Extrativismo sustentável ainda é pouco explorado no Cerrado
Cerrado. Foto de Renato Araújo/ABr
O extrativismo no Cerrado ainda é pouco explorado, mas pode ser mais uma opção sustentável para o bioma. O exemplo vem de um casal de Brasília, que investe nos sabores de espécies nativas para fabricar sorvetes e picolés. O proprietário da sorveteria, Bartolomeu Rodrigues, explica que eles se associaram a cooperativas de catadores, que são capacitados para colher os frutos preservando o ecossistema.
“Eu quero que aquela árvore da qual a fruta foi catada esteja no ano seguinte no mesmo local e produzindo da mesma forma. Então não pode simplesmente chegar lá depredando a natureza, tem que catar de forma racional. São colhidos 70% dos frutos, os 30% restantes ficam para os bichos, que mantêm o Cerrado vivo”.
No entanto, Bartolomeu lembra que muitas áreas de extrativismo estão sendo degradadas. Essa perda de biodiversidade é irrecuperável, já que falta tecnologia para fazer o reflorestamento da vegetação nativa do Cerrado.
A esperança começa a surgir com as pesquisas. A engenheira florestal Eneida Silveira coordena um grupo na Universidade de Brasília que conseguiu, pela primeira vez, cultivar mudas de plantas do Cerrado em laboratório, apesar da dificuldade para se propagar essas espécies pelos meios clássicos, como o uso de sementes.
“Nossa pesquisa procura desenvolver protocolos de propagação de espécies de interesse econômico, no caso medicinais ou frutíferas, para a criação de um sistema sustentável para o Cerrado. Outro ponto importante é que muitas plantas do Cerrado são medicinais, mas muito pouco estudadas sob esse aspecto. Consequentemente, se nós tivéssemos uma pesquisa avançada nesse sentido, poderíamos produzir medicamentos a partir de plantas do Cerrado”.
Entre as espécies com as quais a professora Eneida trabalha estão o marmeleiro-do-cerrado, a sucupira-preta, mama-cadela, carobinha, copaíba e canela-de-ema. A pesquisadora lembra que as estações de muita chuva e de forte seca prejudicam o desenvolvimento das plantas. Também faltam estudos que mostrem como seria o crescimento com adubo e irrigação. Além disso, as sementes perdem a viabilidade muito rapidamente.
Matéria de Akemi Nitahara e Beatriz Arcoverde, do EBC, publicada pelo EcoDebate, 26/06/2012
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