Semeadura pode ser uma alternativa mais eficiente e mais barata na restauração florestal
Custo da semeadura direta por hectare é similar ao do plantio de mudas
Semeadura aumenta eficiência da restauração ecológica
A semeadura pode ser uma alternativa mais eficiente e mais barata na restauração florestal, em comparação com os processos tradicionais, que utilizam mudas. A pesquisa da bióloga Andrea Garafulic Aguirre, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, aponta que a germinação de sementes por hectare é quase o dobro em relação às mudas.
O aumento da produtividade não significa um preço maior, muito pelo contrário. Andrea diz que o custo por hectare é R$50,00 mais barato, “praticamente o mesmo” que ao se utilizar mudas — nos dois casos, o valor gira em torno de R$ 14 mil. O trabalho, que resultou na dissertação de mestrado Avaliação do potencial de regeneração natural e o uso da semeadura direta e estaquia como técnicas de restauração, foi realizado por Andrea no Projeto Cachoeira, uma parceira da ONG The Nature Conservancy com a empresa The Dow Chemical Corporation para recuperar uma área de 350 hectares da Sabesp no município de Piracaia, que fica 83 quilômetros de São Paulo.
A bióloga, que era assistente de conservação do projeto, precisou buscar alternativas, já que as mudas disponibilizadas pela Sabesp eram de baixa qualidade e pouco diversificadas — apenas 20 espécies, enquanto a legislação exige um mínimo de 80. A partir de um estudo florístico, feito para avaliar a diversidade e a propagação da vegetação, Andrea testou dois métodos: a estaquia, técnica que consiste em plantar estacas, como galhos, diretamente na terra, e a semeadura direta, em que as sementes são colocadas diretamente na área a ser restaurada.
Na semeadura, a pesquisadora buscou verificar a eficiência de dois procedimentos: a pré-hidratação por 24 horas e a cobertura com palha ou terra. A primeira não alterou os resultados. Já a segunda, foi observada na germinação uma “diferença absurda”, nas palavras da bióloga. Com o melhor tratamento, cerca de 3.800 sementes germinaram por hectare após seis meses, mais que o dobro do número de mudas após o mesmo período.
Dificuldades
Já a estaquia não teve sucesso. Andrea tentou o plantio na casa de vegetação da Esalq, mas problemas com a irrigação atrapalharam o experimento. Já nos testes de campo, nenhuma estaca sobreviveu depois de dois meses. Mesmo assim, a pesquisadora considera que a estaquia tem potencial, já que ainda é uma técnica incipiente.
Mesmo com a diminuição no preço, a pesquisadora afirma que o valor por hectare ainda é alto para um produtor rural, por exemplo. O Projeto Cachoeira, cuja abrangência era de 350 hectares segundo Andrea, só foi possível pois os custos foram repartidos entre a Sabesp, as ONGs SOS Mata Atlântica e The Nature Conservancy, a empresa The Dow Chemical Corporation, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Piracaia.
Uma das estratégias usadas pelo projeto na restauração ecológica da região foi a criação da Cooperativa Ambiência, que é responsável pela proteção da área e conservação das mudas. Assim, foi possível gerar renda para a população da região e atender ao desejo das famílias que queriam continuar trabalhando com a terra.
“Quando ONGs, empresas, governos e cooperativas se unem, a restauração fica mais viável de ser realizada por causa repartição dos custos. Afinal, a restauração ecológica é um benefício para toda a sociedade”, conclui a pesquisadora.
Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP
Mais informações: email andreaaguirre@ig.com.br, com Andrea Garafulic Aguirre
Matéria de Giovani Santa Rosa, para a Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 07/11/2012
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Lembramos que a semeadura de espécies nativas, em áreas extensas, pode ser feita mediante o uso de aeronaves agrícolas. Sobrevoando as áreas-alvo, os aviões agrícolas podem dispersar, com grande rapidez e uniformidade, as sementes. Isto já foi feito, na década de 80 na serra da Bocaina e, mais recentemente, no Rio Grande do Sul (2012) para semeadura de sementes do pinheiro Araucária, em trabalho planejado e coordenado pela Secretaria da Agricultura do RS.