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O desastre de sempre: Ideb 2011, artigo de Paulo Nathanael Pereira de Souza

 

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[Correio Braziliense] É inegável que o Brasil cultiva, hoje, duas aspirações nacionais prioritárias: o fortalecimento da democracia e o desenvolvimento socioeconômico. Em ambos os casos, a educação do povo se torna indispensável pré-requisito.

E, quando se fala em educação popular, fala-se necessariamente na conclusão de um ensino básico de qualidade, com diploma dos cursos fundamental e médio (12 anos de escolaridade). O que, aliás, tem sido um sonho. Além de haver aproximadamente um milhão e meio de jovens fora da escola, estando eles em plena idade escolar, os que conseguem matrícula são, em grande parte, vítimas da reprovação e da evasão.

No ensino fundamental, o problema é menos grave, embora as taxas brasileiras sejam as mais altas da América Latina. No ensino médio, as causas se complicam porque apenas 1/3 dos concluintes do fundamental nele se matriculam e muitos dos que o fazem abandonam o curso no meio do caminho por achá-lo maçante, antiquado e discursivo.

No que estão carregados de razão. Afinal, vivemos a era da informação e temos novas gerações vidradas no saber ilustrado e digitalizado, de pouco texto e muita imagem, menos teoria e mais aplicabilidade das lições da sala de aula, sendo que, por essas e outras razões, nossas escolas funcionam ainda no passo lento dos carros de boi.

A pedagogia da integração dos saberes com a tecnologia avançada da comunicação (TV, DVD, computadores, tablet, telefone digital etc. etc.), que justificaria algum avanço no didatismo docente, está a anos luz do que se pratica nas salas de aula.

E que dizer do despreparo dos professores? São heróis do insucesso. Na sua (in) capacitação profissional, intoxicaram-se de teorias clássicas algumas, experimentais outras sem aprender, na prática, a aplicabilidade delas todas no dia a dia das aulas, pois os estágios duram uma parcela mínima da carga horária total do curso (de 10% a 20%).

O fracasso docente, medido por todas as avaliações, sejam internacionais, como as da Unesco e da OCDE, sejam nacionais, como o Saeb e o Ideb, mostra que o alunado da educação básica no Brasil se diploma, seja na 9ª série do fundamental, seja na 3ª do médio, sem saber ler e escrever com correção e clareza, ou fazer cálculos que ultrapassem as quatro operações aritméticas.

Como, pois, diante de um quadro desses, pretender que o Brasil alcance o status de nação do Primeiro Mundo (é bom lembrar que, se no PIB estamos entre os 10 países mais bem dotados, no IDH, que é o que conta hoje, nosso lugar é o 84º), e venha a ser uma democracia plena, em que o povo educado assume o protagonismo consciente da cidadania e gere com responsabilidade o seu destino?

Senhores governantes, a infraestrutura deste país é importante nos seus aspectos materiais de estradas, aeroportos etc. etc., mas depende essencialmente, para o sucesso final, da educação qualificada de todo o povo, mesmo os sem-teto e os moradores dos grotões da pátria conditio sine qua non de todo o resto.

Que os dados estarrecedores divulgados pela mídia no dia 15 do corrente mês referentes ao Ideb 2012 tenham o mérito de inquietar os brasileiros quanto ao futuro do País nos próximos anos e de inspirar os governos para a necessidade de ações de emergência capazes de tirar nossa educação do atoleiro em que se encontra. Como tenho assinalado em meus escritos: O Brasil, que sempre soube educar suas elites, jamais aprendeu a educar o povo. Vamos mudar?

Paulo Nathanael Pereira de Souza é doutor em Educação

Artigo originalmente publicado no Correio Braziliense e socializado pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4568

EcoDebate, 24/08/2012

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One thought on “O desastre de sempre: Ideb 2011, artigo de Paulo Nathanael Pereira de Souza

  • Parabéns pelo artigo, Paulo! concordo com seu pensamento.

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