Endividamento das famílias brasileiras: Incentivo ao consumo preocupa economistas; governo rebate críticas
O governo rebateu críticas sobre políticas de incentivo ao consumo, garantiu que o nível de endividamento das famílias brasileiras não preocupa e negou que investimentos tenham ficado de lado. As afirmações foram feitas em seminário promovido pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle realizado na Câmara nesta quarta-feira (22).
A preocupação do presidente da comissão, deputado Edmar Arruda (PSC-PR) é a de que o Brasil siga o caminho dos Estados Unidos e da Europa, mergulhados em uma grave crise econômica desde 2008. “Estamos utilizando uma receita que foi utilizada lá, que é incentivar o crédito, aumentar o consumo. Com isso, lá na frente, nós poderemos ter alguns problemas, como aconteceu nos Estados Unidos e na Europa”, afirmou. “Não queremos que isso aconteça. A Caixa Econômica e o Banco do Brasil estão tremendamente alavancados com a concessão de empréstimos na base de 20 vezes o seu patrimônio líquido”, completou.
O presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez de Oliveira, disse que as medidas tomadas pelo governo federal de estímulo ao consumo, por meio da facilitação do crédito e da desoneração tributária de alguns setores, foram corretas em um primeiro momento, mas não são sustentáveis.
Segundo o economista, os incentivos dados ao consumo via redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e através da política monetária preocupam de duas formas: “Primeiro porque quando o governo reduz, isenta ou faz uma alíquota igual a zero para IPI, a receita tributária diminui e a capacidade do governo de fazer obras de infraestrutura também diminui. Do ponto de vista das famílias, na medida em que o crédito acaba aumentando a níveis próximos de 50% do Produto Interno Bruto, isso também é preocupante.”
Ações estruturadas
Porém, o secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique de Oliveira, ressaltou que o governo tem tomado um conjunto estruturado de ações, visando a manter um patamar elevado de atividade econômica, por acreditar que isso favorece a tomada de decisões de investimento pelos empresários. Como exemplo, Dyogo Henrique citou a criação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais, a mudança na remuneração da caderneta de poupança, algumas reformas tributárias e o plano de concessões na área de infraestrutura, anunciado recentemente.
“Na verdade, o governo toma um conjunto de medidas em que faz parte o incentivo ao consumo, mas não é o único foco. O governo tem incentivado fortemente a ampliação dos investimentos no Brasil”, disse. Segundo Dyogo, como resultado dessa política a participação dos investimentos no PIB tem aumentado.
Quanto ao endividamento das famílias brasileiras, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, disse que os brasileiros consomem hoje 50% a mais do que há 10 anos. Entretanto, assegurou que esse crescimento do consumo vem em consonância com o aumento da renda e que ainda há espaço para crescer, se compararmos com outros países. Segundo Maciel, a maior parte do endividamento se deve ao crédito imobiliário.
Endividamento
Os economistas Adolfo Sachsida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, e Fernando Ulrich, do Instituto Ludwig Von Mises Brasil, criticaram as medidas tomadas pelo governo. Para Sachsida, as políticas monetária e fiscal vêm estimulando um mercado já aquecido, que é o imobiliário. Além disso, o governo deveria gastar melhor os recursos públicos, segundo ele. Já Ulrich disse que o que preocupa não é o nível de comprometimento da renda das famílias, hoje em cerca de 22%, mas a velocidade com que vem crescendo.
Edição – Rachel Librelon
Matéria da Agência Câmara de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 23/08/2012
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