‘Todas as fibras de amianto são cancerígenas’, diz pneumologista na audiência pública
“Todas as fibras de amianto são cancerígenas”, afirmou, nesta sexta-feira, o médico pneumologista da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e professor da Santra Casa da capital paulista Jeferson Benedito Pires de Freitas, durante audiência pública promovida pelo Supremo Tribunal Federal para debater o uso do amianto no Brasil.
Ele disse que, embora as estatísticas sobre os efeitos do produto sejam deficientes no país, uma vez que praticamente só se baseiam na notificação de casos em indústrias que lidam com o produto, 80% dos casos de mesotelioma – câncer que ocorre nas camadas mesoteliais da pleura, pericárdio, peritônio e da túnica vaginal do testículo, mais comum em homens que em mulheres – são causados pelo amianto.
Não por acaso, segundo ele, dos 977 casos de morbidade dessa doença notificados no país entre 1996 e 2010, a maioria ocorreu nas áreas em que se localizavam indústrias que manipulam amianto, aí se destacando o Estado de São Paulo, que concentrava o maior número delas, seguido pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Banimento
O professor Jeferson de Freitas afirmou, também, que o banimento do amianto no país não vai eximir os órgãos de saúde de continuarem acompanhando os trabalhadores e demais pessoas expostas ao produto enquanto em uso no país, pois as consequências da inalação de fibras de amianto poderão ocorrer somente depois de 20 a 30 anos. Por isso, ele considerou “um verdadeiro absurdo” ações ajuizadas na Justiça contra a Portaria nº 1851/2006 do Ministério da Saúde, que obriga as indústrias do setor a enviarem dados sobre os trabalhadores que empregam.
Ele disse que a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), entidade que congrega mais de 75 instituições de pesquisa e 7 mil associados no país, entre pesquisadores e sanitaristas, e também signatária da Declaração de Posicionamento do Comitê de Políticas Conjuntas da Sociedade de Pneumologia sobre Amianto, defende o banimento da utilização desse produto em todo o Brasil.
O pneumologista concluiu sua exposição lendo uma manifestação da Abrasco sobre o tema, encaminhada ao Ministério da Saúde, na qual defende “o banimento da extração, comercialização e utilização do amianto no Brasíl” e manifesta apoio às entidades científicas e movimentos sociais que lutam por sua proibição em âmbito mundial”.
“As evidências acumuladas ao longo de muitas décadas são inequívocas quanto ao efeito nocivo à saúde dos trabalhadores e da população, especialmente na ocorrência de câncer de pulmão e outas doenças graves”, afirma ainda a entidade, na manifestação. “Alertamos que o princípio da precaução e a defesa da saúde pública devem ser utilizados em favor do banimento do amianto em todo o território nacional”.
“Nosso país não deve ser refém de interresses mesquinhos de poderesosos grupos econômicos mobilizados para acumulação de vultosos ganhos de capital que promovem doença, sofrimento e morte de trabalhadores e cidadãos”, afirma, ainda, a entidade. “Saúde é desenvolvimento, e o Brasil, 7ª economia mais rica do planeta, precisa utilizar a excelência científica do conhecimento disponível em favor da cidadania e do bem-estar da nossa população”.
Por fim, a Abrasco afirma que a audiência pública em curso no STF “é uma oportunidade ímpar para que a indústria do amianto e os grupos econômnicos que apoiam seus interesses expressem sua responsabilidade social e posicionem globalmente o nosso país como defensor da saúde e dos direitos humanos, não como dilapidador da saúde de sua população”.
Fonte: Supremo Tribunal Federal (STF)
EcoDebate, 04/09/2012
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