Mineradoras valem ouro nos projetos hidrelétricos do Tapajós e Teles Pires, por Telma Monteiro
Mineração na região das usinas do Tapajós e Jamanxim
Os projetos de implantação de hidrelétricas nas bacias do rio Tapajós, Teles Pires e Juruena por si só estão induzindo a ocupação de áreas protegidas da Amazônia. Com eles chegaram também as empresas mineradoras transnacionais e o novo ciclo de exploração do ouro. Mais impactos atingirão os territórios indígenas e as unidades de conservação.
O ouro aliado aos projetos hidrelétricos na região dos rios Tapajós e Jamanxim, que, coincidentemente, estão sobre a maior província mineral do mundo, vai pavimentar definitivamente a ocupação predatória da região.
Não é, pois, de se estranhar a corrida do ouro que se iniciou na região da chamada Província Mineral do Tapajós. Perto de Itaituba, cerca de 180 quilômetros, está um distrito aurífero famoso chamado Cuiú Cuiú, próximo ao rio Crepori, e que só pode ser acessado por avião de pequeno porte ou por barco.
A mineração em Cuiú Cuiú começou em 1972 e foi até 1992, quando ocorreu uma grande corrida do ouro. Estima-se que nessa época mais de 10 mil pessoas buscavam ouro na região. Cuiú Cuiú, então, ficou famosa e atraiu os olhares de grandes empresas de mineração. A partir de 2004, a canadense Magellan Minerals começou a adquirir os direitos de exploração mineral concedidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em 2005, celebrou um acordo com os proprietários tradicionais das áreas que viviam e exploravam Cuiú Cuiú.
A Magellan Minerals Ltd. tem endereço em Itaituba (PA) e Cuiabá (MT) como Chapleau Exploração Mineral Ltda. No seu sítio eletrônico constam ainda três subsidiárias: a Chapleau Resources Ltd. no Canadá, a Magellan Minerais Prospecção Geológica Ltda., no Brasil, e a Chapleau Exploração Mineral Ltda. A empresa canadense detém hoje 47 mil hectares de terras para exploração de ouro em Cuiú Cuiú.
A Chapleau Exploração Mineral Ltda. tem, ainda, outros quatro processos de direitos minerários de ouro, de 2007 e 2009, nas margens do futuro reservatório da hidrelétrica Teles Pires, que abrangem uma área de 34.449 quilômetros quadrados. Coincidência?
Outro projeto da Magellan na mesma região é Coringa, anunciado em março deste ano em Vancouver, com previsão de extração de 561 mil onças de ouro em cinco áreas. Os investimentos previstos para Coringa podem chegar a 37 milhões de dólares.
Explorar Cuiú Cuiú é apenas a ponta do iceberg e vai abrir o caminho para um filão de centenas de bilhões de dólares: um cinturão de granitos e rochas vulcânicas que começa no distrito de Alta Floresta do norte do Mato Grosso, passa pela região do Tapajós no oeste do Pará, continua para o norte em Rondônia, e termina no sul da Venezuela-Guiana.
Juntos, esses “complexos geológicos” auríferos ocupam em linha contínua cerca de 1.200 quilômetros. Uma incrível riqueza logo ali, na região onde se planeja a construção das hidrelétricas no rio Tapajós, Jamanxim, Teles Pires e Juruena. Coincidência ou não, os projetos hidrelétricos na Amazônia parecem atrelados aos grandes projetos de mineração de ouro.
Projetos de mineração no Estado do Pará
Cuiú Cuiú está localizada entre os rios Crepori e o Jamanxim, onde também está o projeto Tocantinzinho numa área de 140 km² (30 quilômetros a sudeste de Cuiú Cuiú), da Eldorado Gold Corporation, com sede em Vancouver, no Canadá. Do Tocantinzinho, a Eldorado pretende extrair perto de 160 mil onças de ouro de 2.541 mil toneladas de rocha removida.
A Eldorado confirma em sua página na Internet que esperava receber a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) ainda no terceiro trimestre de 2012 e concluir o estudo de viabilidade, para começar a implantação do projeto, ainda neste ano também. Desde 2010 o projeto está tramitando na Secretaria de Meio Ambiente do Pará.
A principal concorrente da Magellan e Eldorado nessa mesma região do Tapajós é a já conhecida Belo Sun Mining Corp., que se instalou na Volta Grande do Xingu, aproveitando a construção de Belo Monte. Patrocínio é o nome do projeto da Belo Sun no Tapajós e tem uma área com 18.669 hectares.
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Telma Monteiro é ativista sócio-ambiental, pesquisadora, editora do blog http://www.telmadmonteiro.blogspot.com.br, especializado em projetos infraestruturais na Amazônia. É também pedagoga e publica há anos artigos críticos ao modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil.
Artigo enviado pela Autora e originalmente publicado no Correio da Cidadania, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
EcoDebate, 02/10/2012
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500 anos se passam e não evoluímos no nosso modo de pensar a economia. Extração de recursos naturais a preço de banana, compra de produtos beneficiados bem mais caros e ficamos com a maioria dos passivos ambientais e sociais do produto.
Felipe disse:
3/10/2012 às 10:57
500 anos se passam e não evoluímos no nosso modo de pensar a economia. Extração de recursos naturais a preço de banana, compra de produtos beneficiados bem mais caros e ficamos com a maioria dos passivos ambientais e sociais do produto.
E isso tudo usurpado dos povos de origem, até hoje, dizimados, perseguidos, massagrados e injustiçados.