O futuro do Baixo Parnaíba maranhense, artigo de Mayron Régis
[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] Afora algum problema de saúde desenvolvido recentemente, o Wilson que vemos hoje pouco difere do Wilson de três anos atrás. Mora na mesma Rua de Urbano Santos. Distribui aqui e acolá uma risada irônica sobre qualquer assunto, preferencialmente, quando se refere à politica dos municípios de Urbano Santos e Belágua. Ele pretende levar projetos produtivos para a sua propriedade no município de Belágua. Os pequenos proprietários acalentam uma chance para provarem a sua capacidade e no caso de Wilson essa capacidade rima com criação de galinha caipira e com plantio de melancia.
Nas primeiras idas do Fórum Carajás a Urbano Santos, Baixo Parnaiba maranhense, para o projeto de manejo de bacurizeiros no povoado de São Raimundo, no ano de 2010, o Wilson assumia a personalidade de crítico da sociedade civil organizada, essa sociedade civil que postula sobre tudo em quanto, mas na hora do pega pra capar, simplesmente, desaparece. Ele assessorou a diocese de Brejo na questão agrária e em mais de dez anos de assessoria acompanhara mais conflitos agrários por todo o Baixo Parnaiba que qualquer um com mais tempo de serviço.
Em suas críticas havia certo grau de desilusão e de ceticismo. Havia também uma vontade de aprender, pelo visto, em razão dos anos em seminário e andando tanto tempo com padres. É tanto que em diversas ocasiões convidou a equipe do Fórum Carajás para comparecer em sua propriedade. As vezes que conversara sobre o manejo de bacurizeiros em São Raimundo dentro de sua casa exerceram uma provocação. Ele possuía uma terra em Belágua, município vizinho a Urbano Santos, Barreirinhas, Morros e São Benedito do Rio Preto. Quem sabe, não daria certo um projeto como esse?
Aos poucos, entre 2011 e 2012, Wilson levou em frente a ideia de tocar a sua propriedade como uma área produtiva. Ele eliminou o número exagerado de brotações de bacurizeiro e investe em criação de mais de mil frangos caipiras por mês e na produção de melancia. Largar a cidade de Urbano Santos para viver do que a sua propriedade produzir figura entre seus propósitos futuros.
Arrisca-se quem adivinha o futuro. Pode ser que a adivinhação leve a pessoa a uma parte obscura do futuro. Em se tratando do Baixo Parnaiba maranhense, os cenários apontavam para saídas que levam a exclusão. Nem a monocultura de eucalipto e nem a monocultura de soja, quando chegaram ao Baixo Parnaiba maranhense, estampavam em suas faces um futuro de exclusão social. Anunciava-se, pelo contrário, um futuro de facilidades para as comunidades ao menos em termos de infraestrutura. Nenhuma politica pública ou privada se referia ao aspecto produtivo das comunidades; no máximo, alguém que seja, quer fosse um politico interiorano, quer fosse um capataz da Paineiras, cobrava das comunidades um percentual do que produziam.
Não havia estradas que prestassem em Urbano Santos. O Messias declarou isso enquanto guiava a caminhonete que a prefeitura emprestara à equipe do Fórum Carajás para transportar mudas de bacurizeiro de São Raimundo para Mangabeirinha e Juçaral. Essa situação mudou drasticamente depois que as empresas de reflorestamento assumiram o papel de construtor de estradas dentro de quadriláteros que atendiam suas áreas de plantio. A estrada os conduzia por plantios da Suzano na comunidade de Bonfim, município de Anapurus. Antes de Bonfim, Messias, em cada povoado, pedia um saco de farinha para uma família. Qualquer um se envergonharia de pedir, mas não Messias que por anos carregou gente viva e gente morta em Urbano Santos. Através de suas súplicas, ele se deleitava e deleitava a todos com sua pobreza.
As comunidades de Boa União, São Raimundo, Bom Principio e Bracinho se envergonham do estado calamitoso da estrada por onde trafegam. Acaso aceitassem que as empresas de reflorestamento desmatassem as suas Chapadas quem sabe a estrada estaria coberta de piçarra. Como não trocaram as Chapadas por estradas e por empregos temporários e como a prefeitura de Urbano Santos não se digna a raspar e erguer pontes, as comunidades permanecem encalacradas naquele trecho do rio Preguiças.
Alguns diriam que o isolamento angariou a resistência contra os plantios de eucalipto. Os moradores de Bracinho, comunidade em conflito aberto com a Suzano Papel e Celulose, desvelam a circunstância em que confiaram na sua organização para impedir qualquer ação da empresa. A primeira história remonta a compra do Bonfim pela Suzano quando o representante da firma ao avistar um caminho perguntou ao proprietário para onde ele iria. O proprietário respondeu que era o caminho do gado beber. Assim o senhor Rui definia Bracinho. Logo depois o Lourival, capataz da Suzano, comunica a comunidade que o desmatamento da Chapada não tardaria e que só existia um jeito de não ocorrer o dito cujo, a comunidade constituir uma associação e lutar por seus direitos. Acataram a sugestão do “bem-intencionado” Lourival.
O exemplo de Bracinho, assim como o exemplo do Polo Coceira, município de Santa Quitéria, dimensiona a importância de que a comunidade crie uma associação para tratar dos assuntos de interesse mais geral, caso da regularização fundiária. Segundo Wilson, em Urbano Santos, conta-se com poucas associações para realizar um trabalho de mão cheia. Ele listou São Raimundo e Surrão.
Diferente da afirmação que a Suzano dialoga com as comunidades, afirmação feita durante a audiência pública de Chapadinha e pela assessoria da empresa, o que se depreende desse caso mais recente e de tantos outros devidamente postos para escanteio é que a empresa foge de questionamentos públicos.
A jornada pelo interior de Urbano Santos se encerraria em Marçal dos Onça, mas antes pousariam em Juçaral, onde a comunidade desenreda projetos de criação de galinha caipira e manejo de bacuri com apoio do Casa (Centro de Apoio Sócio-Ambiental). A dona Teresinha, parteira e agente comunitária de saúde, indicara a comunidade de Juçaral para que se apropriasse de projetos como o de manejo de bacuri. Essa indicação se deu pelo cenário de pobreza e exclusão que vislumbrara.
As pessoas estão a mercê das mesmas perguntas como se estas as obrigassem a responde-las sem se dar conta de que foram respondidas há muito tempo. O que se pergunta? O que se quer saber? O futuro prega peças em todos aqueles que anseiam adivinha-lo.
* Mayron Régis, Articulista do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).
** Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.
EcoDebate, 01/08/2012
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