Rio+20: Cientistas pedem que líderes mundiais tomem medidas em relação à população e consumo
Segundo cientistas, é preciso agir em relação aos níveis de população e consumo para proteger o planeta
Mais de cem academias de Ciências ao redor do mundo fizeram um apelo a líderes mundiais para que tomem medidas em relação a população e consumo na conferência Rio+20.
Eles dizem que fracassos passados nessas questões ameaçam o mundo natural e as perspectivas para gerações futuras.
Entre essas instituições está a Royal Society britânica, assim como seus pares em países em todos os estágios de desenvolvimento.
Encontros preparatórios para a conferência já estão em andamento, mas os relatos são de progresso lento nas discussões.
A declaração pública das academias de ciência é particularmente notável porque especialistas tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento uniram forças no que costumava ser um tema que provocava divisão.
“A mensagem geral é que nós precisamos de um foco renovado tanto em população quanto em consumo – não basta olhar para um ou para outro”, disse o professor Charles Godray, da Martin School, na Universidade de Oxford, que coordenou o processo de redação da declaração.
“A população global é atualmente de cerca de 7 bilhões, e a maioria das projeções sugere que provavelmente será de entre 8 bilhões e 11 bilhões em 2050”, diz a declaração.
“Os níveis de consumo global estão historicamente altos, em grande parte devido ao alto consumo per capita dos países desenvolvidos.”
Se quisermos que o bilhão de pessoas mais pobres tenha acesso adequado a comida, água e energia, dizem as academias, os países desenvolvidos terão de reduzir seu consumo de recursos naturais.
Modelos econômicos
Essas instituições dizem que isso pode ser feito sem reduzir a prosperidade, contanto que sejam seguidos modelos econômicos diferentes.
Um fracasso nessas mudanças “nos colocará no caminho de futuros alternativos com implicações graves e potencialmente catastróficas para o bem-estar humano”.
A declaração tem como base um relatório recente da Royal Society.
Países desenvolvidos são principais responsáveis por altos níveis de consumo no mundo
Os tópicos de população e consumo são ambos mencionados no texto base de um acordo que os negociadores estão discutindo no Rio.
Mas ambos aparecem de maneira mais suave do que muitos observadores gostariam.
Por hora, a previsão é de que os governos concordem em se “comprometer a considerar de maneira sistemática tendências e projeções populacionais nas políticas e estratégias de desenvolvimento nacionais, rurais e urbanas”.
Mas a cláusula que promete “mudar padrões de produção e consumo insustentáveis” até agora está sendo vetada pelos Estados Unidos e a União Europeia.
Mudanças
O novo relatório é um indicativo de como as coisas mudaram na questão da população.
Em décadas passadas, nações em desenvolvimento costumavam ver o tema com desconfiança.
Mas Eliya Zulu, diretor executivo do African Institute for Development Policy em Nairóbi, que trabalhou no recente relatório da Royal Society, disse que as percepções estão mudando.
“Muitos países africanos estão sentindo os efeitos do crescimento populacional e estão percebendo que terão de lidar com isso para continuar se desenvolvendo, assim como abordar as questões ambientais”, disse à BBC News.
“Se você olhar para um país como Ruanda, é um dos mais densamente povoados da África, e o governo acredita que uma das razões por trás do genocídio (em 1994) foi a alta densidade populacional e a competição por recursos.”
“E a crise econômica que começou no final da década de 80 fez as pessoas perceberem que para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio, você não consegue se sua população está crescendo rapidamente.”
Zulu também disse que evidências acumuladas ao longo da última década mostram que, de maneira geral, as mulheres africanas estavam tendo mais filhos do que desejavam – o que deu aos políticos um incentivo para aumentar os programas de planejamento familiar.
Negociações
Nas negociações formais, delegados de governos se reuniram na quarta-feira para intensas discussões com o objetivo de garantir um consenso sobre temas-chave.
Até o momento, houve concordância sobre somente cerca de 20% do texto.
Os encontros preparatórios deveriam terminar na sexta-feira, mas agora devem continuar ao longo do fim de semana e provavelmente até que os chefes de governo cheguem para a conferência, na próxima quarta-feira.
Sha Zukang, que coordena as discussões, estava otimista de que as diferenças seriam resolvidas a tempo.
“A determinação para trabalhar pelo bem comum é animadora… o mundo todo está olhando para nós e nós não podemos decepcionar”, disse.
Matéria de Richard Black, da BBC News, publicada pelo EcoDebate, 15/06/2012
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