Economia de baixo carbono com inclusão social é a nossa única salvação, diz economista
[EcoDebate] Pelo menos até a primeira metade do século 21, obrigatoriamente, deverá ocorrer à transição para uma economia de baixo carbono que incorpore a dimensão social. “Será isso a nossa salvação, caso queiramos continuar dando o ar de nossa graça por aqui”. Isso é o que defende, em recente entrevista, o economista paulista Marcus Eduardo de Oliveira, especialista em Política Internacional e autor de vários artigos sobre a relação entre a economia e a ecologia.
Economia de baixo carbono faz referência à busca de menores impactos sobre o clima global, buscando alternativas energéticas, reduzindo emissões de gases e procurando a sustentabilidade.
“Já perdemos muito tempo menosprezando a atividade econômica que promove a destruição ambiental em prol de uma economia que enaltece apenas e tão somente o produto e o mercado e desdenha, sobremaneira, da condição de vida das pessoas”,diz Marcus de Oliveira.
“A cada dia que passa se faz necessário alertar a opinião pública de que uma transição para a economia verde é a nossa única salvação”, reitera o economista. “Já fomos muito incompetentes no trato dos recursos naturais, e já passou da hora de virarmos esse jogo. Produzir a qualquer custo já não faz o menor sentido. Isso é parte de um modelo econômico que se mostrou completamente fracassado e criminalmente assustador, cujos resultados estão expressos aí, nessa completa desestruturação climática”.
O modelo econômico moderno, nas palavras do professor de economia Marcus Eduardo de Oliveira, deve, necessariamente, “incorporar inovação tecnológica e desenvolvimento de produtos com menor emissão de gases. Chegou a hora de todos os países viverem sob a era da ´descarbonização´”.
Para isso, o modelo mais plausível e urgente é “adotar medidas que diminuem a produção de eletricidade oriunda de termoelétricas de carbono e encontrar energias renováveis, como a nuclear, a eólica, a solar fotovoltaica, por exemplo. O fato é que não podemos mais desperdiçar energia”, diz o economista.
Desperdício de recursos
No caso específico do Brasil, o economista chama a atenção para o enorme desperdício de água e energia. Uma simples torneira pingando consome 1400 litros de água por mês. Marcus de Oliveira aponta um dado estarrecedor: “De toda a água produzida no País, 46% são “perdidas” pelos ralos. Na Europa, essa perda não chega a 10%. Isso além de ser um crime ambiental é um risco para todos nós”.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA) são retirados dos rios e do subsolo no Brasil 840 mil litros de água a cada segundo. Desse total retirados dos mananciais brasileiros, 69% vão para a irrigação, contra 11% para o consumo urbano, 11% para o consumo animal, 7% utilizados pelas indústrias e 2% pela população rural. Nesse aspecto, o economista salienta que “um percentual considerável de perdas estão nas cidades brasileiras que possuem redes malconservadas. Há casos conhecidos de cidades que chegam a perder até 75% de água”.
Não muito diferente disso é que se perde em relação à energia, tanto no uso residencial quanto no industrial. O economista alerta que ao combater o desperdício de água estamos ao mesmo tempo combatendo a perda de energia, uma vez que a luz e a água são recursos naturais que estão diretamente interligados. “Não podemos perder de vista que as usinas geradoras de quase toda a eletricidade consumida no Brasil são hidrelétricas”.
Para Marcus de Oliveira, “o verdadeiro desenvolvimento só pode ser considerado viável se contemplar o respeito ao meio ambiente, resguardando o aspecto social. Por isso, o que chamamos hoje de economia verde só faz sentido se incorporar a dimensão social, daí a importância do termo economia verde inclusiva. Adotar esse modelo de baixo carbono com uma economia voltada a atender os graves conflitos sociais é a nossa única salvação”. Por fim, o economista ainda ressalta que “se os principais países não buscaram estratégias para dirimir a grave crise social e ambiental o futuro de todos estará em risco”.
** Marcus Eduardo de Oliveira é Economista e Professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br
EcoDebate, 17/09/2012
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