A evolução da contabilidade para a incorporação da ambientalidade, artigo de Roberto Naime
Infográfico de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Para Constanza et al (1998) o “capital” deve ser considerado como sendo o estoque de matéria ou informações que existe em um tempo determinado. A utilização deste capital, individualmente ou em conjunto, com os fluxos de serviços de outros tipos de capitais estocados, poderá ser transformada para aumentar o bem-estar da sociedade. A utilização deste fluxo de produtos ou serviços, pode ou não deixar intacto o estoque deste capital original.
Segundo os mesmos autores, O “estoque de capital” pode ser percebido em diferentes formas, tais como: capital natural (florestas, água, minerais, atmosfera, ecossistemas, etc.); capital manufaturado (máquinas, estradas, fábricas); e capital humano.
Constanza (1994, p.75) define-se sustentabilidade como:
“a relação entre os sistemas econômicos humanos dinâmicos e os sistemas ecológicos mais abrangentes, dinâmicos, mas normalmente com mudanças mais vagarosas, na qual: a) vida humana possa continuar indefinidamente, b) individualidades humanas possam florescer, c) cultura humana possa desenvolver, d) efeitos das atividades humanas permaneçam dentro de limites a fim de que não destruam a diversidade, complexidade e funções do sistema ecológico de suporte da vida.”
Em resumo, o processo pela busca contínua do desenvolvimento sustentável prima pela iniciativa proativa, com visão de longo prazo e com a implantação de instrumentos que permitam a mensuração e a divulgação dos resultados obtidos.
O capital natural água oferece um conjunto de bens e serviços para a humanidade em diversas atividades, tais como: uso doméstico, irrigação, uso industrial, atividades de esporte e lazer, reciclagem de materiais, etc., e é considerado fundamental para manter ou aumentar o bem-estar da humanidade.
Conforme Tundisi (2003, p.4) “a água funciona como fator de desenvolvimento”, Ela oferece um conjunto de bens e serviços para a humanidade, em diversas atividades, tais como: uso doméstico, irrigação, uso industrial, atividades de esporte e lazer, reciclagem de materiais, etc., e é considerado fundamental para manter ou aumentar o bem-estar da humanidade.
De acordo com o mesmo autor, Tundisi (2003, p.4),
“os usos múltiplos da água aceleram-se em todas as regiões, continentes e países. Estes usos múltiplos aumentam à medida que as atividades econômicas se diversificam e as necessidades de água aumentam para atingir níveis de sustentação compatíveis com as pressões da sociedade de consumo, a produção industrial e a agrícola”.
Assim, o capital natural disponível de forma qualitativa e quantitativa atrai os interesses sociais, econômicos e ambientais uma vez que possibilita o uso das funções do ecossistema para promover bens e serviços indispensáveis para todas a espécie humana, no curto, médio e longo prazo.
A valoração econômica do capital natural pode ser mensurada pela soma dos valores de uso e do valor de existência do recurso ambiental sendo que, os valores de uso compostos são compostos pela soma dos valores de uso direto, uso indireto e valores de opção.
Vários são os métodos de valoração econômica dos recursos ambientais, tais como: Produtividade Marginal, Método da curva de possibilidade de reposição, Método do Custo de Reposição, entre outros. Dentre estes métodos, o presente estudo concentra-se no método de Custos de Reposição pela sua já utilização na ciência contábil.
Neste método, a valoração ou estimativa dos benefícios gerados por um recurso ou bem ambiental deverá ser calculada pelos gastos necessários para a sua reposição. Pode-se citar como exemplo o caso do reflorestamento em áreas desmatadas. Para estimar o valor deve ser utilizado o preço de mercado, considerando a recuperação do bem ambiental. Com o valor obtido com o cálculo pode ser recuperado o valor investido, mas nunca a biodiversidade de uma floresta nativa. Trata-se de um método de baixo custo financeiro e pouco complexo para o levantamento dos dados.
As empresas são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de uma nação. Porém, a efetiva responsabilidade social e ambiental das empresas, que vai além da exigida por lei, somente se fará presente nas empresas que se adequarem às formas de ação e ao ambiente em que estão inseridas. Para prestar informações a todos, segundo De Luca (1998, p. 22), “[…] a contabilidade, assumindo seu papel de reportar à sociedade os esforços despendidos pela empresa […] ” utilizará um instrumento chamado de relatório socioambiental das atividades da empresa.
A sociedade passou a exigir das organizações, por intermédio dos seus gestores, maior clareza em suas ações para que possam ser responsabilizados pelos atos praticados. Dessa forma, o cidadão, enquanto consumidor poderá optar por adquirir um produto fabricado por uma empresa responsável socialmente.
O sistema de governo das organizações, também chamado de “Governança Corporativa” é conceituado, segundo Lodi (2000, p. 24) como “Governança Corporativa é o sistema que assegura aos sócios-proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva monitoração da diretoria executiva”.
Segundo o mesmo autor o exercício da governança assevera aos proprietários: lisura, transparência, prestação de contas e atendimento a legislação local, que também pode ser definido através das seguintes vocábulos anglicanos de uso internacional: Fairness, Disclosure, Accountability e Compliance
O termo governança corporativa é relativamente novo no Brasil. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou em junho de 2002, uma cartilha intitulada “Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa”. Definindo a governança corporativa como:
“[…] o conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital. A análise das práticas de governança corporativa aplicada ao mercado de capitais envolve, principalmente: transparência, eqüidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas.”
Agora é necessário evoluir para a compreensão do que seja governança ambiental.
COSTANZA, R. Economia Ecológica: uma Agenda de Pesquisa in Valorando a Natureza, Análise Econômica para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994.
LODI, João Bosco. Governança Corporativa. Rio de Janeiro: Campus,2000.
TUNDISI, José G. Recursos Hídricos. O Futuro dos Recursos # 1, outubro de 2003. Disponível em http://www.multiciencia.rei.unicamp.br/artigos_01/A3_Tundisi_port.PDF >Acesso em março 2010.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 27/09/2012
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Concordo com a clara argumentação adotada pelo Professor Naime. Precisamos evoluir rapidamente para a contrução de um sistema de monitoramento dos Recursos Naturais, globais, nacionais e regionais. A contabilidade possui metodologias que podem ser aplicadas apropriadamente para isto, pois ela trabalha com os conceitos de Estoques e de Fluxos. Os Estoques se encaixam nos conceitos de Ativos Ambientais que podem registrar o a dimensão do Capital Natural existente, enquanto que o Passivo pode registrar o Passivo Ambiental eventualmente existente.
Já os fluxos podem ser representados contabilmente de duas formas: de um lado, os fluxos do consumo de recursos naturais e das externalidades negativas e de outro os serviços ecossistêmicos prestados, que de certa forma podem ser construidos a partir dos conceitos de Pegada Ecolõgica.
A relação entre os valores de Estoques de Recursos e os fluxos de consumo anual pode muito bem representar o horizonte de vida da humanidade.
Com isto se poderá evoluir para uma Contabilidade Nacional dos Recursos Naturais. Esta Contabilidade poderá gerar informações preciosas para nortear as Avaliações Ambientais Estratégicas (AAE) e, com isso, a formulação de Políticas Públicas.