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Desconhecimento sobre mares profundos leva a erros nas previsões climáticas

 

Desconhecimento sobre mares profundos leva a erros nas previsões climáticas

 

Observar o comportamento dos oceanos é fundamental para a sobrevivência diante das mudanças globais – Desconhecimento sobre mares profundos leva a erros nas previsões climáticas. As relações entre os oceanos e os continentes e seu papel nas mudanças globais são tema de um simpósio na ABC.

“Precisamos olhar além das milhas do pré-sal e pensar no oceano com seus impactos globais”. A frase poderia resumir o pensamento de vários cientistas e oceanógrafos brasileiros, mas é a opinião de Edmo Campos, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, que participou do simpósio ‘Interrelações Oceano Continente no Cenário das Mudanças Globais’ nesta terça-feira (2). O evento aconteceu até ontem (3) na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.

“Os oceanos são um assunto prioritário hoje em dia. Ficaram um pouco esquecidos, mas já acordamos para sua importância”, afirma Jacob Palis, presidente da ABC. Edmo Campos lembrou que nem mesmo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) deu destaque aos oceanos em seus primeiros relatórios, há alguns anos, tratando o tema superficialmente. “No 5º relatório do IPCC eles virão com força total”, conta sobre o próximo documento produzido pelo Painel.

Se há um consenso entre os palestrantes, esse é que ainda há muito o que se investigar a respeito dos mares profundos. Outro ponto pacífico de discussão é que os oceanos são peça fundamental no processo de mudanças climáticas e, tal como afirma o título do simpósio, são importantes para entender o que acontece nos continentes. Bjorn Kjerfve, presidente da World Maritime University (WMU), na Suécia, citou diversos dados relacionados com os oceanos e a ação do homem, frisando o impacto que o aumento populacional vem causando neles. “O aumento de CO2 está intensificando a acidez dos mares”, conforme lembra, o que impacta diretamente a vida aquática, como a dos corais.

Kjerfve recordou tragédias como a do furação Katrina em 2005, que matou mais de nove mil pessoas, e o recorde de derretimento do gelo do Ártico, que perdeu cerca de 40% de sua espessura em quatro décadas. Mas também destacou que os avanços tecnológicos permitem mais precisão na observação das águas, especialmente no caso dos satélites que registram as correntes.

Praias – Sobre correntes e suas implicações na costa falou o geólogo José Maria Landim, coordenador da Pós-Graduação em Geologia do Programa de Pesquisa e Pós Graduação em Geofísica da Universidade Federal da Bahia. Ele explicou como alguns processos erosivos (causados por ventos, por exemplo) podem alterar a via da costa e sua faixa de areia, mudando, por vezes, completamente a paisagem de uma praia.

Ele deu como exemplo também o tsunami no Japão no início de 2011, que acabou por remover detritos que apareceram, mais de um ano depois, na costa Oeste dos Estados Unidos e Canadá. Esse fenômeno de transporte é conhecido como teleconexão. Junto com esses gigantescos destroços, chegam as espécies invasoras, já caracterizando mudanças nos mares ocidentais.

Assim como Kjerfve, Landim se preocupa com as mudanças climáticas ocasionadas pelo aumento populacional e compara a presença humana a um “surto”. “São como fungos e bactérias, que vão acabando com tudo. Isso não vai acabar bem, pois qualquer situação de crescimento exponencial está fadada a acabar”, acredita.

El Niño – Por sua vez, Edmo Campos recordou que as bacias hidrográficas da Amazônia e do Rio da Prata são as responsáveis pelo maior volume de água que retorna aos oceanos e destacou que nem todo ano o fenômeno do El Niño se dá da mesma maneira, baseado numa pesquisa que analisou seu comportamento de 1900 a 2010. “Depende de onde ele vai surgir”, conta, acrescentando que pode ser um El Niño “seco” ou “molhado”. No primeiro caso, o Oceano Pacífico fica mais quente que o Atlântico, enquanto no El Niño “molhado” ocorre o contrário.

Ele lembra que o conhecimento acerca do Oceano Pacífico é maior do que sobre o Atlântico, o que explicaria em parte os erros das previsões metereológicas em países banhados por águas atlânticas. Além disso, afirma que se conhece menos ainda o Atlântico Sul que o Atlântico Norte, onde as águas são mais frias “possivelmente em consequência do degelo do Ártico que vem ocorrendo”.

Coordenador do simpósio, Luiz Drude de Lacerda, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (UFC), ressalta a importância da recente decisão de criar o Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas (Inpo) pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ele lembra a necessidade de ter navios civis (atualmente os pesquisadores usam os da Marinha) para que o País possa se sobressair nesse campo e garantir sua hegemonia na região. No entanto, recorda que “é muito difícil, para qualquer país, fazer pesquisas em oceanos abertos sem cooperação internacional.” Ele também sublinha a necessidade de ter um monitoramento constante, a longo prazo, no oceano, com boias para coletas de dados.

Matéria de Clarissa Vasconcellos, no Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4596, publicada pelo EcoDebate, 04/10/2012
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