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Diabetes atinge mais mulheres do que homens no Brasil

 
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A má alimentação é um dos fatores que mais têm colaborado para o aumento do número de casos de diabetes na população brasileira. Dados do Ministério da Saúde de maio de 2012 revelam que no Brasil a população adulta atingida pela doença é de 5,6%, sendo mais mulheres (6%) do que homens (5,2%). Entre os idosos com mais de 65 anos, 21,5% sofrem com diabetes. O aumento de peso é um grande vilão na propagação da doença – a população brasileira acima do peso aumentou de 43% para 49% em cinco anos. Estudos comprovaram que o diabetes tipo 2 – também chamado de diabetes não insulinodependente ou diabetes do adulto, correspondente a 90% dos casos – está totalmente associado ao excesso de peso.

Em 2011 mais da metade da população brasileira estava acima do peso. Foram entrevistados 54 mil adultos em todas as capitais e também no Distrito Federal, entre janeiro e dezembro. O aumento das porcentagens de pessoas obesas e com excesso de peso atinge tanto a população masculina quanto a feminina. Em 2006, 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres estavam acima do peso ideal. Atualmente, as proporções subiram para 52,6% e 44,7%, respectivamente. Das capitais do Brasil, o Rio de Janeiro é a quarta cidade com maior índice de diabéticos: 6,2% da população.

Manter uma alimentação saudável e praticar atividades físicas regulares são alguns dos grandes desafios para a população se manter longe do diabetes. O diabetes tipo 2 (cerca de 90% dos casos) ocorre geralmente em pessoas obesas, com mais de 40 anos de idade, embora atualmente atinja com maior frequência jovens, em virtude de maus hábitos alimentares, sedentarismo e o estresse da vida urbana. Em entrevista ao Informe Ensp, a nutricionista Sueli Rosa Gama – que coordenou atividades na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) em alusão ao Dia Nacional do Diabetes – falou sobre a importância de manter uma boa alimentação para evitar a doença, sobre os benefícios de ações de promoção da saúde em relação ao diabetes e sobre os perigos da doença, entre outros assuntos. Confira, abaixo, a entrevista.

Que alimentação é indicada para os diabéticos?

Sueli Rosa Gama: As pessoas diabéticas devem se alimentar com grãos integrais, hortaliças, leguminosas e frutas variadas; utilizar produtos lácteos de baixo teor de gordura; consumir mais carnes brancas que carnes vermelhas, em quantidades adequadas (duas porções por dia), e evitar carnes processadas; eliminar as gorduras trans, dando preferência a óleos e azeites; evitar farinhas refinadas e refrigerantes; e também reduzir ou retirar o açúcar simples, podendo substituí-lo pelos adoçantes. Tudo isso é indicado.

Realizar de quatro a seis refeições diárias, em horários regulares, para evitar sintomas de hipoglicemia ou hiperglicemia; consumir pouco sal, preferindo as ervas e especiarias para o tempero dos alimentos; ingerir água diariamente em quantidade adequada (seis a nove copos por dia); e evitar o consumo de bebidas alcoólicas são medidas fundamentais para controlar a doença. Uma boa dica também é usar a pirâmide alimentar como modelo de alimentação saudável, utilizando todos os grupos alimentares nas proporções e porções, retirando o grupo dos alimentos ricos em açúcar simples.

Quais os perigos do diabetes?

Sueli: O diabetes é uma doença que causa impacto na qualidade de vida dos indivíduos e de suas famílias em virtude de suas complicações e da mortalidade prematura. Causa inúmeros danos a diferentes órgãos e sistemas do nosso corpo. As doenças cardiovasculares são as principais complicações. Aumenta o risco de desenvolver doenças ateroscleróticas, doença isquêmica do coração, acidente vascular encefálico e doença arterial periférica. Também aumenta o risco de desenvolver insuficiência renal, retinopatia diabética, cegueira e ulcerações nos pés.

Quem são as pessoas mais propensas a ter a doença?

Sueli: As pessoas obesas são as mais propensas a ter diabetes mellitus tipo 2, como evidenciaram e comprovaram vários estudos da literatura. Também, indivíduos com um elevado padrão alimentar, rico em carnes vermelhas e processadas, doces, batatas fritas e grãos refinados, como comprovado por estudos longitudinais. Ou, ainda, indivíduos com história familiar de diabetes mellitus 2, hipertensão arterial, baixo nível de colesterol HDL e elevados níveis de triglicerídeos também estão no grupo de risco para o desenvolvimento da doença.

Como evitar o diabetes?

Sueli: Intervenções preventivas efetivas relacionadas a mudanças de estilo de vida devem ser estimuladas para evitar o aparecimento da doença, como: redução do peso, de 5% a 7% em pessoas com sobrepeso e obesas; realização de atividade física moderada de forma regular; redução de 500 a mil calorias na ingestão calórica diária; eliminação do consumo de gorduras trans; uso regular de gorduras poliinsaturadas (óleos, azeites); aumento do consumo de grãos integrais, hortaliças, leguminosas, frutas, produtos lácteos de baixo teor de gordura; e diminuição do consumo de carnes vermelhas, carnes processadas, refrigerantes e farinhas refinadas.

Qual é a diferença da classificação do diabetes (tipo 1 e tipo 2)?

Sueli: O diabetes mellitus tipo 2, também chamado de diabetes não insulinodependente ou diabetes do adulto, corresponde a 90% dos casos de diabetes. Ocorre geralmente em pessoas obesas com mais de 40 anos de idade, embora na atualidade se veja com maior frequência em jovens, em virtude de maus hábitos alimentares, sedentarismo e o estresse da vida urbana. Nesse tipo de diabetes encontra-se insulina; sua ação, porém, é dificultada pela obesidade, o que é conhecido como resistência insulínica, uma das causas de hiperglicemia. Por ser pouco sintomático, o diabetes, na maioria das vezes, permanece por muitos anos sem diagnóstico e sem tratamento, o que favorece a ocorrência de suas complicações no coração e no cérebro, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes.

O diabetes mellitus tipo 1 é também conhecido como diabetes insulinodependente, diabetes infanto-juvenil e diabetes imunomediado. Nesse tipo de diabetes a produção de insulina do pâncreas é insuficiente, pois suas células sofrem o que chamamos de destruição autoimune. Os portadores de diabetes tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais. Há risco de morte se as doses de insulina não são aplicadas diariamente. O diabetes tipo 1, embora ocorra em qualquer idade, é mais comum em crianças, adolescentes ou adultos jovens.

Quais os principais sintomas e sinais que uma pessoa que adquiriu o diabetes apresenta?

Sueli: Em uma pessoa que adquiriu diabetes e não está fazendo o tratamento de forma adequada, os sintomas mais comuns são: urinar excessivamente, inclusive acordar várias vezes à noite para urinar; sede excessiva; aumento do apetite; perda de peso – em pessoas obesas a perda de peso ocorre mesmo estando comendo de maneira excessiva; cansaço, fraqueza; dormências nas extremidades das mãos, câimbras; vista embaçada ou turvação visual; além de infecções frequentes, sendo as mais comuns as infecções de pele.

Com que periodicidade uma pessoa saudável deve realizar exames para identificar precocemente o diabetes?

Sueli: Atualmente, recomenda-se a todas as pessoas saudáveis a realização anual de exame de glicemia de jejum.

Qual é a importância de atividades de promoção da saúde em relação ao diabetes. Como elas podem ajudar na prevenção e detecção da doença?

Sueli: A importância das atividades de promoção da saúde é que elas têm como objetivos gerar reflexões para o autocuidado, estimulando a autoestima, a autonomia e o exercício da cidadania. A pessoa tende a observar e a se preocupar com sintomas novos que surjam no seu corpo e a buscar recursos de saúde para a manutenção ou melhoria da sua qualidade de vida. A promoção de saúde está intimamente relacionada a atividades de educação e de intervenção nas práticas de cuidado à saúde. Devem-se utilizar metodologias que favoreçam a troca e o empoderamento de saberes para contribuir com mudanças de hábitos, que sabemos que estão fortemente ligados aos aspectos culturais, sociais e econômicos.

No Brasil, temos políticas para o desenvolvimento de programas de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças com o objetivo de mudar o modelo assistencial vigente no sistema de saúde, público e privado, para a melhoria da qualidade de vida da população. Há um esforço no sentido de programar modelos de atenção baseados na produção do cuidado, assim respondendo à necessidade da integralidade e da atenção à saúde. Mais uma vez, destaca-se a promoção da alimentação saudável e da atividade física independentemente da Área de Atenção a Saúde. Há evidências científicas que demonstram que fatores ligados à alimentação estão envolvidos com diabetes mellitus tipo 2, dentre outras doenças.

Existe algum projeto de lei para pacientes diabéticos no Brasil? Os medicamentos para pacientes com diabetes são gratuitos?

Sueli: Os portadores de diabetes têm direito à concessão de uma série de benefícios já previstos em lei para outras doenças. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou proposta que altera uma série de normas, garantindo aos portadores de diabetes o direito de sacar dinheiro do PIS-Pasep e do FGTS, além de garantir o recebimento de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez sem carência. A proposta também dá aos diabéticos direito a passe livre no transporte público (projeto de Lei Complementar PLS 389/08).

No que diz respeito a medicamentos para os diabéticos, o Programa Farmácia Popular oferece, desde 2004, descontos de até 90% para 108 tipos de medicamentos. Em fevereiro de 2011 os medicamentos para diabetes e hipertensão do programa passaram a ser gratuitos. Segundo o Ministério da Saúde, para ter acesso aos remédios gratuitos, é preciso apresentar em uma farmácia conveniada o CPF, um documento com foto e a receita médica, seja de médico da rede pública, seja de médico particular.

O que é o diabetes?

Sueli: O diabetes mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. Os carboidratos sofrem processo de digestão e no intestino se transformam em açúcar, chamada glicose, que é absorvida para o sangue. A glicose no sangue é usada pelos tecidos como energia. A utilização da glicose depende da presença de insulina, uma substância produzida nas células do pâncreas. Quando a glicose não é bem utilizada pelo organismo ela se eleva no sangue, o que chamamos de hiperglicemia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que valores de glicose acima de 126mg em jejum são indicativos de diabetes. Valores acima de 200mg em qualquer ocasião fazem o diagnóstico.

O que é índice glicêmico?

Sueli: O índice glicêmico (IG) é o potencial que um determinado alimento tem de aumentar a carga de açúcar no sangue. O consumo de alimentos ricos em carboidratos, que são digeridos rapidamente, é responsável por um rápido aumento da concentração de glicose sanguínea, sendo, portanto, de alto índice glicêmico. Os alimentos que contêm carboidratos de digestão lenta e liberam glicose gradualmente na corrente sanguínea são os de baixo índice glicêmico. Os alimentos de baixo índice glicêmico devem ser os consumidos em maior quantidade, pois nos mantêm satisfeitos por mais tempo e ajudam no combate à obesidade.

Já o consumo de alimentos com alto índice glicêmico faz o açúcar no sangue se elevar, aumentando também a quantidade de insulina na corrente sanguínea. Essa prática pode, em longo prazo, sobrecarregar o pâncreas, causando pré-diabetes ou diabetes tipo 2. O índice glicêmico é influenciado por fatores como: natureza e quantidade do tipo de carboidrato do alimento; presença de fibras no alimento; forma do preparo do alimento; tamanho das partículas do carboidrato; e presença de outras substâncias, como proteínas e gorduras.

Entrevista por Tatiane Vargas, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 05/07/2012

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