EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Mecanismos de Desenvolvimento Limpo para a Reciclagem, artigo de Roberto Naime

 

reciclagem

[EcoDebate] Todos que estão mais próximos por interesse pessoal ou razões profissionais, dos mecanismos criados pelo Protocolo de Kyoto do qual o Brasil é signatário, tem uma boa noção do chamado “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo” ou “MDL”. Este instrumento tal como é conhecido, remunera empresas, organizações ou até mesmo órgãos oficiais que comprovem a implantação de atividades que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, particularmente gás carbônico e metano.

Pois agora Petersen e Godin (2010) descrevem que o Banco Mundial do qual ambos são colaboradores, está desenvolvendo metodologia para incluir as atividades de reciclagem de resíduos sólidos urbanos domésticos em mecanismos elegíveis para a obtenção de créditos de carbono.

O Banco Mundial está envolvido com mais de 100 projetos de gestão de resíduos sólidos municipais em países em desenvolvimento, contribuindo com empréstimos ou subvenções. Suas ações mais recentes envolvem também a compra de certificados de redução de emissões de gases de efeito estufa e o repasse destas compras para fundos europeus e japoneses que atuam no setor.

O Banco considera a área de reciclagem uma das mais importantes onde metodologias para Mecanismos de Desenvolvimento Limpo ainda tem que ser aprovadas. Juntamente com um desenho desta metodologia, uma avaliação, também denominada documento de design de projeto ou “Project design document” ou “PDD” está sendo preparada juntamente com o projeto piloto que envolve a implantação de 8 plantas de segregação na área de Buenos Aires, na Argentina.

O desenvolvimento de uma metodologia de reciclagem é um processo complexo. A metodologia segue os princípios do ciclo de vida dos produtos, dimensionando as emissões gasosas envolvendo todos os passos das vida dos produtos.

O setor informal de reciclagem é um fenômeno global que envolve segundo Petersen e Godin (2010) cerca de 1 a 2% das populações urbanas dos países em desenvolvimento. As pessoas neste setor, frequentemente tem baixos retorno financeiros de suas atividades, e vivem nas próprias áreas urbanas onde trabalham.

Petersen e Godin (2010) destacam que este novo programa do Banco Mundial atua em 3 setores: gestão ambiental (resíduos sólidos primários) eficiência energética (eficiência energética nas construções e na própria iluminação pública) e ações na área de trânsito.

O dióxido de carbono proveniente da biomassa de matéria orgânicsa dos resíduos sólidos urbanos é considerado neutro em termos de clima. Os projetos em países em desenvolvimento que sejam signatários do Protocolo de Kyoto tem que cumprir com as condições de uma metodologia aprovada para se tornarem “projetos elegíveis” e possam comercializar os créditos de carbono provenientes da redução de emissões de gases de efeito estufa.

Também precisam demonstrar usando análise de investimento sua viabilidade através do cálculo das taxas de retorno interno do empreendimento e valor presente líquido. O proeto que está sendo desenvolvido pelo Banco Mundial envolve a CEAMSES (Coordenação Ecológica Áreas Metropolitanas Sociedade Del Estado) de Buenos Aires. Entidade encarregada da coleta e disposição final dos resíduos sólidos municipais de Buenos Aires e cidades vizinhas.

O projeto que está sendo desenvolvido em Buenos Aires vai contribuir para o desenvolvimento sustentável das seguintes maneiras:

  • Decréscimo no total de energia utilizada, e portanto decréscimo na emissão de gases e efeitos ambientais decorrentes da redução da extração de matérias-primas pelo reaproveitamento de material em vez do uso de matérias primas virgens;
  • Redução da demanda de áreas para aterros sanitários;
  • Geração de emprego e renda nas plantas de reciclagem operadas por membros da comunidade que vivem em vizinhanças extremamente pobres. Geralmente estas pessoas são catadores ou agentes ambientais e não utilizam qualquer proteção sanitária ou ambiental em seu trabalho. No projeto piloto de Buenos Aires, cada uma das 8 plantas vai gerar ocupação e renda para aproximadamente 40 pessoas remuneradas com o retorno gerado pela venda dos recicláveis;
  • Além da promoção de reciclagem organizada, está sendo fomentada a criação de recnologia para a produção de plásticos utililzando materiais recicláveis.

O protocolo de Kyoto prevê ações de monitoramento para avaliar a eficiência dos projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo. O pagamento pelas reduções de emissões exige este monitoramento e portanto todo projeto deve ser bastante cioso quanto à implantação de atividades de monitoramento.

A recuperação de materiais recicláveis após descarte porterior ao consumo é uma atividade muito importante e tem se mostrado viável até mesmo para os trabalhos de catadores ou agentes ambientais não organizados, embora nesta condição gere retornos financeiros muito reduzidos.

PETERSEN, C e GODIN, J. Clean Development Mechanism and development of a methodology for recycling of municipal solid waste. www.worldbank.org, http://www.iswa.org/uploads/tx_iswaknowledgebase/4-286.pdf, 2010

Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 18/06/2012

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa

2 thoughts on “Mecanismos de Desenvolvimento Limpo para a Reciclagem, artigo de Roberto Naime

  • Prezado Roberto,

    Parabéns pela apresentação esclarecedora de mais essa possibilidade de remuneração financeira (além dos ganhos ambientais). Isso para negócios relacionados à cadeia de valores dos RSU. No caso, com referência aos MDLs.

    Gostaria de perguntar ou que você indicasse fonte de informação (se possível a sua resposta) para o que segue:

    – Sabe-se que existem, basicamente, dois mercados relevantes que negociam os ditos CERs (Certificados de Redução de Emissões, em Português);

    – Que os mesmos são, predominantemente, negociados via regras do Protocolo de Kioto e/ou “Bolsa Especial de Chicago” (“paralela”);

    – Que as determinações do Protocolo de Kioto sofreriam alterações (ou finalização), ainda, no presente ano (2012);

    – Que os valores remunerados por tonelada de CO2 vêm caindo de valor ao longo dos últimos anos;

    – Como exemplo, ainda em 2008, de falava em US$ 16,00 por ton/ CO2 (referência para algumas usinas de açúcar e álcool brasileiras). Atualmente, se fala em algo em torno de US$ 5,00 por ton/CO2.

    Finalmente, uma vez que estou envolvido com avaliações econômico-financeiras que envolvem a cadeia de valores citada, pergunto:

    QUE VALOR PODERIA SER UTILIZADO COMO REFRÊNCIA POR TONELADA DE CO2 E, AINDA, DURANTE QUE PERÍODO?

    NOTA: Tais estudos consideram um negócio de longo prazo (a partir de 20 anos e, por exemplo, iniciando em 2012).

    Agradeço desde já pelo seu posicionamento e, eventuais, correções nas minhas colocações acima.

    E mais uma vez, congratulações

    Briene Camargo Neto
    briene.tecnitraf@uol.com.br

  • HOMERO GALANTE

    PARABÉNS PELO TRABALHO QUE NESSE MOMENTO E DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO PNRS,GOSTARIA DE AABER COMO OBTER MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE ” O Banco Mundial está envolvido com mais de 100 projetos de gestão de resíduos sólidos municipais em países em desenvolvimento, contribuindo com empréstimos ou subvenções. Suas ações mais recentes envolvem também a compra de certificados de redução de emissões de gases de efeito estufa e o repasse destas compras para fundos europeus e japoneses que atuam no setor.”.

    ABRAÇOS E SUCESSO !!!

    ONG ESTADO IDEAL- Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
    HOMERO GALANTE
    São Paulo – SP

Fechado para comentários.