A ordem não linear da natureza, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Um sistema é um conjunto de objetos ou atributos e das relações que se encontram organizadas para executar uma função particular (BERTALANFY, 1975). O corpo humano é organizado em sistemas (sistema digestivo, respiratório, cardiovascular, etc). E a natureza também é organizada em sistemas (ecossistemas) ou biomas que representam ecossistemas específicos, que apresentam conjuntos de relações hierarquizadas entre elementos físicos, biológicos e antrópicos, como Cerrado ou Pantanal.
Um sistema é um conjunto de unidades com relações entre si. Como um casamento ou uma relação empregatícia estabelecem determinados tipos de relações entre indivíduos, e neste sentido podem ser interpretados como sistemas ou subsistemas. Ou seja, quase tudo no universo se enquadra dentro da possibilidade de aplicação da teoria do caos ou da não linearidade na explicitação dos fenômenos.
A palavra “conjunto” implica que as unidades possuem propriedades comuns. O estado de cada unidade é controlado, condicionado ou dependente do estado das outras unidades (LOVELOCK, 1979). Exemplificando, o mau humor de uma chefia pode contaminar uma organização ou o mau humor de um componente de um casal pode e acaba influenciando o próprio casamento.
A sociedade humana designa por riqueza material a todos os conjuntos de materiais disponibilizados para serem transformados em modos de sustento ou acumulação de riquezas sem questionar que a cultura corresponde ao conjunto de significados que os serem humanos atribuem a suas experiências de vida e este conceito de riqueza é apenas uma dimensão, da mesma forma que a decodificação cartesiana ou linear das leis da natureza é apenas uma versão.
E a riqueza biológica é representada pela biodiversidade, que por ser pouco conhecida, é pouco compreendida em toda a sua extensa importância. A expressão biodiversidade tem um significado. Engloba a variabilidade genética, que é a diferença existente entre indivíduos da mesma espécie, como a cor dos olhos, por exemplo. Expressa também a diversidade biológica que significa a quantidade de espécies e por conseqüência de genes e cadeias genéticas.
A biodiversidade também integra o conceito de processo ecológico, que descreve todas as reações que ocorrem dentro de uma cadeia de vida. Ecossistema pode ser definido como a aplicação da teoria geral dos sistemas do biólogo alemão do século XIX Ludwig Von Bertallanfy, a ecologia. Desta forma significa todas as relações entre os indivíduos e seus atributos, envolvendo matéria, energia e informação.
De todos estes aspectos, a diversidade genética talvez represente a expressão maior do patrimônio natural, representando milhões de anos de evoluçõ, concentrados no espaço e no tempo, e que podem representar um patrimônio imensurável e intangível de codificações genéticas com suas devidas atribuições.
Um exemplo de utilização da biodiversidade pode ser descrito como a praga que assolou os arrozais asiáticos na década de 70 e devastou populações asiáticas por falta de alimento. Pouco tempo depois, cientistas descobriram que o cruzamento com espécies de arroz não-utilizadas para plantio nas monoculturas atribuía resistência ao cereal. Esta é uma boa forma de avaliar o potencial da biodiversidade.
A forma que este texto encontrou para argumentar a validade de um novo paradigma nas ciências naturais e particularmente na questão ambiental, foi relacionar princípios, dentro de um contexto de ética e discussão epistemológica, entre ciências que aparentemente não tem qualquer intimidade, mas que sendo aos poucos discutidas mostram total analogia, como forma argumentativa de estabelecer novos parâmetros para o que se produzam novas abordagens e amplificação de conceitos.
De acordo com o artigo 1º da Resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 001/86, impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causado por qualquer forma de matéria ou energia resultantes das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições sanitárias do meio ambiente, a qualidade dos recursos ambientais.
Esta é a definição oficial e legal de impacto ambiental. Mas traduzindo para o nosso cotidiano de vida, significam quaisquer conseqüências de ações do homem que acabam por influir na qualidade de vida do próprio homem.
Os impactos ambientais podem ser positivos, como por exemplo uma estrada que produza o escoamento da produção. Sem dúvida é um impacto favorável. Mas normalmente associamos a idéia de impacto ambiental com qualquer ação danosa, que interfira e prejudique a qualidade de vida. Como um bom exemplo temos a fumaça e a fuligem produzidos pelas queimadas indiscriminadas que tem sujeitado o estado do Mato Grosso a um enorme desconforto, com repercussões danosas na saúde das populações.
A idéia de impacto ambiental é simples. Se por exemplo, antes da instalação de uma pedreira o nível de particulados no ar é de 1 grama por unidade volumétrica e depois da instalação da pedreira sobe para 5 gramas por unidade volumétrica, este incremento de 4 gramas por unidade volumétrica no nível de particulados no ar, constitui um impacto ambiental.
Impacto este que é produzido pela ação antrópica, isto é do homem, atinge o próprio homem e altera para pior as condições de qualidade de vida das populações, caso da maioria dos impactos ambientais que são conhecidos e descritos.
A legislação prevê 3 tipos de medidas para controlar os impactos ambientais: a mitigação (que é a diminuição do efeito do impacto), a atenuação (que é a diminuição do próprio impacto) e a compensação (quando não se pode evitar um impacto, como desmatamento para construir uma estrada, se cria uma área de reserva florestal para compensar aquela que será desmatada).
No caso do aumento dos particulados no ar, por causa da instalação de uma pedreira, existe uma solução simples: a instalação de filtros para evitar a disseminação dos particulados.
Neste momento alguns dirão, mas custa dinheiro, ou encarece o empreendimento da pedreira. A sociedade como um todo deve optar. Ou aceita a contabilidade sócio-ambiental, visando agregar aos empreendimentos os custos pela proteção ambiental, que nada mais é do que a compatibilização das iniciativas humanas com as características dos meios físico e biológico. Ou aceita ficar pagando os custos sociais, principalmente na área da saúde, pela crescente e contínua degradação ambiental.
Será que é possível fazer uma relevante avaliação de todos os impactos ambientais de uma intervenção antrópica sem utilizar uma metodologia sistêmica e uma abordagem não-linear? O fato é que muitas análises de impactos ambientais são exaustivas mas quando da execução da intervenção ocorrem muitos fatores não previstos pela análise ambiental dos impactos.
Parece claro que a não linearidade consegue descrever um padrão de ordem naquilo que sempre foi interpretado como desordem ou aleatoriedade. Não que todos os fenômenos devam necessariamente apresentar padrões. Na própria epígrafe deste trabalho se apresenta uma conceituação de modelagem, particularmente utilizada na ciência, para que se entenda como funciona a ciência acadêmica propriamente dita.
BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. 2. ed. Petropolis: Vozes, 1975, 680 p.
LOVELOCK, J. E. Gaia: A new look at life on the earth. New York. Oxford University Press, 157p, 1979.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 13/09/2012
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