecimento, os traços que surgem das pranchetas de Niemeyer continuam sendo um estímulo para investigação e correta inserção na engenharia de nossas cidades. É uma lição que aprendemos a cada dia.”
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro, Agostinho Guerreiro, Niemeyer teve grande inspiração ao conseguir juntar a sinuosidade de suas curvas com a geometria. “Ele foi muito sábio, e sempre lembro o que ele disse uma vez para mim: ‘Olha, Agostinho, a arquitetura e a engenharia têm que andar sempre juntas. Eu não seria ninguém sem os engenheiros”.
Engenheiro agrônomo e professor de engenharia de produção da Coordenação de Programas em Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Guerreiro lembrou outra conversa que teve com Niemeyer, em que o arquiteto lhe disse que foi expulso do Brasil pela ditadura militar e que, ao seguir para o exterior, levou sua obra, que acabou alcançando reconhecimento mundial.
Ainda assim, Guerreiro acredita que a obra de Niemeyer deveria ser mais debatida nas faculdades de arquitetura e engenharia. “Ele é uma referência e sempre se portou como uma pessoa muito humilde, defendendo a inclusão de todos na sociedade”, finalizou.
Fundação sem fins lucrativos abriga acervo de Niemeyer no Rio
Foi pensando em reunir todo o seu legado em um mesmo ambiente, visando à promoção de debates e ao intercâmbio sobre sua obra com profissionais do Brasil e do exterior, que o arquiteto Oscar Niemeyer, criou, em 1988, uma fundação sem fins lucrativos. A instituição, que tem seu nome, funciona num prédio na Glória, zona sul do Rio de Janeiro, o mesmo que, na década de 40 abrigou o primeiro escritório do arquiteto. A filha de Niemeyer, Ana Maria, que administrava a fundação até o ano passado, morreu em junho deste ano. Agora, os netos comandam a instituição.
Por definição, a Fundação Oscar Niemeyer é um centro de informação e pesquisa voltado para a reflexão e difusão da arquitetura, urbanismo, design e artes plásticas para a valorização e preservação da memória e do patrimônio arquitetônico moderno do país. Mas, além de reunir o maior acervo bibliográfico e documental sobre o arquiteto, a fundação promove atividades permanentes de atendimento a antigos e novos arquitetos interessados na divulgação da moderna arquitetura brasileira.
Um dos membros do conselho diretor da instituição é o historiador Lauro Cavalcanti, que também dirige o Paço Imperial, na Praça Quinze, no centro do Rio de Janeiro. O Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação é a menina dos olhos, pois ali está todo o acervo de Niemeyer, vindo de seus escritórios no Rio de Janeiro – ainda em atividade – e em Paris, onde ele desenvolveu, nas décadas de 60 e 70 do século passado, seus projetos para a Europa, a África e o Oriente.
“A combinação de traços sinuosos e concreto, que se traduzem em formas leves, mostram bem a liberdade que Niemeyer tem de criar. E ele, até hoje, é único nesse estilo. Por isso, temos que preservá-lo como marca de nossa arquitetura moderna”, enfatizou Juliano Marques de Oliveira, estudante do 7º período de uma faculdade particular de arquitetura no Rio de Janeiro.
Em 24 anos de existência, a fundação se ramificou e hoje o acervo de Niemeyer pode ser visto também na Casa das Canoas, em São Conrado, Rio de Janeiro, projetada por ele em 1951, e no Espaço Oscar Niemeyer, em Brasília.
A idéia, porém, é instalar toda a fundação em um prédio no Caminho Niemeyer, o complexo arquitetônico projetado por Niemeyer para a cidade de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e que foi inaugurado simbolicamente em dezembro de 2010. Na forma de caracol, o prédio terá um mezanino com acesso interno e externo por meio de rampas, onde ficará em exposição o acervo de obras do mestre. O prédio ficará em cima de um espelho d´água com aproximadamente 1.500 metros quadrados.
O projeto inclui uma construção anexa ao prédio com uma parte semienterrada, abrigando uma copa, central de ar condicionado, acesso ao hall do térreo e duas grandes salas. Ainda neste prédio, no nível térreo, haverá um auditório, quatro salas onde serão ministradas aulas de temas ligados à arquitetura e às artes, além de salas para congressos e seminários.
Cobertura da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 06/12/2012
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