Momento íntimo, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Quando alguém me pergunta “o que vou ganhar” para apoiar o meu candidato, lá na cidade dele, eu devolvo a pergunta: “se tu é gremista ou colorado e alguém te oferece 50 reais pra colocar uma placa do outro time na frente da tua casa, tu aceita?”. Nunca ouvi ninguém concordar, até hoje. Quer dizer, as pessoas dão valor para o seu time. Quer dizer, também, que não é que as pessoas se vendam facilmente – porque o time, que elas dão valor, elas não vendem – é que elas não acham tão importante o vereador que elegem (“são todos iguais”), quanto o time para que torcem.
Fiquei aliviado quando percebi isso, pois nenhuma conclusão seria pior do que acreditar que o nosso povo é simplesmente corrupto. Conforta saber que ainda há coisas que as pessoas não vendem, embora algumas até “vendam” o voto, não por corrupção mas por pura ignorância, por mais chocante que seja esta alienação, ainda mais acompanhada da arrogância dos “cheios de razão” ao rejeitar a política generalizadamente, sem perceber a que interesses estão servindo com essa omissão.
Quando estiveres na cabine de votação, terás alguns segundos de solidão com a tua consciência. O teu voto decide os rumos da tua cidade para os próximos 4 anos, mas ninguém mais estará na cabine contigo. É um momento íntimo teu, só teu, em que a tua decisão trará consequências para todos. É o teu poder, a tua arma. O teu voto é também a tua responsabilidade contigo, com tua família, com teus vizinhos, com a cidade inteira. “Não é o meu, é o voto dos outros que decide”, talvez penses. Mas ninguém sabe em quem os outros vão votar, cada um tem certeza apenas dos próprios pensamentos, das próprias decisões. A única certeza é a tua própria escolha, a dos outros é uma abstração que só vai se concretizar quando as urnas forem abertas. É assim que cada um de nós, nesse momento íntimo, decide a vida de todos os outros. Que “responsa”, hein ?
O mundo não é governado pelos políticos, mas pelo poder econômico, o mesmo que difunde a ideia de que os políticos são todos iguais, o modo mais eficaz de alienar o povo, para não afetar os lucros dos poderosos. Mesmo assim, políticos também são capazes de influenciar o planeta, para o bem ou para o mal. Bush levou seu país a guerras, até seu povo eleger Obama para lhes tirar delas. Chico Mendes (que lançou Marina Silva na política) viveu por seus ideais, Freixo (que inspirou “Tropa de Elite 2”) tem a coragem de enfrentar milicianos lá no Rio, para citar apenas dois exemplos contundentes de que ainda há pessoas capazes de dedicar a vida aos seus ideais. Faz assim, faz de conta que a eleição é um campeonato em que não importa se o teu time está em primeiro, terceiro ou último lugar, ele continua sendo o teu time. Não vais trocar de time só pra ir na festa da vitória dos outros, vais? É o teu momento íntimo, aquele de poucos segundos a sós com a urna. Em que cada um só pode trair, ou só pode ser fiel, a si mesmo e à sua consciência, aquela que é para toda vida.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 05/10/2012
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