Milhares de sul-africanos vivem em meio a resíduos tóxicos de mineração
Foto de Jason Larkin / Le Monde
A favela de Tudor Shaft, perto de Johanesburgo, se situa ao pé de uma montanha de resíduos tóxicos de mineração. Ela ainda não foi evacuada
Seu rosto negro agora está amarelado. “Coloco esse pó em minha pele para protegê-la do sol”, explica Patience Pumlangadu. Essa mãe sul-africana de três filhos prepara ela mesma seu protetor solar artesanal, misturando água com rocha esfarelada. Matéria [Des milliers de Sud-Africains vivent sur des terrils radioactifs] de Sébastien Hervieu, Le Monde, no UOL Notícias.
Entretanto, essa matéria-prima que ela considera “boa para a saúde”, provém de um monte de terra e composto de resíduos extraídos de uma antiga mina de ouro. No final de 2010, o especialista britânico Chris Busby havia medido nesse local índices de radioatividade quinze vezes superiores ao normal e recomendou que os habitantes se mudassem o mais rápido possível.
Situada no município de Mogale City, a favela de Tudor Shaft, onde vivem 5.000 habitantes, entre eles Patience Pumlangadu, fica ao pé de um dos inúmeros montes radioativos que recortam a linha do horizonte na região de Johannesburgo. Mais de um século de exploração das riquezas minerais de Egoli – a “cidade de ouro” em idioma zulu – permitiu que a África do Sul se tornasse a maior potência econômica do continente africano, mas deixou como herança várias marcas tóxicas.
Em 2011, um relatório das autoridades regionais de Gauteng, que engloba a capital econômica sul-africana, afirmava que 1,6 milhão de pessoas viviam em favelas nas proximidades ou dentro das 400 zonas de resíduos de mineração.
Mas faz quase uma década que Mariette Liefferink vem dando o alerta. “Os resíduos das extrações de ouro contêm urânio”, lembra a diretora da Federação por um Meio Ambiente Sustentável (FSE), uma organização ambientalista local, que diz ainda, mostrando análises recentes, que esses montes também contêm “alumínio, arsênio, mercúrio e cobre”, entre outros.
Em Tudor Shaft, um odor parecido com o do enxofre penetra nas narinas. Moradores afirmam que eles têm cada vez mais dificuldades para respirar. Sofrem de tuberculose, e parte deles temem um agravamento de seu estado de saúde. Por enquanto, nenhum caso de câncer foi registrado. Mas como ter certeza, uma vez que nenhum estudo foi realizado até agora?
“Por medida de precaução, já deslocamos uma centena de famílias que afastamos da zona de risco”, garante Nkosana Zali, porta-voz da municipalidade de Mogale City que administra a favela. Mas, no local, afirmam que haveria somente “quatorze habitações” e que “a distância de segurança de 500 metros é pequena demais”.
Representante da comunidade de Tudor Shaft, Jeffrey Ramiruti culpa as autoridades da região de Gauteng, que em 1996 lhe haviam pedido para se instalar nesse terreno vago já repleto de montículos: “A mina acabara de ser fechada e minha família, assim como 53 outras, tiveram de sair dos alojamentos da empresa para se instalarem aqui”, ele lembra. “Os parlamentares da região e da cidade nos haviam prometido que seria uma situação temporária e que logo teríamos conjuntos habitacionais populares, mas ainda estamos esperando…”
Como as casinhas ainda não estão disponíveis, uma escavadeira apareceu no início de julho para começar a destruir o monte. A escavação logo foi suspensa. “Recorremos ao tribunal porque não se pode remexer uma terra tão tóxica sem fazer um estudo prévio de impacto ambiental”, acredita Mariette Liefferink, que prefere a solução do realojamento.
Especializada em extração de resíduos de ouro de montes contaminados e encarregada da operação, a empresa australiana Mintails garante que é aspergida água para evitar nuvens de poeira. “Essa medida é cosmética. O que fazer depois com o fluxo de águas contaminadas?”, acusa a ativista.
Enquanto se aguarda o veredicto final do juiz, o monte radioativo foi cercado por um cordão de segurança de plástico para impedir que crianças venham brincar nas proximidades. “Essa terra é perigosa porque pode deixar meu filho doente”, resume Poppy Morebondi, 20, mas quando lhe perguntamos se ela conhece o significado da palavra “radioatividade”, assim como muitos outros habitantes ela afirma que não.
EcoDebate, 30/10/2012
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