A COP… (escolha um número qualquer) caminha para o fracasso, por Henrique Cortez
[EcoDebate] OK, a COP18, em Doha, caminha para um fracasso, mas e daí? Essa foi a regra de todas as conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. E, sério, alguém realmente esperava um resultado diferente?
A COP17, a título de exemplo, chegou a duas decisões ‘marcantes’: 1) decidiu que a COP18 seria no Qatar, de 26 de novembro e 7 de dezembro de 2012 e 2) que iniciaria as discussões sobre um acordo global vinculante, a ser definido até 2015, com metas obrigatórias de corte de emissão de gases de efeito estufa, para entrar em vigor logo após 2020.
Em Durban, o Protocolo de Kyoto foi ‘prorrogado’, pelo menos, até 2017, considerando o novo acordo global vinculante pós-2020. Segundo a Agência Reuters, há um ano, a chefe de assuntos para o clima da ONU, Christiana Figueres, reconheceu que a redação final do texto legal sobre um futuro acordo, era ambígua: “O que isso significa ainda não foi decidido.”
O Fundo Verde, a ser constituído com até 100 bilhões de dólares ao ano até 2020, para combater as mudanças climáticas em países pobres, em tese saiu do papel, mas não foi definido qual será, efetivamente, a forma de constituição e como e com quanto os países irão contribuir para o fundo. Ou seja, continua, até agora na COP18, um consenso oco.
Este conjunto de (in)decisões, na COP17, foi denominado “Plataforma de Durban para Ação Aumentada”.
Voltando à COP18, como em COPs anteriores, mais uma vez as delegações decidiram nada decidir de importante e ‘empurraram’ a decisão de redução das emissões para o futuro. Fracassou, como era esperado e nós, ambientalistas, temos uma boa parte da responsabilidade nos continuados fracassos porque insistimos em acreditar que estes convescotes climáticos tem alguma razão de ser.
Mais uma vez, gigantescas delegações, somando mais de 11 mil pessoas, reuniram-se, reuniram-se, e, em termos realmente práticos, nada além disto.
O caos climático é um fato e suas consequências são crescentes e para isto não precisamos de tantas COPs que nada significam e nada resolvem. Chega de turismo climático.
Ora, 5 países são responsáveis por 50% das emissões e os 20 maiores emissores respondem por 77,4% das emissões globais.
Quem são os grandes emissores de gases de efeito estufa? Fonte: IPAM
As COPs, portanto, são apenas turísticas porque o essencial, a ser decidido por apenas 10 países, pode ser perfeitamente discutido e resolvido por videoconferência.
O jornalista e militante ambientalista, George Monbiot, acertadamente, define que a luta contra o aquecimento global é uma luta contra nós mesmos. É exatamente esta batalha que estamos perdendo.
Os diplomatas e dirigentes de tantos países apenas são tão omissos quanto as populações dos países que representam. Nós e nossos países somos favoráveis a tudo, desde que o tudo apenas se refira aos outros, pessoas e países.
Sofreremos as terríveis consequências do aquecimento global, porque não somos capazes de reconhecer que nosso padrão de consumo é insustentável e não temos coragem de assumir que nosso modelo de desenvolvimento é predatório e injusto. Quanto mais protelamos as decisões, mais agravamos o desastre que se anuncia.
Se nossa irresponsabilidade continuar sem limites, acabaremos com a natureza tal como ainda conhecemos. Mas a história do planeta demonstra que a natureza encontrará uma alternativa, porque, mesmo com vários episódios de extinções maciças, a natureza sempre recomeçou.
Ainda não é um cenário apocalíptico, mas quase.
As mais recentes pesquisas confirmam que sem uma vigorosa redução de emissões de gases de efeito estufa, não será mais possível atingir o compromisso firmado em 2010, de evitar que a temperatura no mundo suba mais que dois graus Celsius (°C) até 2020. Resumindo, perdemos a batalha contra o aquecimento.
Em todo caso, nem tudo está perdido e uma catástrofe climática ainda pode ser evitada. Se perdemos a batalha contra o aquecimento, ainda assim, podemos vencer a guerra contra as suas piores consequências.
Precisamos vencer a luta contra nós mesmos ou muito perderemos. Muito mais do que apenas o nosso perdulário e irresponsável padrão de consumo.
Mas, enquanto isto, chega de turismo climático.
Henrique Cortez, jornalista, coordenador editorial do Portal EcoDebate
EcoDebate, 04/12/2012
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.
Se o capitalismo resolvesse os problemas ambientais, seria um contra censo, ou, como se diz popularmente, seria disparar um tiro no próprio pé.