Separar para Dominar, artigo de Norbert Suchanek
[EcoDebate] O Brasil está fazendo a usina nuclear Angra 3, o primeiro submarino nuclear da América Latina, a hidrelétrica Belo Monte e outras barragens destrutivas do norte ao sul do Brasil.
Uma carta aberta do Rio de Janeiro para o movimento anti-nuclear e ao Bispo do Xingu Erwin Kraeutler.
No mundo da luta, uma das frases maquiavélicas mais fundamentais de todos os tempos é esta: “SEPARAR PARA DOMINAR“:
No caso do movimento anti-nuclear isto significa que o movimento não pode ser “cego” para os outros problemas ecológicos ou sociais deste país e do planeta. Primeiro: Tudo está conectado. Da produção de alumínio e da mineração de minerais radioativos até a produção e exportação da soja e do frango congelado. A conexão é a necessidade de produção de energia elétrica em grande escala.
Segundo: Quando o movimento anti-nuclear torna-se “cego”, por exemplo, à desastrosa construção de Belo Monte ou das barragens no Rio Madeira ou da trágica transposição do Rio São Francisco, o movimento anti-nuclear está enfraquecendo todo o movimento ecológico e social do Brasil.
Somente juntos somos fortes! Movimentos separados – isto mostra a longa história das guerras – são simplesmente fáceis de eliminar. Ou, o que é mais importante neste século 21, é mais fácil de controlar e dominar. Porque até uma democracia falsa precisa de movimentos, mas claramente, movimentos bem controlados – tigres sem dentes!
Cada movimento ecológico “cego” para outros movimentos ecológicos está em risco de ser usado pelos inimigos – a indústria anti-ecológica e suas oligarquias e políticos. É muito simples driblar movimentos ecológicos que estão separados por este sistema destrutivo em que nós vivemos.
Quando o movimento anti-nuclear não tem uma posição clara contra Belo Monte, significa uma faca nas costas de todos que lutam já desde 1988 (incluindo eu) contra esta barragem contrária à humanidade.
O movimento anti-nuclear – igualmente como todos os movimentos ecológicos – não pode deixar uma porta aberta para mal-entendidos e para ser manipulado por outros interesses.
Não é possível ganhar a luta para um futuro sustentável sem riscos radioativos, quando o movimento anti-nuclear não se manifesta contra as lutas ecológicas atuais, como as lutas contra os transgênicos, contra barragens ou contra o roubo das terras indígenas.
Imagine se todos os companheiros contra Belo Monte não se manifestarem contra Angra 3, 4 ou 5. Imagine se todos os que são contra a monocultura da soja não terem nenhum problema com a construção da mina de urânio-fosfato em Santa Quitéria, no Ceará.
Só juntos somos fortes! Sozinhos somos fracos! Quem falou que a luta é um passeio num shopping center?
Abraços para todos e todas
Norbert Suchanek, Rio de Janeiro
Norbert Suchanek, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, é articulista e colaborador internacional do EcoDebate
EcoDebate, 20/09/2012
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Achei interessante o tema abordado por Norbert. Tenho tambem observado a situação paradoxal e fragmentada dos movimentos ambientais. Parece que maior parte deles alega proteger a natureza contra a atividade econômia, que já é por si um erro, porque a atividade econômica é indispensável para a sobrevivencia do ser social. Fico pensando, como cidadão, que precisamos de energia, precisamos de minérios, precisamos infratestrutura para atender necessidades mínimas que são proporciondas pela atividade econômica. Se somos um país pobre (ou emergente) precisamos mais alimentos, mas bens e serviços para melhorar as condiçoes de vida digna. Sustentabilidade implica em considerar os aspectos economicos, sociais e ambientais de forma integrada. Então, criticar uma obra para produção de energia implica em negar à sociedade o abastecimento de energia, e assim sucessivamente. Proteger radicalmente o meio ambiente, a ponto de considerá-lo intocável seria condenar todos à morte. Precisamos de muito equilibrio para proporcionar equilibrio sistêmico. Então, falham aqueles que combatem a economia, porque ela é necessária.
No entanto, sendo a economia hegemônica, parece que ela se apropria dos conceitos de outras áreas, inclusive do discurso ambientalista, em favor de seus propósitos. Uma das estratégias economicas consiste em criar causas e movimentos ambientais visando reduzir a concorrencia e com isto aumentar os lucros. Com isto, me parece que algumas corporações incentivam a critica a soluções dos concorrentes. As empresas de energia nuclear tendem a financiar movimentos contra a construção de hidrelétricas; as empresas produtoras de agrotóxicos tendem a combater produtos geneticamente modificados; os produtores rurais norteamericanos tendem a combater o desmatamento e ampliação da fronteiras agrícolas no Brasil.
É por isso que o sistema está fragmentado em áreas específicas e uma área nao tem interesse em colaborar com aqueles que defendem soluções tecnológicas que contrariam seus interesses. Neste ponto, a Economia tambem erra. E a sociedade? a sociedade fica entre os radicais ambientalistas que protegem a sociedade e de outro lado aqueles que defendem interesses economicos particulares.
Como o tema é complexo, a solução não é só economica (que quer aumentar produção e consumo, eliminando concorrencia), não é só ecologica radical ( que quer a proteção total, desconsiderando as necessidades humanas), mas precisa levar em conta todos os componentes, em favor da sociedade.
Infelismente, o poder predominante é o do capital.