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Saudades da Guerra Fria? crônica de Paulo Sanda

 

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[EcoDebate] Já faz algum tempo que venho trabalhando na questão da necessidade que o ser humano tem da dualidade; explico; dualidade em outras palavras, é que tem que haver a luta entre opostos, bem e mau (ou mal, depende de como se olhar), verdade e mentira, virtude e vício, etc.

Pois bem, quando caiu o muro de Berlim foi destruída mais do que uma construção física de 28 anos que separava Berlim ocidental da oriental. O que ruiu foi o grande símbolo de dualidade que se por um lado separava o mundo em dois blocos, o capitalista e o comunista, por outro lado, unia de certa forma a humanidade em dois polos. Se é que se pode conceber que um dia houve realmente um comunismo, mas isto é outra discussão.

O mundo se tornou órfão de dualismo, que fazer então?

A decisão foi cair de vez na farra do neoliberalismo, afinal o que venceu foi a noção, ou a sem noção do livre mercado.

Mas os recentes acontecimentos paraguaios, não me referindo a autenticidade ou não dos mesmos, pois política não é muamba; bom não deveria ser; voltando ao assunto, a deposição do presidente do Paraguai Fernando Lugo, ou as notícias a este respeito, e a leitura de um artigo de Idilio Méndez Grimaldi, onde ele evoca o termo “guerra fria”, ao descrever a criminalização e marginalização da esquerda e dos movimentos sociais, que esta acontecendo no Paraguai, me deram uma luz.

O jornalista, fala em uma orquestrada democradura, de direita apoiada pelos Estados Unidos da América e alguns países da Europa.

De certa forma até concordo com ele, mas o problema vai além, esta Guerra Fria, agora não ocorre entre países, ela está dentro deles.

A predominância do capital e do mercado, contra toda e qualquer outra instituição é de tal forma violenta e robusta que nenhum silo nuclear talvez possa se comparar a isto, pois as armas do neoliberalismo capitalista, agora estão guardadas no interior de cada um de nós. Está difícil de entender né. Então vamos exemplificar.

Se antes o capitalismo X comunismo colocava pesadelos de holocausto nuclear em nós, com a proliferação de bases nucleares, ao ponto de chegarmos a conclusão que poderíamos destruir o planeta várias vezes, simplesmente porque os estadunidenses não iam com a cara dos soviéticos, hoje pesadelo é pior.

No caso das armas nucleares, elas estavam ali a milhares de quilômetros da maior parte de nós. Davam medo sim, mas logo em seguida conseguíamos esquecer do assunto e até dormir.

Mas as armas de hoje são piores, a menor ameaça ao mercado, ele aperta o botão de alerta. E este botão ativa circuitos mais eficientes ainda que a Arpanet criada pelo governo estadunidense na época da guerra fria.

Aquela que anos mais tarde deu origem a nossa rede mundial de computadores, a internet.

Através da arpanet, o Estados Unidos mesmo que um ataque nuclear soviético interrompesse parte de seu sistema de comunicação, ou partes, ela era de tal forma “inteligente” que nada poderia impedir de lançar a retaliação, garantindo assim o extermínio de nosso planeta.

Mas as armas desta guerra agora são mais sofisticadas, ao apertar o botão de alerta, o mercado coloca cada cidadão do mundo dito civilizado em estado de alerta máximo! Se os ataques contra ele se consolidarem, estes cidadãos “civilizados” sabem que será o início da “auto destruição em massa”, mas pior que isto, será a destruição dele mesmo, como se houvesse uma bomba dentro de cada um de nós. E esta bomba será detonada se derrubarem o mercado.

O sinal vermelho, está em vários lugares, mas o índice por excelência é o das bolsas de valores de todo mundo.

“Se o sistema cair, como vão pagar suas contas amanhã? Onde abastecerão seus carros? Não vai mais ter Miami para passear?”

Será o fim dos tempos, nem comida teremos. Em outras palavras, o sistema do consumismo e do neoliberalismo, fez de cada um de nós seus reféns. Nem devemos tentar pensar em frea-lo, mesmo sabendo que não existem mais condições de continuar.

Pois se na guerra fria construíram armas atômicas o suficiente para acabar com o mundo várias vezes. O que temos agora também consome o planeta várias vezes.

Injustiça social então! Nem se fala, fica quieto, quem não pode comprar não é digno de viver.

Esta é a pregação que foi implantada em nós, junto com as bombas.

A guerra fria agora não se trava entre nações, mas entre as legitimas representantes do sistema vigente, as corporações de um lado, do outro a vida como um todo neste lindo planetinha azul que estamos ansiosos por destruir. Mas tudo bem, desta vez o planetinha até sobrevive, quem não passa pelo buraco desta agulha seremos nós onipotentes seres humanos.

Antes de terminar esta pequena crônica, queria pedir uma ajuda ao leitor.

Rapaz, estou quebrando a cabeça, mas ainda não consegui desarmar a bomba que está em mim. Será que alguém pode me ajudar?

Paulo Sanda é Teólogo, chefe escoteiro, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH e tem sido ativo participante das manifestações Belo Monte NÃO, em São Paulo.

EcoDebate, 29/06/2012

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One thought on “Saudades da Guerra Fria? crônica de Paulo Sanda

  • Compreendo integralmente o posicionamento do autor sobre essa bomba capitalista imersa em nossa mente e dona de nossas metas de vida. Vivemos travando lutas internas entre o que podemos e o que devemos, entre o querer consumir desenfreadamente o ultimo gadget ou se isolar e se contentar com o penúltimo gadget anteriormente comprado, e desde sempre programado para a obsolescência pela industria que conscientemente amamos odiar e outros inconscientemente odeiam amar…

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