Fatores limitantes antropogênicos, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Existem fatores limitantes de natureza antropogênica como a erosão dos solos pelo manejo inadequado, isto prejudica todo ecossistema alterando drasticamente as possibilidades de armazenagem e troca dos nutrientes, o uso do fogo como técnica de manejo da vegetação. O fogo destrói boa parte da microflora e microfauna dos solos, que é responsável por vários ciclos biogeoquímicos, como as bactérias nitrificantes, que retiram nitrogênio do ar e fixam o elemento no solo para utilização pelos vegetais de qualquer origem, tanto nativos quanto cultivados.
Estes elementos de microflora e microfauna são muito importantes no equilíbrio biogeoquímico e muito afetados tanto pelos manejos territoriais através das queimadas ou coivaras, que são um método tradicional de manejo já utilizado pelos índios nativos. O uso extensivo de pesticidas, fungicidas e herbicida também afeta muito tanto a microflora e microfauna como os pequenos animais e plantas em geral.
Estas relações implícitas são absolutamente conhecidas de todos os atores envolvidos no processo e totalmente negligenciadas para a oportunidade que se tornem uma ruptura (a gota de água no copo) e exijam outra visão e outra atitude diante do problema. Há consenso que com a aplicação de certos defensivos agrícolas ocorre quase uma esterilização biológica do elemento físico solo. Episódios de desaparecimento de abelhas ou insetos em geral para realizar a polinização das culturas são descritos de forma cada vez mais frequente. No entanto, incrivelmente, se espera uma situação de ruptura (que não é o caos, sendo o caos entendido como fenômenos não lineares) para adotar novas ações, procedimentos e estratégias.
O ”agribusiness” brasileiro tem uma tendência marcante em se dirigir no rumo das monoculturas absolutas. Monocultura de animais e plantas. Reconhece muitos dos problemas advindos desta postura, mas em nome de uma suposta “racionalidade” imposta pela lucratividade, não consegue alterar seus paradigmas de produção.
Já se expôs com suficiente argumentação que os elos de uma corrente dependem do elo mais fraco. A resistência dos ecossistemas é formada pelas resistências do conjunto de elementos que o compõe. Se tivermos vários animais, uma espécie é mais resistente a determinado tipo de enfermidade e outra a outros tipos de doenças e a resultante é que o conjunto do ecossistema consegue ter a resistência da soma de resistências dos elementos que o compõe. Assim é com as plantas.
Isto lembra muito os princípios de permacultura. Os australianos Bill Mollison e David Holmgren, criadores da Permacultura, lapidaram esta expressão nos anos 70 para referenciar “um sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes úteis ao homem”. Estavam buscando os princípios de uma forma de agricultura que fosse estável, equilibrada, permanente e sustentável.
Logo depois, o conceito evoluiu para “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, como resultado de um salto na busca de uma cultura permanente, envolvendo aspectos éticos, socioeconômicos e ambientais. A permacultura oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a manutenção de ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo a que eles tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. Alimento saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável para criar culturas permanentes.
Está implícito neste conceito a ideia da resistência natural dos ecossistemas, que é formada pela adição das resistências das diversas espécies e populações. Se denomina “design” o conjunto de tarefas de planejamento consciente para tornar possível a utilização da Terra sem desperdício ou poluição; a restauração de paisagens degradadas e o consumo mínimo de energia.
A ação da permacultura começa por áreas agrícolas com o propósito de reverter situações dramáticas de degradação sócio-ambiental. No entanto, os sistemas permaculturais devem evoluir, com designs arrojados, para a construção de sociedades economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente sensíveis, dotadas de agroecossistemas que sejam produtivos e conservadores de recursos naturais.
Esta escola exige uma mudança de atitude que consiste basicamente em fazer os seres humanos viver de forma integrada ao meio ambiente, alimentando os ciclos vitais da natureza. Como ciência ambiental, reconhece os próprios limites e por isso nasceu amparada por uma ética fundadora de ações comuns para o bem do sistema Terra.
Como parte dos sistemas vivos da Terra e tendo desenvolvido o potencial para impactar a sustentabilidade do planeta como já assinalado por TER STEPANIAM (1970), nós temos como missão criar agora uma sociedade nova. Esta sociedade depende não apenas da técnica e dos equilíbrios físicos, químicos ou biológicos, mas também de justiça, igualdade e fraternidade, sinergética com a natureza e de maior colaboração entre os vários povos, culturas e religiões.
Esta nova abordagem busca estabelecer relações harmoniosas entre as pessoas e os elementos da paisagem. A permacultura é abrangente e holística e busca princípios e métodos de design para orientar padrões naturais de crescimento e regeneração, em sistemas perenes, abundantes e auto-reguladores.
A utopia da vida, com todos os elementos e relações que se descreve, é muito maior do que o simples Terraplaneta Terra, pois deve haver vida ainda que de outras formas, em outras galáxias ou mesmo dimensões, e portanto a vida é muito importante e complexa para ser tratada desta forma. A complexidade pode ser interpretada como um conjunto de simplicidades reunidas em uma série, sequência ou conjunto de relações onde produz novos fatores ou não. Que pode ser modelada em equações lineares ou em geometrias fractais necessitando abordagens não lineares.
ODUM (1988) já explicita estresse antropogênico e resíduos tóxicos como fatores limitantes para sociedades industriais. Até mesmo o equilíbrio biogeoquímico do ozônio é citado. Além de poluição térmica e a questão dos pesticidas.
O “The Natural Step”, ainda é relativamente complexo quanto a aplicação cotidiana por parte das empresas, sendo proposto por uma organização independente que apresenta uma metodologia para atingir sustentabilidade empresarial. Considera a concentração das substâncias extraídas da crosta terrestre, concentração das substâncias produzidas pela sociedade, degradação do meio físico e do meio biológico e necessidades humanas (BARBIERI, 2004). Mas seu princípio de funcionamento envolve claramente a questão suscitada pelos defensivos agrícolas e sua forma de uso.
TER STEPANIAN, G. Beginning of the Technogene. Bulletin IEAG, nº 1, ago. 1970.
ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental organizacional: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2004.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 11/09/2012
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